III - Visita indesejada

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Tentei me levantar da cama mas ainda me sentia tonto e quase cairia no chão se não fosse Diana fazer eu me apoiar nela.
Fomos andando até a porta e então ela parou.

— Fica aqui, vou ver se tem muito movimento no corredor.

Assenti e me sentei no sofá do quarto. Não demorou muito para Diana voltar e fazer eu me apoiar no ombro dela novamente.
Os corredores do hospital estavam vazios exceto pelas macas. Olhando pelas janelas pude ver que ainda estava escuro, então ou ainda era madrugada ou eu apaguei por mais de um dia. Enquanto tentava chegar a uma conclusão, Diana parou.

— Quanto tempo eu apaguei? – Me afastei dela e me apoiei nos meus próprios joelhos.

Ela tirou uma caixinha do bolso, apertou um botão e a caixinha acendeu uma luz.

— Ah, sei lá. Talvez por uma hora ou duas. Pronto? Vamos.

Ela nem esperou eu responder. Segurou meu braço ainda inteiro, colocou em volta do pescoço dela e saiu andando novamente pelo hospital.
Andamos pelo que pareceu uma eternidade. Subimos e descemos muitas escadas e viramos em vários corredores, até finalmente chegarmos a saída de incêndio. Eu já me sentia um pouco melhor e a tontura havia sumido.
Quando chegamos a rua Diana me pediu para eu esperar por ela enquanto buscava o carro. E foi o que eu fiz. Parado na porta de saída de incêndio, esperando Diana, tentei me lembrar da briga que tive com Uriel. Sabia que  tínhamos brigado mas não me lembrava do porquê. Meus pensamentos ficaram confusos e cheios de raiva e então ouço uma voz familiar.

— Por isso que você caiu, Lucas. – A voz era grave e serena como a de um pai consolando seu filho.

Olhei para os lados confuso procurando a voz que acabará de ouvir mas não vi nada além da calma e fria noite de São Francisco.

— Tão cheio de raiva e sentimentos improdutivos... – Continuou a voz.

Olhei para os lados mais uma vez e nada. A voz parecia vir de todos os lados confundindo meus sentidos humanos limitados, me deixando ainda mais frustado e impaciente. Em um impulso olhei para o céu. Um feixe de luz azul pairava no ar materializando um ser em tamanho natural angelical (uns 3 metrôs de altura) com um par de asas brancas. Com cabelos longos e negros, olhos azuis, armadura de ouro celestial e uma espada de montaria nas mãos ele veio até a minha direção com um sorriso nos lábios.

— A que ponto você chegou. – Ele balançou a cabeça em negação representando decepção. – O melhor General Angelical já criado em 400.000 anos, obrigado a cair na Terra para viver como humano por falta de compaixão.

— Eu não caí, Miguel. Fui derrubado em combate. – Olhava para cima para encará-lo por conta da diferença significativa de tamanho.

Ele riu. Sua risada era alta como trovões e fez meu corpo humano estremecer por dentro.

— Não minta para si mesmo, Lucas. Você sabe a verdade. Você caiu.

— Sei que decepei uma das asas de Uriel e teria o matado se você não tivesse intercedido por ele e me jogado nesse buraco imundo.

— Não intercedi por ele por quis, General. Só segui as ordens do nosso Pai.

— NÃO COLOQUE NOSSO PAI NO MEIO DISSO. VAMOS, ASSUMA SUAS PRÓPRIAS ATITUDES, SEJA UM ARCANJO HONRADO AO MENOS, MIGUEL! – Gritei.

— Honrado? O que você sabe sobre honra, General?

— Sei que não baniria um dos meus irmãos para a Terra.

— E no entanto mataria um deles. – Ele abriu os dois braços levantando a espada de montaria. Movimento esse que quase cortou meu rosto.

— ELE NÃO TINHA QUE...

— BASTA! – Miguel colocou a espada na frente das suas pernas e apoiou as mãos no cabo da espada batendo a mesma uma vez no chão. – Ainda sou seu superior você sendo General ou nã...

— VOCÊ NÃO É MAIS MEU SUPERIOR. NÃO FAÇO MAIS PARTE DA GUARDA CELESTE!

— EU DEVERIA MATÁ-LO AQUI E AGORA MESMO, SEU INSOLENTE. – A ponta da espada ficou centímetros longe do meu pescoço.

— MATE! – Andei dois passos para frente de encontro a lâmina até ela encostar na minha garganta. – FURE A DROGA DO MEU PESCOÇO, SIGA SUAS ORDENS, EU NÃO ME IMPORTO. NÃO TENHO MAIS NADA A PERDER.

Miguel continuou imóvel.

— ANDE LOGO COM ISSO! VAMOS, ATRAVESSE A PORCARIA DO MEU PESCOÇO COM SUA LÂMINA. VAMOS MIGUEL!

Miguel apenas deu um sorriso de canto de boca.

— Não. – Ele abaixou a lâmina. –  Tenho coisas mais importantes a fazer do que sujar minha espada com seu sangue inútil. Desci até aqui para dizer que você foi banido por ordens superiores, não minhas. E só voltará para o céu quando aprender a amar os humanos.

— Aprender o que? De quem foram essas ordens?

Perguntei mas não houve resposta. Miguel ergueu a espada para o feixe de luz azul e sumiu na mesma velocidade que se materializou me deixando sozinho na rua outra vez.
Bom, eu pelo menos achei que estava sozinho. Diana estava parada um pouco atrás de onde Miguel se posicionou minutos antes, com os olhos arregalados e boquiaberta.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora