Capítulo 35

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Pesadelo Narrando

Estava transtornado, machucado e com muita, muita raiva. Mas eu não poderia fazer aquilo com ela, não depois da promessa que fiz, e mesmo se eu não fizesse, esse não era eu. Eu podia ser o que for hoje, mas estuprador não.

Assim que ela saiu, quebrei tudo que tinha naquela porra toda. Joguei tv, copos e tudo que estava na minha frente no chão. Eu tinha que descontar minha raiva de algum modo, mesmo não sendo o suficiente.
Caralho, porque ela? Porque ela foi ser filha daquele monstro? Ela é tão diferente, tão independente, tão pura. A única mulher do rio inteiro a me fazer me sentir bem e feliz de verdade pela primeira vez. A única a me fazer sentir prazer de um jeito diferente, tá ligado?

Mas a raiva que eu sentia estava me consumindo, e mesmo ela sendo especial, eu não vou continuar sendo bonzinho. Eu cansei de ser bonzinho e acabar me ferrando. Estava na hora de ser o pesadelo que todos imaginam, e eu começaria pela mãe dela. Só preciso fazer a Tiffany falar.

Pedro: Bernardoooo....

Pesadelo : Pesadelo caralho, Bernardo morreu. - Disse irritado

Pedro: Que se foda. Que porra você está fazendo mermão?

Pesadelo: Fazendo justiça, do jeito que fui criado esses anos todos.

Pedro: Com ela? Com quem não tem culpa?

Pesadelo : E EU TIVE PEDRO? EU TIVE CULPA PARA PERDER MINHA MÃE POR UMA PIRANHA QUE ESTA VIVA EM ALGUM CANTO DESSE MUNDO? ME DIZ, EU TENHO? - Falei alto e com raiva

Pedro: Não caralho, mas você não é ela. Eu te conheço desde berço e sei que você jamais faria algo assim por quem você ama!- Rebateu

Pesadelo: E quem disse que eu a amo? Não tem muito tempo que essa guria apareceu não. Amor é uma coisa que se conquista com o tempo.

Pedro: Tô vendo na sua cara, escrito na sua testa, brilhando nos seus olhos quando você fala o nome dela porra! Para com isso. Eu apoio você se vingar dessa tal de Vanessa, mas a Tiffany não caraí, ela não tem culpa.

Pesadelo: Me deixa em paz Pedro. Some daqui.

Pedro: E te deixar nesse estado? Nem fudendo.

Pesadelo : Eu quero ficar sozinho caralho. - Disse me levantando

Pedro:  Então você vai ter que me tirar.

Pesadelo: Que desgraça, rapaz.

Me joguei no sofá e fiquem pensando.
Tudo estava girando na minha cabeça. Todos os problemas, todas as lembranças, tudo.

Resolvi sair um pouco, para distrair as ideia. A noite estava um calor da porra, então resolvi ir na praia é ficar por lá. Era 01:03 da madruga, então estava de boa ficar ali, sem alguém me reconhecer.
Quando cheguei, sentei na areia e olhei aquele mar todo que estava na minha frente. Minha vida parecia com ele. Uma hora tudo estava calmo, em uma perfeita paz, e do nada, uma onda de problemas batia contra minha vida, me fazendo ficar assim, louco e sem qualquer noção da realidade!

Estava tão absorto nas ideia que não vi a hora que alguém se aproximou e tocou meu ombro.

Pesadelo: DG?

DG: Eu soube agora, quando te vi descer o morro e vir para cá.

Pesadelo: Aquela maldita está viva. Viva, enquanto minha mãe está em um túmulo a mais de 20 anos. E o pior é  que me envolvi justo com a filha dela, a filha de uma assassina.

DG: O amor é um mistério moleque, e você só está no começo dessa descoberta, se é que tem descoberta sobre ele.

Pesadelo: Como se você soubesse disso não é?

DG: Eu amei a sua mãe como nunca amei outra pessoa.

Pesadelo: Amou tanto que deixou ela morrer.-  Disse irônico

DG: Você acha que eu não me culpo todos os dias por isso? Acha que consigo dormir em paz sabendo que poderia ter evitado sua morte e não fiz? A sua dor é mínima comparada a minha. É 1 por cento dos meus 99 Bernardo. Já imaginou você ver a mulher que você ama morta na sua frente?

Pesadelo: E por que você não matou ela? Porque me criou para fazer isso?

DG: Porque foi o único modo que encontrei. Ela te viu ainda bebê, nem desconfia quem é você. Agora eu, ela sacaria na hora. O tempo apenas passou, porque a aparência continua a mesma.

Pesadelo: Que se dane a aparência porra. Você não vê o quanto destruiu minha vida? O quanto me fez perder coisas incríveis, mesmo eu tendo perdido o bem mais precioso da minha vida? Será que você não vê caralho?

– EU SEI...EU SEIII, E SINTO MUITO POR SER ESSA PESSOA DA QUAL VOCÊ TEM COMO PAI. Eu sinto muito, muito mesmo.-Disse abaixando a cabeça

Caralho, eu ouvi isso direito? Ele está me pedindo perdão?
Fiquei em choque com isso e não sabia nem o que dizer.

Pesadelo: Eu... Eu... - Disse pensativo e assustado com o que ele disse

DG: Me perdoa meu filho. Me perdoa por não ter cuidado da sua mãe como deveria, perdão por não ter te feito um homem melhor. Desculpa por tudo.

De todas as coisas que já ouvi na vida, essa era a que mais me marcou.
Tantos anos que passamos juntos, mesmo na merda, mesmo de um jeito não “ pai e filho”, essa é a primeira vez que algo que ele fiz me chama a atenção. Mas não dá forma como ele sempre me chamou, mas de um jeito bom.
Dentre anos, essa é a primeira vez que escuto ele falando tão sincero a palavra filho. A primeira vez que sinto felicidade em ouvir algo saindo da boca dele.

Pesadelo: Filho? – Perguntei confuso

DG: Sim, filho. Meu filho, entendeu? Não é Bernardo, nem satanás, nem pesadelo. Você é meu filho. - Falou confiante e me encarou logo depois

Pesadelo : Por que está dizendo isso agora?

DG: Porque está na hora de acabar com uma guerra para começar outra. Mas desta vez juntos. E eu quero fazer isso com você. Como pai e filho.

Ele se aproximou lentamente e aos poucos, me abraçou. Relutante, eu tentei sair do seu abraço, mas depois eu vi que era hora de erguer a bandeira branca e fazer o que deveria ser feito a muito tempo... Chegou a hora e eu estava tão preparado quanto ele. Agora sim a guerra começaria.

Sangue nos olhos ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora