Chapter eighty two- Frank Iero

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Gerard começou a entrar nos trilhos depois daquele dia. Não conversamos sobre o fim da banda, sobre os problemas dele ou até meus próprios. Apenas conversamos sobre música, batidas, linhas de guitarra e às vezes, conversávamos sobre coisas mais fúteis, como filmes de terror antigos que Ray nunca ouviu falar porque ele tinha uma infância legal, ou até restaurantes de comida estrangeira que nenhum de nós dois estávamos muito tentados a dar uma chance. Às vezes ríamos, mas não da maneira que fazíamos antes.

Tecnicamente, nós de fato ríamos da maneira que fazíamos antes, mas não era o "antes do Afeganistão" ou o "antes do câncer". Era o antes disso. Um antes tão antigo que tenho que me concentrar bem para me lembrar. Quando nós dois éramos apenas amigos, ríamos dessa maneira. Me pergunto se naquela época nós sabíamos se tudo daria no que deu. Me pergunto se nós tentaríamos mudar se soubéssemos. Me pergunto se teria dado certo.

A coisa que percebi foi que eu passei tantos anos da minha vida me perguntando o que aconteceu com Gerard, com o meu Gerard, que não percebi que na verdade a resposta estava bem na minha frente. As pessoas mudam, e elas não exatamente te avisam antes ou depois de fazê-lo. Elas não meio que batem na sua porta em uma manhã de sábado para te comunicar que elas não são mais o que eram.

E foi isso o que aconteceu com o meu Gerard. A palavra "meu" desapareceu. Ele mudou, e estava ocupado demais sofrendo para me dizer.

Eu não podia exatamente culpá-lo por mudar, pois seria hipocrisia, e o hipócrita da situação sempre fora ele. Gerard fora hipócrita pra me proteger no passado, havia dias em que eu agradecia por isso, porque a verdade poderia ter me matado, haviam dias em que eu ria sem nenhum traço de humor pela capacidade impressionante de atuação dele, e haviam dias em que eu chorava porque era tudo mentira. Cada "para sempre" que ele já falou para mim fora mentira, cada vez que ele comentou sobre nosso futuro juntos foi mentira, e cada vez que dizia que ficaríamos bem fora mentira.

Mas talvez esse último seja verdade.

Ao longo do tempo, esses dias de lágrimas cessaram. Foi aí que percebi que mudei. Foi quando parei de cantar Mr. Brightside e Black Me Out com raiva. Foi quando eu parei de ficar me revirando na cama porque esta parecia desconfortável e fria. Foi no momento em que achei agradáveis as refeições sozinho, e quando passei a achar encantadores os banhos solitários. Foi quando eu voltei a perceber que conseguia prestar muito mais atenção aos pequenos detalhes dos filmes quando não havia ninguém para me incomodar. Que minha sala de estar tem uma ótima acústica para o som da guitarra, mas não para o som de vozes.

Nesse dia, eu percebi que mudei. Percebi que não sofria mais por conta de Gerard Way, mas isso não significa que eu tenha parado de o amar.

Não. Eu não deixei de amá-lo, de maneira nenhuma. Estava certo disso. Se fizesse uma lista das coisas que estavam certas, ela teria coisas óbvias. O céu é azul. o mar é profundo. O Sol é quente. O mundo é grande.

E Frank Anthony Thomas Iero Jr. ama Gerard Arthur Way de uma maneira irremediavelmente profunda, ingênua e incorrigível.

Eu o amo, e ponto final. Poderia fazer diversas frases como essa e todas elas estariam certas. Não havia nenhum "eu amo Gerard Way, mas...". Não havia nenhum "mas", meu coração machucado pode ter inventado algo assim antes, já pode ter duvidado, mas nunca foi verdade. Eu o amava, eu o amo, eu sempre o amarei. Ponto final.

A coisa que mudou, no entanto, foi que entendi que não necessariamente preciso dele para continuar vivendo. É claro que sua presença tornariam minhas manhãs infinitamente mais felizes, mas a coisa que mudou em mim foi que eu também entendi que ele não vai voltar mais para mim. Não estou dizendo que nós não éramos para ser, porque era. Nós éramos. Talvez por apenas um curto período de tempo, mas éramos. Um dia, ouvi dizer que a paixão era uma coisa química de nossos cérebros, e que dura apenas 24 meses, e que depois apenas se transforma no tipo de amor que pessoas velhas têm. Talvez fora por conta disso que apenas fomos para ser durante dois anos. Talvez, se todo o sofrimento de depois desse tempo inicial jamais tivesse acontecido, nós estaríamos nos amando como dois velhos agora. Talvez ainda estivéssemos juntos.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora