Chapter seventy nine- Gerard Way

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Eu pensei que minha vida não poderia ficar pior do que quando estava com câncer. Aquilo era o ponto máximo, não podia ter nada mais horripilante do que ter uma agulha no seu braço vinte e quatro horas por dia e ficar preso em uma cama. Simplesmente não poderia.

Bem, eu estava errado.

Muito errado.

Desde que minha receita sumiu, eu demorei apenas duas semanas para tomar o que tinha sobrado do meu estoque de xanax. E depois disso, tudo se tornou um completo inferno orquestrado pelo Belzebu em pessoa.

Ela sumiu, simples assim. Estava lá um dia, e no outro, não estava mais. Primeiramente, pensei que havia sido Mikey. Apesar de eu praticamente não passar mais tempo nenhum em casa, ainda morava lá. Todas as minhas coisas estavam no quarto, e ele pode ter ido lá pegar uma Fangoria, ou algo assim, e ter visto lá.

Entretanto, eu nunca deixava aquela receita em algum lugar visível, e além do mais, Mikey não estaria agindo tão naturalmente se tivesse achado uma receita falsa para remédios controlados que podem causar overdose no meu quarto.

Então a única outra pessoa que poderia ter feito isso: Bert.

"EU JÁ DISSE QUE NÃO PEGUEI A PORRA DOS SEUS REMÉDIOS, GERARD!"

"CLARO QUE FOI VOCÊ. SÓ PODE TER SIDO! E POR QUÊ?! TÁ PUTO PORQUE EU PAREI DE DAR TANTA ATENÇÃO A VOCÊ? PORQUE EU PAREI DE ME IMPORTAR TANTO ENQUANTO A GENTE TRANSA?! EU VOU TE CONTAR, BERT, NUNCA FOI MINHA MAIOR PREOCUPAÇÃO TE SATISFAZER!"

Gargalho. Ele me empurra pra fora do seu caminho.

"Cala a boca. Você só tá sendo uma vadia de novo. Eu já devia estar acostumado."

Ele suspira.

"Eu não... peguei a merda da sua receita, Gee. É sério. Pode revistar minha casa se quiser. Pensa bem, por que caralhos tiraria a receita de você? Não me importo com absolutamente nada do que acabou de falar, sabe que não transo só com você."

Meu sorriso sarcástico vacila. Ele me olha bem nesse momento, franzindo a testa.

"Ah, não. Espera. Você não achava mesmo que eu tava transando só contigo. Ah, não, Gerard, me diz que você não foi tão trouxa assim."

Desvio o olhar, engolindo em seco, tentando fingir que aquilo não importava, porque qual é. Eu mesmo traí meu ex. Ele tá bem com isso, portanto não poderia ser ruim assim.

Merda, mas era.

Bert suspira novamente e passa a mão no rosto.

"Olha, a gente não tem nada de especial. Somos dois caras, nos sentimos atraídos, começamos a foder. É isso. Temos bandas, usamos drogas, não é como se isso fosse se tornar um casamento um dia."

Não sabia se ele disse aquilo pra me deixar melhor, mas se sim, falhou miseravelmente. O mais baixo se aproxima e coloca uma mão no meu ombro.

"Mas hey, isso não serve só pra mim! Saia por aí, foda com outros caras, seja livre. Sério, você é dono de uma banda de sucesso, caminhando pro segundo álbum. Você não tá na época de ficar com uma pessoa só, apenas... saia por aí e se divirta. Mas ah, use camisinha, pelo amor de Deus, sífilis é uma merda total."

Ele fala animadamente antes de me dar dois tapinhas no pescoço, se afastando em seguida.

"A banda nunca foi minha, Bert."

O homem para, de costas pra mim. Respiro fundo.

"A banda é nossa. E, de verdade, se você considera o The Used como apenas seu, essa banda vai durar o tempo que vocês estiverem altos."

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora