XLVIII - Eu sei o que vocês fizeram na noite passada

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Lúcifer não era exatamente feio quando estava na forma demoníaca. Ele era horrível. Sua pele parecia couro vermelho misturado com preto. Um vermelho sangue bem escuro. Suas mãos eram patas e tinham quatro garras pretas grotescas saindo dos seus quatro dedos. Nos pés, três garras – também pretas – se estendiam onde deveriam ficar as unhas. Suas orelhas eram pontudas iguais ao seu queixo que carregava um cavanhaque preto como carvão. Se o Diabo tinha chifres e um rabo? Sim, ele tinha chifres. Um rabo não, mas chifres sim. Um par de chifres pretos e brilhantes como vinil, se exibiam no alto da testa fazendo uma leve curva nas pontas afiadas. Seus dentes perturbadoramente brancos e pontiagudos, deixavam um ar perverso em seus lábios negros encouraçados quando ele sorria, – como se ele não fosse perverso o suficiente – deixando seus olhos vermelhos com um quê a mais de maldade. Suas asas negras com espinhos pontiagudos nas pontas completavam o conjunto demoníaco. Lúcifer parecia literalmente um monstro. Na forma humana normal, ele não passava de um cara com cabelos tão loiros que reluziam no sol, com um par de olhos verde-mar e músculos o suficiente para dar a entender que ele era um cara saudável.
Podia ser o cara loiro com uma espada feita de aço negro – o metal infernal – vindo na minha direção? Poderia. Mas ao invés disso, o demônio de chifres e tudo que o Capeta tem direito, avançou contra mim com uma velocidade surpreendente. Bloqueei alguns golpes com Mortalha, desviei de outros, contra-ataquei e ficamos assim por horas. Nenhum dos dois parecia cansado ou que iria se render, o que significava que lutariamos assim por muito tempo. Muito tempo mesmo.

— Acha que pode me impedir, General?

Lúcifer investiu contra mim, mas então eu bloqueei o ataque com Mortalha.

— Acha que não vou tê-la? Acha que ela não vai implorar para me servir e me chamar de... Meu Senhor?

— Eu não acho, tenho certeza. Ela nunca o chamaria assim.

Ataquei Lúcifer e fiz um corte no seu ombro esquerdo que teria atingido seu coração se ele não desviasse rapidamente do ataque.

— Eu não acho, tenho certeza. – Repetiu ele rindo – Como é mesmo que ela me chama? Ah sim, Príncipe das Trevas.

— Você não sabe nada sobre ela! – Falei desferindo um golpe atrás do outro.

— Não? – Disse-me desviando. – Certeza? Então me diga, Lucas, como sei que ela gosta de você? Como sei que ela imagina um futuro, uma vida com você? Como sei que ela falou de você para... anw que amável, para a mãe dela?

— O que? Você está mentindo. – Disparei.

— Estou? Então, como sei de ontem? Me diga, como sei o que vocês fizeram na noite passada? – Ele sorriu.

Eu ia atacar, mas hesitei. Como ele sabia do havia acontecido entre mim e Diana na noite anterior? Eu estava confuso. E os gritos e barulho da batalha não ajudavam a clariar minhas ideias.

— Ah, sim... – disse ele abaixando a espada – eu sei de tudo que aconteceu. Sei de todos os detalhes sórdidos. Eu estive na mente dela, sei o que se passa naquela cabecinha. Annw, ela está tão assustada... preocupada que o anjinho dela não volte desta batalha. Anjinho... não é assim que ela te chama?

Ele havia me pegado. Não tinha como ele saber dessas coisas a não ser que ele estivesse mesmo vasculhando a cabeça de Diana. Eu estava sem reação, sentia o sangue pulsar em meus ouvidos e meu corpo gelar só de imaginar a cabeça de Diana sendo bisbilhotada pelo Diabo.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora