Capítulo 17

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Bernardo narrando

Estava na boca averiguando o andamento. Já estava cansado pra caralho. O baile do Pedro havia durado a noite toda e eu estava só o pó. Mas como não tenho folga, tive que levantar cedo.

Pedro também me ajudou, como sempre. Os noticiários já haviam informado sobre a fuga dele, mas sem respostas ainda. O tal do fardado de vez em quando nos dar umas informações em troca de dinheiro e mulher, claro. Mesmo ajudando, eu continuo de olho, porque verme desse tipo não podemos confiar 100%, tá ligado?

Depois de ver tudo progredindo nos conforme resolvi sair um pouco e andar pela favela. A população ainda me temia por aquele pequeno acontecimento do estuprador da minha irmã. Antes eu era um cara amado por eles, respeitado. Hoje eu sou temido, e ignorado, mas eu não ligo pelo contrário, gosto do modo como eles me olham amedrontados e como seus olhares se curvam pela minha presença.

Enquanto andava por alguns becos, vi umas crianças brincando e parei para olhar. Uma coisa que sempre me machucava mas que eu guardava para mim era não ter tido uma infância sabe? Depois da morte da minha mãe, eu sempre tive que estar ali para matar, não para ser uma criança. Troquei carrinhos, por van de roubo, armas de brinquedo por armas de verdade, sorrisos e olhar inocente por um olhar vingativo e sorriso perverso. Em partes não reclamo de ser assim, pois hoje sou essa pessoa para vingar a morte da minha mãe, mas eu queria ter ao menos uma lembrança boa, algo que eu possa lembrar e sorrir, não uma imagem minha com 10 anos atirando e aprendendo como ser bandido.

Só que algo que ele não pensou é que além de me fazer sentir sangue nos olhos, é ter criado junto um ódio por ele sem limites. Ódio que até hoje me sustenta e cresce a cada dia.

Saio dali e sigo para um local do qual me machuca mas que me alivia também. Já estava tarde e o pôr do sol era lindo daquele lugar.
O morro da favela é um lugar incrível, mas também o lugar onde a mulher da minha vida foi morta.

Me sento no chão e fico ali, olhando para a praia e os condomínios dos ricasos.

Pesadelo: É minha véia, mesmo não lembrando de você, eu sinto a tua falta. Sinto o vazio que você me deixou. As vezes penso, se você tivesse aqui como tudo seria diferente. Eu seria um garoto bom, estudaria, teria uma vida descente e o principal, teria um amor do qual não tenho. Com você tudo seria mais diferente, até mesmo minha relação com meu pai. Mas você se foi e acabou levando junto minha alegria e um pai do qual não vou ter.

Nessa hora uma lágrima caiu dos meus olhos, o que logo enxuguei. Porra, só ela mesma para me fazer chorar como bebê. Seguro uma correntinha que era dela entre meus dedos e fecho meus olhos. Sinto um calafrio gostoso passar por mim e eu sabia que ERA ELA. A minha mãe.

Sorri e fiquei um pouco mais ali, admirando a vista.

[...]

Depois da recaída, resolvi sair um pouco do morro e ir para alguma boate com alguns amigos e claro, meus seguranças. Tomei uma banho daqueles e vesti a beca chave com tudo que havia direito. Quando terminei peguei minha R1 e fui para o barraco do Pedro. Chamei o mesmo que logo saiu todo chavão, então seguimos com uns seguranças e uns parças nossos para a boate. Por onde a gente passava as mina pirava, o que claro não demorou muito já que a puta da Soraya apareceu, mandando todas ralar.

Soraya: Qualé pesadelo, tá tirando comigo? Esqueceu quem é a tua amante? – Ela disse, levantando o queixo para mim.

Pesadelo: Qual é você, piranha. Quem tá esquecendo aqui é você com quem você tá falando. Me dá outra intimação dessas para você vê se não te quebro toda. Hoje não tô legal, então não me estressa porra. – Empurrei ela para longe de mim.

Soraya: Só tô defendendo o que é meu. – Afirmou, chorosa já. Puta que pariu, eu mereço.

Pesadelo: O dia que eu for seu, meu pinto nem vai levantar mais. Agora some da minha frente vai, antes que eu perca minha paciência. – Ameacei, fazendo a mesma se afastar.

Ela bufou e saiu com o rabo entre as pernas, enquanto os parça se rachava de rir.

Xxx: Quero ver a mulher que se criar para cima de você hein, pesadelo?

Pesadelo: Falou tudo, essa eu quero ver!

Quando chegamos na boate, todos pararam para nós ver. Ali era uma parte da cidade da qual a gente menos frequentava, e quando frequentava era assim, curiosidade total dos playboy.

Pegamos logo a área VIP, como sempre. O barman trouxe nossas bebidas e alguns aperitivos que a boate fornecia. Havia algumas mulheres ali acompanhadas, mas algumas nem disfarçava  as cenas de insinuação pra cima de nós.

Pedro: Já tô até vendo meu parceiro. - Disse, me deixando confuso com os papo de noia dele.

Pesadelo: Vendo o quê?

Pedro: Os par de chifre que os cara tem. É um maior que o outro porra. – Falou, enquanto a gente ria dos cara

Pesadelo: Isso que dá pegar vagabunda interesseira. Tem que fazer como eu, comer e botar pra ralar.

Pedro: Mas será que com elas você faria isso também?

Pesadelo: Elas quem? – Pergunto, não entendendo o papinho que ele quer dizer.

Pedro: As gringa que acabaram de chegar para animar nossa noite. – Sorriu, olhando para a entrada.

Olhei para a entrada da boate e revirei os olhos.

Pesadelo: Essa mina me persegue, só pode.

Sangue nos olhos ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora