Capítulo 10

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Dedicado a @JulianeSouza542. Obrigada pelo carinho com nosso casal grandão.

Bom, os meses passaram e minha relação com a esposa do deputado, Dona Graça, só me mostrou que ela era vítima não somente da ganância do marido como da filha. O que o amor não faz a uma pessoa. Na minha frente aquela lambisgoia da noiva do Leonardo não faz graça com ela, mas não fico 24 horas do seu lado, infelizmente, pois ela é uma pessoa super amável, a mãe que toda pessoa gostaria de ter.

A contra gosto continuo na organização do casamento. As vezes me pego imaginando o meu casamento, mas logo volto à realidade: nenhum homem presta e vou morrer sozinha. Quando minha vida estiver mais estabilizada terei meus filhos e nem para isso dependerei de homem graças à inseminação artificial e até mesmo a adoção. Bom! O fato é que não me vejo mais entrando na igreja com véu e grinalda.

Apenas vi o Leonardo de longe e fiz questão de não me aproximar. No escritório ele ainda leva quinzenalmente a merendinha para os deputados, mas agora outra que recebe e sempre sei quando é ele pois minha colega de trabalho não pára de dizer o quanto ele é gostoso. Ah se ela soubesse o quanto! Mas isso é coisa do passado.

Minha investigação continuou e já apurei que a filha e o pai estão juntos com outros políticos nesses esquemas sujos. Ah que nojo! Queria saber como esse povo consegue dormir a noite. Fui visitar o asilo algumas vezes e constatei que a vida dos idosos até que não é ruim, graças aos cuidados de Dona Graça que cuida deles com zelo. Em um dos diversos chás que tomamos, ela me disse que era filha única e que seus pais a tiveram já bem tarde, quando não tinham mais esperanças de filhos e que na adolescência cuidou deles já velhinhos até morrerem pouco depois de seu casamento com o deputado e, para se sentir um pouco mais perto deles, cuida dos idosos como se fossem seus pais.

Andando pela casa e pelo asilo consegui alguns documentos que comprovam o desvio por parte da bruaca e do pai e sei que a vida desses idosos poderia ser bem melhor. Descobri, inclusive que a cachorra fazia empréstimos no nome dos idosos e, quando não o fazia, desviava parte do salário deles para uma conta pessoal na Suíça.

A cada nova descoberta mais eu me enojava e mais ansiava pelo dia em que esses bandidos fossem desmascarados e presos. Temia pela saúde da Dona Gracinha, a quem passei a amar e respeitar, mas assim era a vida.

Na semana do casamento senti o comando mais agitado. Meu sexto sentido dizia que algo logo iria acontecer e me pus e em estado de alerta. Nós militares somos treinados para estarmos sempre alertas e preparados para qualquer ofensiva necessária e nesse sentido meu sexto sentido sempre me ajudou, mesmo no treinamento.

No dia do casamento além de toda correria normal de quem está na organização, sentia que o comando estava realmente em ebulição na manhã e, de repente, por volta das 13 horas tudo se aquietou. Como estava focada na organização da festa  e correndo para lá e para cá com Dona Gracinha vendo os detalhes de última hora, só percebi  silêncio por volta das 14 horas. Uma hora sem nenhum contato? Nem mesmo na fase inicial da operação isso acontecia. Está rolando algum babado.

Apurei a visão e tirei a cabeça de toda essa confusão de casamento, bufê, vestido e decoração. Celulares tocavam a toda hora, o pai da noiva estava agitado ao telefone com seus assessores e correu para o quarto. Arrumei uma desculpa e subi também apenas para ver que ele arrumava uma mala com uma muda de roupa e documentos.

- Alessa, você é de confiança. Cuida da Gracinha! Precisarei dar um tempo.

- O que foi Deputado?

- A casa caiu, porra. - Ele diz já fechando a mala. 

- Mas e o casamento? E Dona Gracinha? - perguntei tentando ganhar tempo para que o comando me desse alguma orientação pela escuta, mas nada, silêncio.

- Elas que se virem agora. Preciso fugir o mais rápido possível. 

- Te levo! - disse já pegando a chave do carro de suas mãos. - Para onde vamos?

- Aeroporto. Bendita hora em que te contratei. Já vi você dirigindo e sei que agora é o que eu preciso. Corre! A polícia federal pegou o Fubá faz pouco tempo e não posso dar tempo para chegarem a mim. Ainda bem que já tinha um esquema de fuga.

- Alessa, estamos na sua cola. Prendemos ele no aeroporto. - disse finalmente o comando no meu ponto eletrônico. Mais um ponto para meu sexto sentido.

Dirigi como se tivesse realmente em fuga, não podia sair do personagem agora. Tinha pena de Dona Gracinha, que teria o marido e em breve a filha presos, mas só podia torcer para que ela fosse se mantivesse forte.Ônus da profissão: não podia me apegar a nenhum investigado.

Pareceu até cena de filme. Cheguei na área do aeroporto destinado para embarque de jatinhos particulares e o deputado logo desceu para embarcar no jato que já o esperava na pista. Nos despedimos e ele me deu mais um bolo de notas de R$100,00 em agradecimento pela ajuda. - Miserável! Mas logo a farra acaba - pensei com meus botões. Dei um sorrisinho falso e o vi entrar na aeronave. Voltei para o carro quando o jatinho ia começar a decolar e vi pelo retrovisor que carros da Polícia Federal cercaram a aeronave e logo o deputado descia e era algemado. Vitória!

Voltei para a casa do deputado, aonde a notícia ainda não havia chegado  e os preparativos para o casamento continuavam a mil por hora. Odiava mentir para Dona Gracinha, mas por ordem do comando tive que avisá-la que o deputado estaria na igreja esperando por elas.

Fomos  para a igreja e vi de longe o Leonardo. Puta merda! O cara estava lindo e gostoso naquele terno. Ainda bem que nem fiquei muito perto dele, não por falta de empenho dele, mas escorreguei mais do que sabonete. Não precisava me machucar mais ainda. Apesar de saber que sua lua de mel aconteceria com a esposa presa, ainda assim ele era um safado de um homem casado.

A cerimônia começou e o cortejo com o noivo a frente entrou na igreja. Quinze minutos depois a noiva cansou de esperar o pai, que eu sabia que não iria chegar, e entrou sozinha na igreja. A vaca poderia ser uma nojenta, mas estava linda. Leonardo a esperava no altar e seu olhar não alterou ao vê-la entrar. Estranho, mas fazer o que?

O fato era que ela caminhava até ele e seria ela ao final da cerimônia sua esposa. A cerimônia corria bem, estava tudo lindo e quando se aproximava da hora do sim meu coração se apertou e lágrimas ameaçavam escorrer de meus olhos.

- Comando, não vou aguentar ficar aqui. Preciso ir embora. - disse para a escuta

- Alessa, por favor.  - foi a resposta

- Comando, pelo amor de Deus. Não me obrigue a ver o Leonardo dizer sim a outra.  - disse quando ela disse o Sim.

Nem esperei a resposta do comando e corri para fora da igreja. Voltei correndo para a casa para deixar o carro do deputado e pegar o meu. Deixei um bilhete para Dona Gracinha:


                                    Dona Gracinha

                                    Obrigada pelos momentos incríveis que passei com a Senhora. Qualquer um amaria ter a senhora como mãe. Infelizmente, sua família não soube aproveitar de todo amor que tem a dar. Desejo forças para enfrentar os obstáculos que estão surgindo.

                                 Não nos veremos mais, minha missão acaba aqui, mas a terei sempre perto de meu coração.

                                Fique em paz!

                                                                                                Alessa


- Ok Alessa! Volte para o QG. - já estava a caminho voltando para minha vida. Liguei para minha mãe prometendo ir visitá-los na primeira folga que tivesse.

Nada como nosso lar e o colo de mãe para curar um coração partido!


 






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