Chapter thirty two- Gerard Way

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Estaciono o carro na garagem e olho pra frente por alguns segundos.

Eu estou com câncer.

Isso não chegou a exatamente me surpreender, é claro. Nunca foi uma possibilidade tão distante assim... eu não conheço uma pessoa na minha família que não tenha problemas respiratórios. Uma.

Mas aparentemente, eu fui o azarado que pegou a porra dum tumor do tamanho de uma nós.

Encosto o queixo no volante e olho pro lado, pro garoto adormecido no banco da frente do meu carro, que estava envolto em um moletom preto que era grande demais para ele.

Fecho os olhos um pouco, e então me inclino em sua direção, beijando suavemente sua testa.

"Frank... a gente chegou. Sobe lá pra cima e deita na cama."

Murmuro baixinho, mexendo no cabelo dele. Frank se remexe, os olhinhos verdes se abrindo de leve.

"Hum?"

Sorrio.

"Querido, nós chegamos. Você dormiu o tempo inteiro."

Ele balança a cabeça e se vira, abrindo a porta lentamente e saindo. Como o anão tava cambaleante de sono, eu pego a cintura dele e encosto sua cabeça em meu ombro, meio que o carregando pra dentro e escadas acima.

Ele já tinha voltado a dormir quando chegamos ao quarto, e eu meio que só caio em cima dos lençóis. Frank se aconchega mais debaixo do meu braço.

Eu sei que deveria levantar, e... sei lá. Fazer coisas. Limpar a estante, ou alguma coisa assim.

No entanto, eu não tenho a menor coragem de levantar e deixá-lo sozinho ali.

Olho pra ele e suspiro, tirando uma mecha de seu cabelo do rosto angular.

O garoto estava dormindo tranquilamente, e apenas penso no tempo em que nós passamos juntos, em todas as coisas que já fizemos, as canecas de café que tomamos, os lugares que visitamos...

E então começam a pipocar na minha cabeças as coisas que nós ainda não havíamos feito.

Ainda havia uma infinidade de filmes de terror que eu e Frank ainda não tínhamos visto, e uma infinidade de músicas que nós dois ainda não havíamos tocado. Havia tantos lugares para visitar, tantas comidas para provar. Havia tantas sensações que nós nunca experimentamos.

Eu pensei que eu teria mais tempo. Pensei que eu teria mais tempo para fazer tudo o que eu queria fazer com Frank. Levá-lo aos meus outros lugares favoritos de Jersey, levá-lo para fora de Jersey. Apresentá-lo à minha mãe, meu pai... ter uma casa só nossa, quem sabe um dia casar, não sei... o que eu tinha com ele parecia que duraria por uma vida.

Iria durar, se não fosse por uma maldita massa cinzenta.

Eu não tenho esse tempo. Eu provavelmente não irei ter. O médico havia me avisado... a quimioterapia era apenas uma maneira de alongar o meu tempo por aqui, mas que dificilmente eliminaria todas as células cancerígenas.

Suspiro entrecortadamente e passo a mão no rosto.

Deus, eu vou morrer.

Eu vou morrer, e vou deixar Frank. Eu havia pedido a ele para nunca me abandonar, mas na verdade, era eu quem o abandonaria no final. E como ele iria ficar sem mim? Frank não pode ficar sem mim, ele mesmo disse isso.

Me pergunto se ele se cortaria quando eu morresse. Mesmo dentro do caixão, eu vou me odiar se isso acontecer. Me pergunto se ele seguiria em frente, ou se um dia os olhos dele se secariam completamente. Me pergunto se ele iria se apaixonar novamente, me pergunto se ele vai conseguir ser feliz depois que eu morrer.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora