Chapter thirty five- Gerard Way

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Tudo estava bem no começo. Eu estava reagindo bem ao tratamento, aos remédios, à tudo.

Mas isso não dura muito.

Depois de mais ou menos um mês e meio, os sintomas começam a aparecer. Perda de peso em grande escala (não que eu já não estivesse perdendo peso antes, mas agora era... inacreditável), enjoos, diarréia... eu praticamente me sentia grávido.

E claro, havia também a inevitável apoptose.

É um nome fofo, não é? Apoptose. Parece um estouro de pipoca. Pop.

Era um nome fofo, provavelmente para crianças com câncer se acostumarem com a perda de cabelo.

Eu sabia que iria acontecer. Não acontece em todos os casos, mas... eu já sabia, entende? Eu nunca tive sorte na vida, e não seria agora que essa sorte se pronunciaria.

Foi meio que um choque. Foi horrível, pra dizer o mínimo. Eu levantei de manhã, com uma estranha sensação da minha cabeça leve, mas não do tipo de quando você está prestes a desmaiar, e quando fui me olhar no espelho, a maior parte dos meus fios de cabelo haviam ficado no travesseiro.

Eles disseram que na maioria das pessoas isso acontecia gradativamente, algumas mechas por vez. Mas o tratamento era agressivo, então eu era apenas um caso à parte que ficou careca rápido demais. Mas não tinha nada de errado, segundo eles.

Não tem nada de errado. Eu cheguei mesmo ao ponto onde não tem nada de errado o meu cabelo cair?

Ainda tinha algumas marchinhas aqui e ali, o que tornava a figura toda extremamente doentia e escrota. Por isso, eu resolvi raspar. Não fazia o menor sentido esperar, ia tudo cair mesmo.

Mikey traz uma máquina, e eu peço que... que Frank fizesse isso por mim. Eu precisava dele para fazer isso, porque... não sei. Talvez porque assim eu poderia culpar outra pessoa por ficar tão feio.

Não era por isso, eu não ia conseguir culpar Frank. Ele apenas fez algo que eu pedi à ele.

E eu estava horrível mesmo. Na melhor das hipóteses, eu parecia um dedão. Na pior, eu parecia exatamente com uma rola. E não uma das bonitas. Minha careca tinha pintinhas. Isso é estranho pra caralho.

"Frank, o que tu acha de a gente tentar pegar meu crânio e enfiar ele no teu..."

"NÃO. Eu sei o que você vai falar. Você não parece um pau, e olha o family friendly."

Bufo.

"Você me conhece bem demais, isso é irritante."

Ele sorri e se aproxima, me dando um beijo na bochecha.

Falando em Frank, ele parecia estar lidando muito bem com a situação.

Fora o fato de que ele tinha voltado a se cortar, ele estava lidando muito bem mesmo.

Tá, eu não tinha total certeza da afirmação acima. Eu tinha minhas suspeitas, porque ele não andava mais de mangas curtas, e as poucas vezes em que nós tomávamos banhos juntos pararam de acontecer. Ele sempre arrumava uma desculpa, dizia que a gente não deveria, ou falava que a gente ia fazer sexo se isso acontecesse. E que a gente não poderia fazer sexo.

Eu tinha minhas suspeitas, então um dia, enquanto ele dormia ao meu lado, eu resolvi... puxar as mangas pra cima. Bem de leve, sabe? Eu tive todo o cuidado pra não acordá-lo, e...

Curativos.

Não fiquei surpreso. Eu não estava decepcionado, sabia que o câncer não estava acabando apenas comigo, mas... eu tinha uma leve esperança de que fossem apenas suspeitas.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora