Chapter twenty six- Gerard Way

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Frank ficou em estado de choque durante três dias.

Ele não havia falado uma única palavra no carro, quando saímos daquele inferno, e ao chegamos em casa, ele apenas caminhou até o sofá e se sentou, olhando fixamente para a TV desligada.

Linda havia dito que se não pegássemos as coisas dele em dois dias, ela ia jogar tudo pela janela e tacar fogo. Eu não sabia o quanto eu poderia confiar nela com relação à isso, então precisava ir lá o mais rápido possível.

Engulo em seco.

"Frank?"

Ele não me responde. Nem parece me ouvir, na verdade.

"Gerard?"

Olho pra Mikey, que havia aparecido no alto das escadas, e agora observava o garoto. Balanço a cabeça.

"Linda expulsou ele de casa."

Meu irmão arregala os olhos.

"O quê?!"

Então explico tudo do início pra ele. Explico como Linda agiu... e como Frank agiu. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia... eu não conseguia descrever o olhar de pura dor do garoto. Eu não conseguia descrever a expressão de desespero. Ou a postura destruída no carro. Ou a aparência completamente morta agora.

Frank não comeu naquele dia, e depois de muito esforço, eu consegui que ele comesse um pedaço de pão com ovo no próximo, mas mesmo assim, o olhar dele não mudou enquanto praticava a ação.

As únicas vezes que ele saía do sofá era para ir ao banheiro, mas depois voltava ao móvel.

Na manhã do segundo dia, eu levantei cedo, e quando passei pela sala, eu o vi adormecido, sentado descofortavelmente com a coluna encostada no estofado, e a cabeça pendendo pra trás. E realmente, pareceu exatamente como daquela primeira vez, há quase dois anos atrás, onde ele veio dormir aqui em casa justamente por causa de Linda. Seu rosto parecia tão sereno quanto estava naquele dia, e não parecia ter mudado nada.

Parecia o mesmo garoto pelo qual eu me apaixonei. Parecia exatamente com o adolescente assustado que eu conheci há tempos.

Parecia exatamente com o meu amante, quem beijou minha boca e aqueceu a minha cama nas noites solitárias. Quem olhava pra mim e via meu lado bom. Quem estava lá para me fazer perceber que havia beleza no mundo.

Parecia exatamente com o meu melhor amigo, quem me tranquilizava nos dias em que eu não conseguia pensar por conta do desespero de perder tudo. Quem me dava as ideias mais mirabolantes quando eu me via à frente de um problema. Quem alegrava meus dias com piadas que com certeza não deveriam me fazer rir.

Aquele garoto num sono perfeitamente tranquilo, porém destruído por dentro, parecia exatamente com Frank. Com o meu Frank.

Fico encarando ele por incontáveis segundos, e só então eu vou pra a cozinha, fazer o café.

Quando volto pra sala, ele já tinha acordado, e voltado a fitar a televisão, mesmo que ela não estivesse ligada. Por sorte, ele pega a caneca de café que eu ofereço, mas sequer desvia o olhar pra mim ao fazê-lo.

Sequer me reconhece.

No terceiro dia, era uma segunda-feira, ou seja: tenho que deixá-lo com Mikey de manhã, porque eu já tinha faltado dias demais no trabalho, e provavelmente seria demitido no próximo erro.

"Tenta fazer ele comer, pelo amor de Deus. Tenha paciência, Mikey, aquilo foi demais pro garoto suportar."

Ele balança a cabeça, mas eu estava paranóico demais pra parar por aí.

Never Coming Home | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora