XXIV - Desculpe pelo celular

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A cabeça de Uriel estava cravada na lança dele, exatamente como eu disse que faria. Me sentia satisfeito mas mesmo assim, eu tinha um pequeno problema: o corpo de Uriel sem cabeça, e a cabeça ainda estavam no meio do parque pingando sangue dourado. Não podia deixar Diana ver aquilo era uma cena forte demais para qualquer humano e eu não queria deixá-la ainda mais assustada. Eu precisava sumir com aquilo.
Olhei para o corpo sem cabeça de Uriel e simplesmente quis que aquilo sumisse dali, e então estalei os dedos. Puff! O corpo sumiu deixando uma poeira dourada brilhosa. Fiz a mesma coisa com a cabeça e ela sumiu exatamente como o corpo.
Tirei a lança da terra e olhei para ela. Uma lança de pontas duplas, com as lâminas em um verde claro que pareciam ter vida própria. A haste da lança era azul marinho e tinha o nome de Uriel gravado em Enoqueano. Ela era pesada, lenta demais. Mortalha era mais leve e ágil. Decidi sumir com a lança também. Mas um estalo de dedos, e a lança que quase me matou minutos antes, se foi em um brilho verde.
Diana estava com os olhos fechados bem apertados e com a cabeça virada de lado. Andei até ela e toquei seu rosto. Ela abriu os olhos e sorriu.
Quando eu estava morrendo, achei que nunca mais veria aqueles olhos castanhos intensos e o sorriso largo dela. Naquele momento, naquele milésimo de segundo, minha preocupação não era estar morrendo ou o sentimento de falhar na missão.  Minha preocupação era nunca mais ver Diana.
Abracei ela por uns longos minutos e eu realmente estava satisfeito. Claro que queria me dar tapas até perder minha patente de General por ter deixado Diana sozinha pela 3° vez, mas aquele sorriso dela era como se fosse uma enxurrada de morfina. Eu não sentia as dores da batalha que acabei de ter ou o peso da missão que ficaria cada vez mais difícil a partir daquele momento. Tudo que eu sentia era que Diana estava a salvo, segura e sem nenhuma ameaça eminente.

— Está pronta? – Falei ainda abraçado com Diana.

— Para que?

— Ir para casa. Te fiz uma promessa. Só que bem... me atrasei um pouco.

— Nada fora do normal. – Rimos e logo depois nos separamos do abraço.

— Madame. – Ofereci meu braço a ela.

— Arcanjo. – Ela sorriu e agarrou meu braço.

Saimos do parque andando calmamente. A chuva tinha cessado, as estrelas começaram a surgir por entre as nuvens cinzentas que começavam a se dissipar mostrando o brilho bruxuleante da lua. São Francisco estava enfim pacífica novamente.

— Lucas? O que você ia me dizer antes de você desmaiar?

Caminhamos mais alguns centímetros em silêncio apenas com a pergunta de Diana pairando sob o ar, até eu finalmente parar e me por defronte a ela.

— Eu ia dizer... – abaixei a cabeça e respirei fundo – que sentia muito por não conseguir te proteger.

— Que grande idiotice – ela agarrou meu braço novamente me obrigando andar com ela – você sempre me protegeu.

— É, acho que sim. Diana?

— Hum? – Ela olhou para mim de baixo para cima por conta da diferença de tamanho.

— Achei seu celular. – Tirei o objeto do bolso mas ele estava todo quebrado devido a luta com Uriel.

— Aaah, que grande porcaria. Isso é por você ter quebrado meu celular, – ela me deu um soco no braço – e isso – Diana esticou um pouco o pescoço e me deu um beijo na bochecha – é por ter vindo atrás de mim.

Paramos na frente de casa, bom quer dizer, eu parei enquanto Diana continuou andando em direção a porta.
Se tem uma coisa que eu aprendi naquela noite, era que eu não mediria esforços para proteger Diana. Daria a minha vida por ela se fosse preciso. Mas o mais importante era que Ezarel e Castiel haviam feito seu trabalho muito bem. Eu com certeza sentia algo muito forte por ela.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora