IX - Calda de chocolate

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Panquecas eram boas. Ótimas na verdade. Comia cada pedaço pensando que os humanos tinham lá seu lado bom. Diana entrou na cozinha e sorriu ao me ver comendo. Foi até o armário e pegou um recipiente que parecia uma jarra mas em tamanho menor.

— Experimenta com isso. – Ela colocou a mini jarra em cima da mesa e se sentou novamente.

Olhei para ela tirando minha atenção das panquecas por um segundo.

— O que? – Ela riu. – É apenas calda de chocolate. É só colocar por cima das panquecas.

Hesitante, fiz o que ela disse. Peguei mais um pedaço de panqueca, agora com calda de chocolate, e comi. O sabor era ainda melhor.

—  Gostou? – Ela levou a mão sobre a boca para tentar esconder o riso.

— U-uhum!

Era tudo o que eu conseguia falar no momento por consequência da minha boca cheia de panquecas. Após as engolir, olhei para Diana que tinha desistido de tentar escoder o riso.

— Qual a graça? – Falei sério levantando uma das sombrancelhas.

— Você... – ela respirou fundo – está com a boca suja de calda de chocolate.

— O que? – Usei as costas da mão direita para limpar a boca. – Saiu?

Diana assentiu ainda sorrindo e voltou a ficar séria com um pouco de dificuldade.

— Pergunte o que ia me perguntar antes do meu celular te interromper. – Ela levantou a caixinha mágica.

— Por que você foi até aonde eu...caí? – Odiava usar essa palavra.

— Huum, ótima pergunta. Hãããã...bom, eu vi uma espécie de cometa caindo na direção do Sutro Heights Park. Fui até lá, como a excelente curiosa que sou, e encontrei você ao invés de um pedaço de... sei lá, um pedaço da lua.

— E por que você não me deixou no hospital? Por que quis me ajudar?

— Primeiro, eu quis te ajudar porque nem todos os humanos são horríveis. Você precisava e ainda precisa de ajuda então eu fiz o que considero certo. E segundo, nenhum médico iria conseguir ajudar você já que seu problema é a sua... ai Deus, não acredito que vou dizer isso – ela levou a mão até a testa – sua graça.

— Acredito que a próxima pergunta que eu faria, você já tenha respondido.

— Que seria?

— Porque você me trouxe para cá e não me deixou na rua?

— Sei lá, tive medo que você morresse no meio da rua e dias depois eu visse no noticiário que encontraram um cara morto a algumas quadras do Sutro Heights Park e eu ficasse com a conciência pesada o resto da minha vida, sabendo que eu poderia ter ajudado você e não ajudei. E também... eu vi umas coisas que aconteceram com você quando toquei nas cicatrizes das suas asas e... ai, ta bom. Eu fiquei curiosa.

— Curiosa?

— Sim! Tipo anjos existem e cacete, Deus é real! Quero saber algumas coisas, perguntar com elas funcionam. Tipo, quem deu o nome cachorro para o cachorro? Por ele se chama cachorro e não papagaio? Quem inventou a dor de cabeça? Por que...

Minha cabeça ficou confusa. Diana fazia muitas perguntas ao mesmo tempo e era até que engraçado vê-la toda empolgada, mas não entendia como uma humana tão alegre e com o coração bom como dela poderia virar um demônio. Essas criaturas eram seres más, sem alma, que só se importavam com eles mesmos e Diana... bem, Diana não era assim.
Até aquele momento eu não queria ficar na Terra para proteger uma humana, não queria a missão. Mas algo dentro de mim havia mudado. Agora, eu iria usar tudo o que aprendi como General, toda a experiência que adquiri matando demônios a 400.000 anos, usaria para proteger Diana. Não iria ser fácil, mas também ninguém nunca disse que seria.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora