Chapter fourty- Frank Iero

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Os primeiros meses são os mais difíceis, se você fosse perguntar a minha opinião. Na verdade, se você fosse perguntar, eu não poderia dizer exatamente que eu sofri, porque o verbo "sofrer" não chega nem aos pés do que eu passei na metade final de novembro, dezembro de 2001, janeiro e o início de fevereiro de 2002.

Nos primeiros meses, eu uso as roupas dele. Elas ainda tinham seu cheiro. Eu me enrolo nos lençóis, e usava a toalha dele. Às vezes me deitava com a cara enfiada no sofá, ou cheirava a fronha do travesseiro. Obviamente, isso não dura muito. Talvez umas duas semanas, e rapidamente o meu cheiro substitui o dele.

Em algumas noites, eu não conseguia dormir, em outras, eu dormia como uma pedra. Em algumas noites, eu tinha pesadelos, e em outras, eu sonhava com o dia em que ele retornaria, e acordava chorando quando me dava conta que era apenas um sonho.

Eu... queria que isso fosse apenas um sonho. Queria mesmo. Eu queria acordar, me virar em prantos e só vê-lo ali. Queria que ele me abraçasse, e... merda, eu só queria que ele estivesse ali.

Como eu estava paranóico até com a mosca na cozinha depois que ele se foi (temporariamente), eu começo a focar no trabalho. Eu chegava mais cedo ao bar do que chegava antes, e também saía de lá mais tarde. Eles me disseram que não iam me pagar por isso, mas eu não necessariamente me importava. Eu só... precisava de algo com o qual me distrair.

Com isso, eu foco mais na guitarra também. Eu tocava nos finais de semana até meus dedos sangrarem, e Mikey tava aprendendo baixo, então de vez em quando nós tocávamos juntos.

Mikey. Esse era outro ponto nos primeiros meses. Ele me ajuda muito. Claro, não o suficiente para eu estar bem, mas... ele me ajudava a rir nos dias em que até o céu enegrecia. Ele me ajudava a me distrair quando pensamentos tóxicos ameaçavam tomar o controle. Mikey me ajudava em coisas que eu nunca poderia pedir pra ele que fizesse, e por causa disso, eu não fazia a mínima ideia de como agradecer a ele.

Entretanto, o Way também estava sofrendo. No Natal, nós... não compramos presentes. Ou montamos a árvore. Nós só ficamos em casa, ele no quarto e eu na sala, e praticamente não nos falamos.

Era... era doloroso demais lembrar que há exatos dois anos, nós três estávamos naquela sala, ajoelhados em frente a um pinheiro falso, rasgando papéis de embrulho e rindo como se fôssemos literalmente três crianças na manhã de Natal.

Eu passo esse o dia revendo a trilogia Esqueceram de Mim, e também o quarto filme, que havia sido lançado naquele ano.

O quarto filme foi horrível. Eles trocaram o Macaulay Culkin por um outro moleque que não tinha a menor graça. Eles dão uma perspectiva completamente nova (e ridícula) ao filme, que foi simplesmente deplorável em questão de resto de elenco, trilha sonora e plot.

Mas talvez fosse apenas o fato de que eu havia crescido, e agora a história de Esqueceram de Mim não parecia mais tão legal assim.

Rever os três primeiros filmes me lembrou muito do passado, pra dizer a verdade. Eu sentia um dejà vou diferente à cada cena. Os filmes me lembravam da minha antiga casa, a casa de Linda. Eu ainda me lembrava de cada cômodo, e onde cada maldito móvel se localizava. Eu ainda poderia me locomover perfeitamente pela casa se colocassem uma venda sobre meus olhos.

Entretanto, não... alguns detalhes específicos não pareciam tão... claros agora. Eu não conseguia mais me lembrar com tanta clareza dos riscos no teto que eu fitava toda noite antes de dormir, ou de quais os ladrilhos estavam faltando no box do meu banheiro. Eu não conseguia mais me lembrar corretamente da ordem das panelas da cozinha.

Coisas triviais, mas que eram apenas os primeiros indicativos de que eu esqueceria completamente da casa ao longo do tempo.

Me pergunto se o mesmo aconteceria com ele. Se eu esqueceria dele como esqueci dos ladrilhos do banheiro.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora