VII - Alarme falso

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Não literalmente, mas foi quase. Meu coração parou de bater por uns 7 segundos e então eu voltei a vida, trazendo ar aos meus pulmões com dificuldade. Demorei um pouco para me localizar e voltar a mim realmente. Queria me levantar, mas tive a impressão que cairia. Então preferi continuar sentado no sofá esperando minha visão focar novamente.

— Trouxe as...tudo bem? – Diana colocou a luz que ela carregava na frente do meus olhos.

— Acho que si...quer tirar isso da minha cara?!

— Ah, me desculpe – ela tirou o objeto do meu campo de visão – está tudo bem?

Não, eu queria dizer. Um exército de demônios viria atrás de nós em pouco tempo e eu não tinha como me preparar ou nos proteger. Não estava tudo bem. Mas novamente, não podia dizer isso a ela sem prepará-la antes.

— Tudo. – Me forcei a dizer.

— Ótimo, então vou arrumar as coisas para você dormir.

— Anjos não dormem.

— Mas pelo o que eu sei, você caiu e agora...

— Derrubado em combate. – Interrompi.

— O que?

— Fui derrubado em combate. Não caí.

— Tudo bem, você foi derrubado em combate e agora é humano. E humanos dormem.

— Meio humano. – Corrigi.

— Sabe o que meios humanos fazem? Eles dormem.

Ela realmente me irritava. Já teria deixado ela virar um dos bibelôs de Lúcifer, mas seria um demônio a mais para eu matar então apenas respirei fundo e esperei Diana terminar de arrumar a cama no chão da sala.

— Tudo pronto, já pode deitar. – Diana sorriu docemente.

— Eu já disse que anjos nã...

— Cala a boca e deita!

Tive vontade de retrucar mas me sentia estranhamente cansado e me deitar pareceu uma ótima opção, então apenas suspirei e me deitei. Diana saiu logo em seguida para outro cômodo da casa me deixando sozinho mais uma vez.
Fiquei olhando para o teto por alguns minutos pensado em tudo que tinha acontecido e decidi fechar os olhos para me concentrar mais em meus pensamentos e acabou que aconteceu uma coisa muito louca: eu dormi.

***

Acordei extremamente assustado e estranhamente revigorado. Cocei os olhos com as costas da mão direita e observei o sol pela janela que já brilhava lá fora. Tudo estava tranquilo, calmo e... Diana gritou. Me levantei do chão rapidamente pensando ser um dos demônios de Lúcifer. Peguei o primeiro objeto que vi na minha frente (um taco de baseball) e sai correndo na direção dos gritos. Enquanto corria pelo corredor os gritos ficaram mais altos. Ajeitei a pegada no taco de baseball e me joguei contra a porta do quarto. Ela gritou ainda mais quando me viu.

— Puta merda, Lucas! Você me assustou. – Ela estava em pé em cima da cama, vestia apenas uma camiseta grande demais que ia até a metade das suas coxas e segurava a caixinha mágica nas mãos.

Abaixei o taco de baseball e um sorriso surgiu nos meus lábios. Não soube o porquê, mas era muito agradável ver Diana naquela roupa.

— Porque você estava gritando? – Tentei me forçar a olhar para qualquer coisa que não fosse Diana e parar de sorrir. Sem sucesso.

— Minha banda favorita – ela começou a pular em cima da cama – lançou uma música nova. – Ela gritava e continuava pulando.

Em meu estado normal eu com certeza teria ficado bravo, mas eu não estava normal. Alguma coisa... alguma coisa estava esquisita. Eu me sentia esquisito.

— Porque você está com o meu taco dos Giants? – Ela parou de pular e fixou seus olhos castanhos em mim.

Não respondi. Ou melhor, não consegui responder. Eu estava concentrado em outra coisa.

— Hããã...Lucas? – Ela pulou uma última vez na cama e andou na minha direção.

— O-o que? – Pigarrei saindo do transe.

— O taco. Porque você está com ele?

— Aaaaah, o taco? Bem eu...o -ouvi gritos e... – eu não conseguia formar uma frase completa.

— E...? – Ela sorriu.

— E então vim até aqui para ver se você estava bem. – Consegui dizer finalmente.

— Que fofo! – Sorriu. – Obrigada eu acho. E bem, me desculpe por te assustar ou algo do tipo.

— Sem problemas. – Respondi rapidamente.

— Você parece estranho – Ela andou até a cama e se sentou nela – aconteceu alguma coisa? 

— O que? Não! Nada.

Sim. Me senti um pouco nervoso assim que entrei nesse quarto, eu queria dizer. Mas não disse.

— Se você está dizendo... – ela deu de ombros e voltou a mexer na caixinha mágica. – Está com fome? Anjos comem?

Anjos não comiam. Mas eu não era mais apenas anjo, era um meio humano e tinha certeza que se eu dormia provavelmente comia também.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora