Chapter eighty- Frank Iero

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Era apenas uma tarde normal de setembro de 2008. Estávamos no estúdio, resolvendo as gravações finais do nosso segundo álbum, Three Cheers For Sweet Revenge, mas Gerard parecia um tanto... nervoso.

"Vamos gravar de novo."

Ele diz, lá de fora, após apertar o botão que me permitia ouvi-lo. O fato dele estar rejeitando cada maldita vez que eu tocava o mesmo maldito riff não estava ajudando em nada com a minha auto-estima.

"Gerard, vamos fazer uma pausa... meus dedos estão em carne-viva."

O botão é novamente apertado.

"Desculpa, Frank, mas a gente tem que fazer isso acontecer logo, é bom a gente entregar o álbum ainda esse ano."

Suspiro, baixando minha cabeça por um minuto. Geralmente eu não me importava quando tocava até chegar nesse ponto, mas esses momentos são quando eu me sinto triste e apenas quero tocar pra esquecer os problemas.

Esse não era um dos momentos, no entanto.

Quando levanto a cabeça de novo, Mikey estava de pé, discutindo com Gee. Eu não conseguia ouvir nada, apenas observava os gestos enfáticos do anorexo e os movimentos lentos do mais velho, tentando de uma maneira cansada suprimir o mais novo.

Por fim, Gerard explode, dizendo alguma coisa que faz Mikey petrificar.

É nesse momento em que eu deixo a guitarra de lado e me levanto. Eu gostava de Gee, e realmente queria ajudá-lo, mas não iria deixá-lo ser um cuzão com Mikey. Gerard precisava aprender que não podia continuar vivendo daquela maneira, que não podia ser amargo com todo mundo ao redor. A gente precisava fazer isso dar certo.

Giro a maçaneta, mas a mesma não abre. Dou dois toques no vidro, levantando as sobrancelhas sugestivamente para que algum deles apertasse aquele botão que faria a porta abrir.

Engulo em seco, batendo no vidro de novo. Sem resposta.

Lá dentro, Gerard e Mikey ainda discutiam, agora Howard havia entrado na discussão também. Ray tinha ido ao banheiro, e Matt pegou um resfriado dos ruins, então não pôde vir. Além dos três, não havia mais ninguém na sala, então nenhuma alma viva estava vendo o pequeno anão batendo na janela.

Garganta seca. Respiração rápida. Alucinações. Tento me focar nas coisas que eu tinha certeza que eram reais. A porta. Os intrumentos ao meu lado. O chão debaixo dos meus pés... as paredes se fechando ao meu redor, sim, sim, isso era real, isso tinha que ser real, eu sentia que era real, se fechando centímetro por centímetro, sufocando o oxigênio ali dentro do espaço diminuto.

"ALGUÉM ABRE A PORRA DESSA PORTA!"

Grito, esmurrando e chutando a superfície de madeira. Aquilo era exatamente como a despensa, exatamente como aquele lugar. Eu não queria fechar os olhos, porque sabia que se o fizesse, tudo se tornaria real demais. A voz da minha mãe mandando eu ficar quieto, o cheiro de comida enlatada, os sulcos na porta feitos pelas minhas próprias unhas se aprofundando ainda mais enquanto eu tentava de todas as maneiras escapar daquele lugar.

"POR FAVOR ALGUÉM A...!"

Antes que eu completasse a frase, caio pra frente, escutando o barulho do botão.

"NÃO ACREDITO QUE ESQUECEU ELE LÁ DENTRO!"

"VOCÊ TAVA GRITANDO COMIGO, EU NÃO CONSEGUIA PENSAR!"

Mikey grita, sendo seguido por Gee, enquanto eu tentava me situar.

Eu não estava mais na despensa. Não estava mais na sala. As paredes não estavam se fechando ao meu redor, não iam me esmagar. Estou bem, estou vivo.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora