Chapter seventy one- Gerard Way

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Ficar aquele tempo sozinho realmente me fez bem, tinha que dizer. Eu poderia fazer o que eu quiser na hora que quisesse, sem ter ninguém pra me preocupar ou algo assim. Eu acordava, comia algo na cozinha, e então voltava pro quarto, ficava o dia e a tarde inteira desenhando.

Um dos principais- e únicos- motivos pelo qual eu sempre fiquei infurnado o dia todo no quarto era que eu detestava desenhar com pessoas ao meu redor. Claro, quando eu estava na escola, não costumava me importar muito com isso, mas toda vez que tinha alguém ao meu lado quando desenhava, havia aquela forte sensação dentro de mim que essa pessoa tava olhando fixamente pro meu desenho- coisa que não era a realidade- e me julgando por meio do meu traço. Esse sentimento paranóico se tornou menos frequente durante a faculdade, onde eu tinha que basicamente desenhar na frente de todos, mas aos pouquinhos, na minha vida adulta, ele havia retornado.

Com a casa completamente vazia, eu não precisava ficar apenas no quarto. Durante esses dias, eu saí, desenhei em lugares que nunca desenhei antes, e de verdade, isso causou efeitos extraordinariamente positivos no meu trabalho. Eu mudei basicamente a estrutura inteira de Umbrella Academy, porque eu tinha de adicionar a família Hargreeves à ela.

No final, todos eles tinham super-poderes, e eles eram tipo os X-Men, só que a diferença é que eles não conseguiam conviver em harmonia. Foi essa a primeira impressão que tive quando os vi, aliás. Parecia que todos queriam secretamente matar uns aos outros, mas eram impedidos porque estavam em uma base militar, lugar onde não é muito fácil esconder um corpo.

Estava tudo indo às mil-maravilhas. Eu pensei sobre tudo diversas vezes, e... eu não estava mais triste. Digo, eu provavelmente estava, mas eu não sentia a necessidade de tomar diversos remédios, ou beber. Isso apenas podia significar que eu estava bem, huh?

Claro, ainda haviam vezes em que eu começava a chorar simplesmente do nada. Quando tentei desenhar dentro do quarto de Mikey, eu comecei a chorar pelo simples fato de que aquelas paredes não estavam pintadas de azul, e que a colcha da cama permanecia como apenas a colcha de Mikey. Não a colcha de Lia, mas do meu irmão.

Mas isso passou. Eu parei de chorar e gritar depois de um tempo.

Eu me senti estranho por conta disso, me senti como um monstro insensível, mas então eu reparei que é assim que as coisas acontecem naturalmente. Você tá muito triste por algo, e aquilo dói como o inferno pra você, mas um dia, essa dor simplesmente... amansa. Ela não dói mais quanto doía antes.

E fora o fato de que a morte de Missile parou de doer cedo demais, não tinha nada de errado com isso.

Eu pensei muito também sobre Frank, o garoto de muitos nomes e nomenclaturas.

Frank, meu namorado. Frank, o garoto que salvou minha vida. Frank, o cara que ficou lá por mim enquanto eu estava morrendo. Frank, o homem que me esperou por dois anos, apenas para lidar com a minha amargura depois.

Frank, o meu primeiro-amor.

Era estranho pensar nele assim, depois de tanto tendo passado. Digo, eu ainda o amava, mas... era um amor respeitoso, sabe? Não era aquela paixão do início ou de quando reatamos. Eu não... sentia mais tanta a necessidade de estar com ele, o mundo não perdia a cor quando o garoto estava longe. O mundo permanecia sendo... apenas o mundo. Eu continuava apenas como Gerard, e Frank continuava apenas como Frank.

Quando esses pensamentos começaram a brotar na minha cabeça, soou e pareceu estranho, mas depois de pensar, era... bem, era isso.

Eu não queria terminar com Frank, mas eu não queria estar com ninguém.

Queria ficar sozinho. O silêncio me fazia bem. Fora os dias em que eu chorava, eu não falei uma palavra durante todo o tempo em que fiquei sozinho, e se eu soubesse antes que isso era tão bom, teria feito um voto de silêncio há mais tempo.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora