XII - Momento de fúria

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Depois do incidente no hospital que já havia acontecido a uns três meses, Diana e eu acabamos nos conhecendo melhor e nos acostumamos um com o outro.
Ela me contou como era a vida dela antes de eu aparecer e eu contei a minha antes de ser derrubado em combate. Diana tinha 23 anos, era dona de uma pequena floricultura chamada “Toque de Flor” e tinha se mudado para São Francisco a mais ou menos um ano, mas era natural de Half-Moon Bay uma cidade a 47 km de lá. Ela me disse que tinha um irmão mais novo de 18 anos, Dyllan, mas que ele não era de sangue.
Contei a ela algumas coisas que ela queria saber sobre o céu e como era fazer parte da Guarda Celeste.
Passei a ajudá-la na floricultura, mas nunca me esquecendo da minha missão. Sempre que podiamos, eu e ela procurávamos alguma coisa sobre a Chave. Em uma dessas pesquisas descobrimos que não se tratava de uma chave em si, se tratava de um livro que era escrito pelo própio Rei Salomão. O livro instruia seus seguidores e mestres a convocarem forças espirituais malignas muito poderosas. E foi ai que eu percebi que Diana era um dos receptáculos dos Cavaleiros Infernais e não um Cavaleiro Infernal necessariamente.

***

Acordei tarde naquela manhã. Na noite anterior, Diana havia me pedido para cuidar da floricultura enquanto estivesse fora, ela havia me prometido que seria apenas por meia hora, e eu concordei que estaria lá as 8h da manhã  em ponto. Bem, isso foi antes nós saírmos com uns amigos dela para uma coisa que os humanos chamam de social e eu tomar 5 shots de tequila.
Acordei com uma dor de cabeça desgraçada e um gosto ruim na boca. Me levantei e achei estranho a casa estar quieta e não ao som de Diana cantando, mas então eu lembrei:
“Floricultura às 8h, Lucas. Não se atrase.” Olhei no relógio do aparelho em cima da Tv, ele marcava 11h04 e eu estava um pouco atrasado. Me joguei contra o chuveiro o mais rápido possível e sai de lá na mesma velocidade vestindo a primeira roupa que vi pela frente. Sai de casa, peguei a chave e tranquei a porta, já com o pensamento que Diana me mataria assim que eu chegasse na floricultura. Eu não tinha tomado café da manhã e acho que meu estômago tinha me agradecido por isso.
A floricultura não era longe, então pude ir caminhando pelas ruas de São Francisco. No caminho, passei por uma esquina e parei ao ver Rafael parado me esperando, com um terno de risca-de-giz azul.

— Ah, Lucas – disse-me ele com entusiasmo – estava esperando por você. Venha, vou comprar flores hoje.

Não disse nada. Apenas encarei os olhos castanhos dele e continuei andando.

— Está um belo dia, não acha? Como vai a humana?

— Ela tem nome.

— Vejo que tem um certo afeto pela moça. Mas muito bem, foi grosseiro da minha parte, peço desculpas. Como vai Diana?

— Bem.

— Ótimo, então sua missão está correndo como planejada?

— Em parte. O que quer, Rafael?

Paramos em um sinal fechado para pedestres. De cima do morro, ao longe, podia ver uma pontinha da Golden Gate e o mar espelhando o dourado do sol da manhã.

— O que eu quero? Irmão, não desci até aqui para mostrar minha superioridade igual a um certo Arcanjo – ele fez aspas com as mãos no “superioridade” – vim ajudar você, informá-lo.

—  A troco de que?

O sinal abriu e eu voltei a caminhar deixando Rafael correr atrás de mim praguejando na língua dos anjos, Enoqueano.

— Você era um General e tanto. Sinto falta das festas em homenagem ao Anjo que voltou vitorioso ao lar com mais um território conquistado.

— Comovente. – Peguei as chaves da floricultura no bolso e coloquei uma delas na fechadura.

— Uriel tem o comando da Guarda Celeste.

Parei o que estava fazendo quando ouvi Rafael mencionar o nome de Uriel.
Minha guarda, meus soldados, meu posto. Tudo sobre o controle de Uriel. Pensar nisso me fez querer decepar a outra asa dele com as minhas próprias mãos. Contei até 10 para tentar me acalmar e voltei meu foco em abrir a floricultura. No momento em que abri a porta, o perfume das flores golpeou meu nariz me fazendo lembrar sem querer de Diana, era o perfume dela. Isso quase, me acalmou. Quase. Eu entrei e Rafael veio atrás.

— Como?

— Disseram-me que nosso pai, Deus, entregou o que era seu a ele.

Não consegui me controlar. Abri a porta dos fundos da floricultura e olhei para o céu.

— VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COMIGO! VOCÊ ME ENTREGA UMA MISSÃO IMPOSSÍVEL SEM MINHA GRAÇA, DA A URIEL, O ARCANJO DESONROSO TUDO O QUE ERA MEU! E POR QUE? O QUE VOCÊ QUER? – Gritei.

Se ouvia apenas o cantar dos pássaros em resposta.

— ME ESCUTE BEM VOSSA EXCELENTÍSSIMA SANTIDADE, VOU CUMPRIR MINHA MISSÃO E VOLTAR PARA O CÉU. E QUANDO EU VOLTAR, PODE SE CONSIDERAR COM 6 ARCANJOS, PORQUE EU MESMO VOU MATAR URIEL COM A LANÇA DELE!

Voltei para dentro e expulsei Rafael de lá. Não quis saber o que de tão importante o trouxe a Terra, não queria saber se tinha haver com Lúcifer ou Diana. A única coisa que eu queria, era a cabeça de Uriel cravada na sua própia lança.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora