XLIX - Conflito interno

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A batalha estava a todo vapor ao meu redor. Os sons das espadas tilintando uma nas outras e ossos sendo quebrados, deveriam me libertar dos meus pensamentos, mas infelizmente eu havia caído na lábia do Diabo. Eu não deveria me importar com o que ele havia dito, mas eu tinha sido pego de mãos atadas. Lúcifer tinha descoberto meu ponto fraco: Diana.
Eu havia baixado a cabeça para pensar por um segundo e quando me voltei para enfrentar Lúcifer, ele já não estava mais lá. Olhei ao redor confuso, procurando pelo meu oponente, mas não encontrei nada a não ser anjos e demônios se matando aos montes. Então ouvi um grito e me virei na sua direção apenas para ver Lúcifer carregando algo nos braços. Não, algo não. Alguém. Diana. Praguejei em Enoqueano e estava prestes a ir atrás dele quando vi Raquel mirar o arco na direção de Lúcifer.

— Não atire! Quer dizer, cessar fogo!


Raquel me olhou sem entender franzindo o cenho.


— Ele está com Diana. Quando você o acertasse, porque você o acertaria, Diana cairia. E ela não sabe voar.

— Mas senhor, ele...

— Raquel, por favor. Diga a seus arqueiros para baixarem os arcos e não mirarem em Lúcifer.

— Espero que esteja fazendo a coisa certa, General. Arqueiros Celestes, alvo cancelado! Repito, alvo cancelado!

Eu literalmente voei na direção de Lúcifer e Diana que se debatia incansavelmente nos braços de seu sequestrador. Eu estava certo de que os arqueiros tinha seguido a ordem de Raquel e abaixado os arcos, mas então eu vi um vulto dourado passando como um jato no meu lado esquerdo. Quando percebi que era uma flecha era tarde demais. A flecha acertou uma das mãos de Lúcifer que por puro reflexo, soltou Diana no ar. Mergulhei para baixo, de encontro a Diana, exatamente como as águias fazem: com as asas fechadas e rodopiando em espiral. Alcancei Diana a poucos metros do chão. Ela gritava balançando os braços, com os olhos fechados e os cabelos flutuando na frente do rosto por conta do vento a muitos km/h.
Segurei Diana pelo pulso e a puxei para perto do meu peito a envolvendo em meus braços.


— Peguei você. – Falei baixinho no ouvido dela.

Diana abriu os olhos e jogou seus braços em volta do meu pescoço enquanto eu voltava suavemente com ela para o solo.


***

— Você está bem? – Coloquei Diana no chão cuidadosamente.


Diana apenas arregalou os olhos em resposta. E antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo, senti alguma coisa atingir minha cabeça. O impacto foi tão grande que me arremessou longe. Fiquei deitado por um segundo, mas me lembrei que tinha que matar o Diabo, então comecei a tatear Mortalha e quando finalmente a achei, me obriguei a ficar de pé. As coisas entraram e sairam de foco por um segundo e então tudo voltou a ficar nítido. Quando olhei para onde deveria estar Diana, Lúcifer se postava na forma humana segurando Diana pelo cabelo, com a espada pressionando o pescoço dela.

— Me entregue a Chave. Agora!

— Não entregue a ele, Lucas. Não... – ela se debateu um pouco – não entregue a ele.

Eu não conseguia pensar. Me xinguei inúmeras vezes por ter deixado Diana vir e não a ter deixado com Dyllan. Tudo que eu queria era mantê-la segura, mas eu havia falhado miseravelmente.

— Se não me entregar a Chave, ela morre.

— Não! – Gritei. – Não a machuque. Eu vou lhe entregar a Chave.

— Não ouse fazer isso. – Advertiu-me Diana. – Se fizer eu mato você!

Desculpe Diana, pensei.
Abri a palma da mão, revelando uma luz branca com uma miniatura, o Livro, a Chave de Salomão, flutuando envolto pela luz. Os olhos de Lúcifer faiscaram de maldade ao ver o Livro.

— Lucas, não!

— Me entregue. Agora! – Ele apertou a lâmina da espada no pescoço de Diana e um filete de sangue surgiu.

Fechei os olhos. Sabia que Diana nunca me perdoaria se eu entregasse a Chave a ele mas eu não podia perdê-la. Por outro lado, não podia deixar que Lúcifer vencesse e destruísse toda vida existente na Terra. Eu estava sofrendo de um maldito conflito interno.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora