Chapter twenty four- Gerard Way

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As semanas passam rápido, e eu estava feliz, no geral.

Eu tinha oficialmente me formado na faculdade, meu relacionamento com Frank estava feliz e amoroso, eu dormia bem todas as noites, e... yeah. As coisas estavam dando certo.

...

...

...

A manipulação da mente humana é uma coisa incrível, não?

Por exemplo: todas as coisas que eu citei acima não são necessariamente mentiras, mas você tem que aprender à ler nas entrelinhas se realmente quiser entender o que uma pessoa quer dizer.

Eu tinha me formado na faculdade, sim, mas o emprego na loja não estava mais pagando as contas. Sobre Frank, ele chegava umas duas vezes na semana que nem um furacão na minha casa, apenas querendo sexo. À partir da terceira vez, eu já havia desistido de perguntar, e apenas transava com ele. Nem sempre a gente conseguia chegar no quarto.

Talvez eu seja uma pessoa ruim por causa disso? Provavelmente, mas ele não ia me dizer. Frank é um cabeça-oca teimoso pra caralho, e não importa o quanto eu tentasse convencer ele a me contar, ele não abriria o bico.

E aliás, eu apenas dormia bem quando eu tomava em média quatro pílulas de bromazepam, enquanto eu deveria tomar metade disso.

Ou seja: no final, tava tudo uma merda.

Eu não estava em total desespero ainda, pelo menos. Eu tinha medo de chegar ao ponto de eu não conseguir mais pagar as contas de luz, eu tinha medo de não acordar no dia seguinte por causa das pílulas que eu tomei, eu tinha medo de Frank estar apenas... me usando. E que ele não goste de mim.

Mas eu ainda não estava desesperado de medo. Eu sabia que isso aconteceria, uma hora ou outra, porque eu estava prestes à explodir.

Duas coisas consequentemente poderiam acontecer, nos próximos tempos:

1) alguma coisa boa se revelar, e então eu perceberia que a minha vida não estava tão ruim assim. Perceber que eu tenho um namorado bom, perceber que eu só tenho que conversar com Jamia para mudar minha medicação, perceber que eu tinha dinheiro guardado, portanto não precisava me desesperar.

2) nada acontecer e eu simplesmente surtar.

Eu esperava muito que a primeira opção fosse a que se concretizaria.

Por sorte, de fato, algo bom acontece.

Eu fiquei sabendo que a famosa Cartoon Network aparentemente estava sem nada pra passar durante a manhã, então eles estavam aceitando ideias.

Eu tava com uma ideia na cabeça já tinha um tempo. Era meio sangrenta, e claramente nenhuma criança deveria assistir àquilo, mas depois de algumas pequenas grandes alterações, eu mando o roteiro e alguns esboços para o canal.

E assim é criado o Breakfast Monkey.

Eu ainda não sabia se eles iriam aceitar, e é por isso que eu precisava abrir o jogo com Frank. A base de um relacionamento é a confiança, e o conhecimento de um ao outro. Eu precisava que Frank soubesse o que estava acontecendo.

Nós estávamos sentados no sofá, vendo televisão, meu braço ao redor dos ombros dele, e o anão encostado gentilmente contra meu peito. Nós gostávamos de assistir TV aos domingos. Era o dia de folga dele no bar, então tínhamos um pouquinho de paz.

Mordo o lábio e viro o rosto pra ele.

"Frank, eu... preciso conversar uma coisa séria com você."

O garoto olha pra mim, e arqueia uma sobrancelha.

"O que aconteceu?"

Suspiro.

"As... as coisas estão difíceis."

Balanço a cabeça.

"O meu emprego na loja já não está conseguindo dar conta de todo o nosso gasto financeiro, e..."

Mordo o lábio.

"Nós temos que conversar. Sobre... você."

Ele balança a cabeça e vira o corpo melhor pra mim, desligando a TV para me dar total atenção.

"Estou escutando."

Desvio o olhar e passo a mão pelo cabelo.

"Frank... eu não aguento mais isso... eu não aguento mais não saber o que está acontecendo. Frankie, você vem na minha casa basicamente dia sim dia não, e você só quer transar comigo. Tipo, do nada. Frank, eu... eu não entendo o que tá acontecendo com você. Eu quero saber, eu quero ajudar você."

Ele fecha os olhos por um momento, como se para se acalmar, e então volta à abri-los.

"Você está me ajudando. Obrigado, Gee... nesses dias, sexo realmente ajuda."

"Não tô reclamando disso. Eu só quero saber o que tá acontecendo."

Ele balança a cabeça, melancólico.

"Ah, Gerard... como eu queria poder contar a você..."

Seguro o rosto dele.

Eu tinha medo de saber o que era? Tinha. Apesar de saber que não podia ser algo tão horrível assim (porque vamos concordar: Frank Iero não tem a capacidade de fazer algo tão ruim. Ele é um anjo), eu tinha medo que fosse algo que me fizesse surtar, como na vez em que eu vi os cortes dele.

Engulo em seco.

"Claro que pode, Frankie... eu... eu não vou contar pra ninguém, eu juro."

Ele me olha diretamente por alguns segundos.

Os olhos estavam tristes, como se realmente precisasse desabafar, mas ao mesmo tempo, tivesse medo de fazê-lo.

Ele cola a testa na minha e me beija, acariciando os pelos da minha nuca.

"Um dia, okay? Um dia eu prometo que vou contar pra você."

Suspiro, mas balanço a cabeça.

Okay, Frank não se sentia seguro pra contar, tudo bem. E eu acreditava nele, realmente acreditava que ele iria me contar algum dia.

"Tudo bem... pipoca?"

Ele sorri e concorda.

Eu tava com uma pulga atrás da orelha para o que aquilo poderia ser.  Ele estava claramente com medo de me contar, então poderia ser algo com a mãe dele. Eu sabia que Frank não queria que eu tivesse raiva de Linda, mas... não acho que ele faria tanto suspense por algo desse tipo.

O trio ternura? Talvez. Provavelmente. Mas Frank nunca fez caso grande pra quando eles batiam nele. Se fosse o caso, os três teriam feito algo diferente dessa vez.

Ou talvez tenha sido outra coisa... será que tinha à ver com o bar? Será que alguém lá dentro estava o agredindo, ou... ou até pior? Eu definitivamente não queria pensar nisso, mas tudo é possível quando se trata de crueldade no mundo.

Mikey aparece nas escadas.

"Alguém disse pipoca? Eu quero."

Frank revira os olhos e se levanta, indo em direção ao anorexo.

"Tu é muito interesseiro. Nunca nem sai do quarto, mas aí só precisa ouvir a palavra 'comida' que já vem aqui encher a nossa paciência. Como é que você é tão magro?"

O anão cutuca as costelas do meu irmão, que dá um tapa em sua mão. E daí eles começam uma lutinha de tapas super energizada. Reviro os olhos.

"Calma, crianças... vai ter pipoca pra todo mundo, não precisam se agredir."

"À quem tu tá chamando de criança? Eu tenho 20 anos!"

Mikey leva a mão ao peito, ofendido. Frank coloca as mãos na cintura.

"Eu? Criança? Gerard, seu pedófilo!"

Gargalho. Mikey nos olha traumatizado.

"Eu acho que eu tenho que me mudar..."

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora