Chapter four- Gerard Way

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Depois daquela noite em que Frank dormiu lá em casa, sou acordado aos cutucões por Mikey logo de manhã cedinho.

"GERARD!"

Grunho e me viro.

"O que é?"

"Por que caralhos tem um anão punk com cabelo pixie dormindo sem camisa no nosso sofá?"

"Aaah. É o Frank."

Murmuro, mas em seguida abro os olhos.

"Pera. Você disse sem camisa?"

Gerard calma. Gerard respira. Gerard não sai correndo pra sala. Gerard o menino deve ser hétero, Gerard.

"Yeah. Ele tá lá no sofá, dormindo... de onde saiu aquele garoto? Ele parece um filhote de cachorro."

Me sento na cama e esfrego os olhos.

"É o Frank. Eu te falei dele, lembra? O moleque que começou à aparecer lá na loja de vez em quando."

Me levanto e desço lá pra baixo. De fato, lá estava o filhote Frank: nu da cintura pra cima e dormindo adoravelmente abraçado à uma almofada. Me pergunto se ele era adorável dessa maneira apenas por ser pequeno ou por ser novo. Talvez fosse uma mistura dos dois.

Resolvo deixar ele dormir enquanto vou pra cozinha fazer o café. Eu nunca deixava Mikey fazer, porque aí sempre saía queimado, e o próprio tinha que beber como se fosse o líquido mais sensacional que ele já tinha tomado na vida, por puro orgulho.

Então, antes que ele pudesse se matar (porque é claro. Agora café queimado mata), eu resolvi me prontificar pra fazer a preciosa bebida todas as manhãs, mesmo por cima das reclamações indignadas de Moikey.

Eu tava cocolocando o pó dentro da máquina quando escuto passos vindo do corredor, atrás de mim.

"Mikey, pode pegar o açúcar no armário pra mim, por favor?"

Murmuro, concentrado.

"Não é o Mikey. Mas sim."

Franzo a testa e daí me viro, vendo Frank (de camisa) sorrindo de canto e andando até o armário.

"Ah... acordou."

Tento não rir do fato de que ele se coloca na pontinha dos pés pra pegar o pote. Ia ser engraçado se aquilo virasse e caísse na cabeça dele, mas infelizmente não acontece.

"Com ou sem açúcar?"

"Sem, por favor."

"Boa escolha."

Murmuro, adoçando apenas o café de Mikey. Ele reclamava pra caramba que eu bebia café amargo, mas a graça do café é ele ser amargo. Café doce não tem a menor graça.

"Que horas são?"

Ele me pergunta, enquanto eu entrego sua caneca.

"Obrigado."

"Hummmmm... não sei. Umas nove e vinte."

Frank quase cospe o próprio café quando tem um sobressalto. Os olhos do garoto se arregalam.

"Merda. Eu deveria estar em casa antes da minha mãe acordar. Ela não sabe que eu dormi fora. "

Mordo o lábio.

"Ahhh... mas pelo menos termina de tomar o café, cara."

Eu não queria que ele fosse embora. Eu sei que ele teria que ir, mas não agora, caramba. Se ele fosse, eu ia provavelmente ficar trancado no meu quarto, desenhando quadrinhos que nunca viriam à público.

"Ahmmmm... tá... Tá, ela provavelmente nem acordou ainda, então..."

Balanço a cabeça e torno à enfiar meu rosto na caneca.

Nós conversamos majoritariamente sobre coisas aleatórias do dia até ele acabar de beber, e realmente ter que ir embora.

Frank insiste que pode ir andando, já que a minha casa não fica muito longe da dele, e eu acabo por concordar.

E lá se vai Frank, saindo pela minha porta.

Como o esperado, fico o sábado e o domingo inteiro no quarto escutando Iron Maiden e desenhando. Se chamava The Umbrella Academy, e por mais que eu próprio achasse a história incrível, sabia que ninguém iria querer produzir aquilo.

Segunda-feira é bem difícil de levantar, mais que o usual, na verdade. Eu tava um cu. Feio (não que eu fosse bonito, pra começo de conversa), cheio de sono e... puta merda. Parecia que eu tinha engordado sete quilos só dormindo. Que porra é essa?!

Pra completar, o chuveiro tinha queimado e eu tenho que tomar um maravilhoso banho frio às oito da manhã.

Depois disso, ainda tenho que ter consciência que teria que ir pro posto reabastecer o carro na volta do trabalho. Ou na hora do almoço.

E, se ainda não estivesse ruim o suficiente, Frank não aparece na segunda pra me fazer companhia, ou seja: tenho que ficar arrumando coisas inúteis pra fazer, como passar um pano nas prateleiras e rearrumar o dinheiro na caixa registradora, apenas para não morrer de completo tédio.

O problema é: Frank não vem segunda.

E nem terça

E nem quarta.

E agora era quinta-feira, eu estava fechando a loja. Ia fazer uma semana que não o via, e eu estava impressionado com o quanto aquele moleque me fazia falta. Eu não costumava vê-lo em finais de semanas, de qualquer maneira, mas também nunca tinha ficado tanto tempo sem o ver desde que o conheci. Eu nunca ia admitir pra mim mesmo em voz alta, mas eu realmente sentia falta da risada baixa e calma dele. Ou das piadas que provavelmente não eram engraçadas pra mais ninguém além de mim. Ou quando seu piercing dançava em seu lábio. Ou a maneira que ele sempre arrumava uma solução pros meus problemas mais bestas, e surpreendentemente eu nunca pensava naquilo antes que ele.

Eca. Parece que eu tava descrevendo meu marido.

Suspiro e ligo a ignição do carro. Se eu tava preocupado? É claro que eu tava preocupado. E se... tivesse acontecido alguma coisa? E se Frank tivesse sido sequestrado? E se ele tivesse se acidentado gravemente e agora estivesse no hospital?

Havia outra possibilidade, eu sabia, eu apenas não queria pensar nela.

E se Frank tivesse cometido suicídio?

Engulo em seco e estremeço no banco. Ele apenas parecia... solitário. Eu acho que ele realmente não tinha nenhum outro amigo além de mim. Entretanto, ele não parecia ser triste. Apenas... assustado e estranhamente calmo.

Mas nunca se sabe.

Balanço a cabeça pra tirar aqueles pensamentos da cabeça quando estaciono o carro. Não era bom pensar nisso e basicamente surtar. Frank provavelmente estava bem. A mãe devia ter pedido pra ele ficar em casa por algum motivo fútil, ou algo assim, e ele ia chegar amanhã ou na segunda-feira me dizendo "minha mãe é um saco", e daí eu riria.

Yeah. Isso vai acontecer. Exatamente assim, porque nada de errado aconteceu.

Depois de chegar em casa, eu apenas como um sanduíche na geladeira, tiro a roupa, tomo as três pílulas de Stilnox (porque não, eu nunca consigo dormir sem esse remédio. É provavelmente mais do que eu deveria tomar? Claro, mas quem se importa, não é mesmo?) e deito a cabeça no travesseiro.

A graça do Zolpidem é que ele é de rápida ação com apenas uma pílula, então como eu tomei três, eu capoto basicamente assim que minha cara atinge o travesseiro.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora