Se passaram 3 dias desde que fui ao Cemitério dos Anjos. E depois de pensar dia e noite na minha lembrança com Muriel, tinha mais certeza do que nunca que não deveria ficar no Céu. Como Muriel dizia, eu queria ser livre.
Era fim de tarde, eu estava sentado exatamente onde conversei com Muriel pela última vez. Mas agora, ao invés de Manhattan, eu olhava para São Francisco. Eu me sentia infeliz, me sentia incompleto. O Céu não era mais meu lugar.— Está pensando nela? Que pergunta a minha, é claro que está.
— Não sei se deveria voltar a vê-la.
— O que eu estou ouvindo? Lucas vai finalmente seguir uma ordem? Que demônio voltou a ser anjo para isso acontecer?
— Não estou seguindo ordens. Só... eu não quero magoa-la
— Mostre-me Diana... como é mesmo o nome? – Gabriel franziu as sobrancelhas.
— Müller. Diana Müller.
— Mostre-me Diana Müller.
Abaixo de nós, a imagem da baía de São Francisco tremeluziu e mostrou Diana em um jardim com tulipas – talvez a casa dos pais – olhando para o céu.
— Olhe para ela Lucas. Acha que ela está feliz?
Uma senhora com os mesmos olhos cinzentos de Dyllan apareceu no jardim e abraçou Diana. Em seguida, lhe entregou uma xícara.
Café. Café preto, pensei.
Era a única coisa que Diana tomava.
As duas se sentaram uma ao lado da outra e começaram a conversar. Mas de vez em quando Diana olhava para o céu.— Não. – Disse por fim.
— Ainda acha que não deveria voltar a vê-la?
— Eu... eu não sei.
— Desde que chegou você planejou e executou duas guerras, aceitou a missão de Isaque, dizimou metade do inferno atrás dele e quase foi morto 30 vezes em 3 dias.
— Só fiz o meu trabalho.
— Não, você está tentando cometer suicídio. Está tentando mostrar a nosso... – ele se interrompeu – desculpe, a Deus, que você está infeliz. Seu lugar não é mais aqui. É com ela.
— Você sabe tanto de mim que até me assusta.
— Você é meu irmão caçula. É meu dever conhecê-lo.
— É, talvez seja.
— Vou falar sobre você com Deus esta noite na festa de retorno de Isaque.
— Tinha me esquecido dessa coisa.
— Nada fora do normal, caçula. Vá se preparar para a festa. E por favor, vê se não brigue com ninguém dessa vez.
Antes que eu pudesse protestar, Gabriel saiu me deixando sozinho. Olhei para a imagem uma última vez e a desfiz com um aceno.
***
Naquela noite mais tarde, aconteceu uma festa para celebrar o retorno de Isaque.
O pavilhão central - que era usado para festas, avisos, comunicados e etc – tinha uma mesa gigante com todo tipo de comida e o melhor vinho que você pode imaginar. Nós anjos não costumávamos comer, mas quando havia festas, nós víamos obrigados a abrir uma excessão.
Eu tinha acabado de chegar ao pavilhão e precisava me certificar de que Gabriel havia falado com Deus, mas imagine a cidade mais populosa que vier a sua mente. Agora imagine o centro dela em uma segunda-feira no horário do almoço. O pavilhão central estava pior que isso. Antes de entrar na multidão respirei fundo e falei para mim mesmo:— É bom você ter falado com Deus, Gabriel.

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Anjo Meu
Fantasía🔹TRILOGIA ANJO MEU - LIVRO I🔹 "[...] ela estava concentradíssima em limpar meu ferimento. Seus olhos castanhos escuros estavam focados e sua expressão mesmo séria, não conseguia esconder a garota alegre e divertida que ela era; seus lábios, os qua...