Chapter one- Gerard Way

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Passo a ponta da língua no polegar e viro a página. Posso perceber que a orelha da revista estava começando à ficar gasta depois de tantas vezes que eu já havia a virado. Entretanto, fora isso, o material estava em perfeito estado.

Ouço o sininho da porta, e coloco rapidamente a edição debaixo do balcão, meu coração indo na garganta. Se meu chefe soubesse por algum cliente que eu estava lendo em serviço de novo, eu certamente estaria muito encrencado...

Mas não. Era apenas ele.

Suspiro enquanto vejo ele entrando, com sua postura diminuta e hesitante olhando para as prateleiras, justo as de Fangoria.

Quando eu digo "ele", eu estava me referindo ao garoto com certamente não mais que doze anos e olhos verdes que começou à aparecer por aqui aqui durante os últimos meses, e, ao que aparentava, esteve particularmente interessado naquela sessão da loja desde o mês passado. Mas ele nunca comprava nada, e sempre parecia decepcionado ao sair.

Porém, parecia ser diferente desta vez. Hoje, após fazer sua famigerada cara de desapontamento, ele cruza um rápido olhar duvidoso com o meu balcão e morde o lábio, parecendo estar em um grande dilema interno.

Por fim, o garoto respira fundo como se para tomar coragem e caminha lentamente na minha direção. Eu tento fingir que não estava olhando para ele, e acabo olhando pra parede como se fosse a coisa mais fascinante do mundo.

"Erhhhh... com licença... boa tarde."

Ele murmura. Tinha uma voz melódica e baixa. Percebo que nunca tinha chegado à ouvir sua voz, ou saber seu nome. Eu o vi praticamente todo dia do último mês, mas não sabia nem isso.

"Boa tarde. Como posso ajudá-lo?"

Respondo, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Aquilo cismava em cair na minha cara, mas talvez seja apenas a falta de banho.

"Hum... errrrhhh... bem... eu estive procurando, e..."

Ele morde o lábio. Só aí reparo o fino anel prateado em sua boca. Eu sempre achei aquilo coisa de punks e rockeiros- não que eu tivesse algo contra-, mas parecia adorável nele.

"Bem... eu queria saber se você podia ver se tem a edição de Halloween 4 de Fangoria no estoque. É a número..."

"... 79."

Falo, por acidente, juntamente com ele. Engulo em seco e desvio o olhar, mas podia ter jurado que ele corou.

"Yeah... eu queria saber se vocês têm."

Ele se balança nos calcanhares, batucando os dedos parcialmente envoltos em luvas de ossos de esqueleto na superfície plana de madeira. Balanço a cabeça.

"Okay, volto em um segundo."

A verdade é: eu já sabia que não havia nenhuma edição daquela no estoque. Cara, é Halloween 4, a volta de Michael Meyers! Georgie Willbur tava foda pra caralho nesse filme!

Portanto, tenho que fazer uma ótima atuação, digna de oscar, quando eu volto pra frente da loja com um pedido de desculpas no rosto (minha avó me mataria se estivesse aqui).

"Me desculpa, cara... essa edição acabou faz um tempo. Mas... tem alguma outra coisa que eu possa arrumar pra você?"

A expressão dele é de tanta tristeza que a figura inteira parte o meu coração. Os lábios repuxados para baixo, assim como os ombros deprimidos, e os dedos que antes batucavam alegremente agora completamente imóveis.

"Não... era apenas isso mesmo... mas... obrigado, de qualquer maneira."

Ele se vira ainda com o olhar baixo e começa à caminhar depressivamente até à porta.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora