Acordei mais cedo que o de costume na manhã seguinte.
Afastei os móveis da sala deixando um bom espaço no tapete. Não podia ficar grudado em Diana 24 horas por dia então, ensinaria ela a se defender sozinha.
O problema é que isso fez mais barulho do que imaginei que faria. Diana apareceu na sala com um pijama de ursinho, coçando os olhos com as costas da mão.— O que você esta fazendo na minha sala? – Disse ela com uma voz sonolenta entre o bocejo.
— Desculpe, não queria ter acordado você. Estou afastando os móveis.
— E porque? Está escuro ainda, Lucas. – Diana abriu uma das cortinas revelando a escuridão lá fora.
— Eu sei. Mas não consigo mais dormir como antes.
— Aaah, esqueci de ontem. Gabrieeeeeel – ela bocejou novamente – a graça, esse negócio todo.
— Volta para a cama, vou parar de fazer barulho, ta?!
— Só se você me responder porque tirou meus móveis do lugar.
— Te explico quando acordar de verdade. Vai, volta a dormir.
Diana falou alguma coisa como um “boa noite” e voltou para o quarto. Me sentei no tapete e comecei a repassar minha vida desde antes da queda. A verdade é que eu sentia falta das minhas asas, mas não da minha vida antiga.
Me deitei no tapete da sala, e fechei os olhos por um momento. Quando eu os abri eu não estava mais na sala de casa. De algum modo sabia que era o Céu, mas não havia sido feito Transporte de Consciência. Sei disso porque não tinha sentido dores, nem nada do tipo.
Era em um jardim muito bem cuidado com flores de todos os tipos, cores e formas impregnando o ar com seus perfumes doces. Eu estava deitado, exatamente como estava na sala de casa, mas agora ao invés do teto, olhava para o céu azul com suas nuvens branquinhas fazendo vários formatos. O que não fazia sentido nenhum, porque ainda era madrugada em São Francisco.
Me levantei da grama desconfiado, nada daquilo fazia sentido. Levei a mão sobre o ombro procurando Mortalha.— Não vai precisar disso, Lucas.
— Pai?!
Me virei na direção da voz, apenas para ver um homem com a pele bronzeada e com cabelos que um dia já foram castanhos, mas que agora assumiam um tom cinzento, grisalho. Seus olhos eram verdes como os meus, mas em um tom mais escuro, sóbrio. Ao redor de seus olhos, linhas e marcas de expressões típicas de quem sorri muito. Ele não era muito forte, ou muito magro. Tinha um físico considerado normal na Terra. Deus estava vestido como sempre: terno e sapatos brancos, sem gravata com uma camisa azul pastel por baixo do paletó.
— Estou feliz que você está obtendo êxito na missão que lhe dei. Sabia que você era o anjo certo para ela. – Ele sorriu calorosamente andando até mim.
— Êxito? EU QUASE MORRI!
— Mas você está vivo, não está?
— Estou vivo por um milagre de D... – eu mesmo me interrompi. – Quase falhei em proteger Diana, ela foi sequestrada pelo seu finado Marechal Uriel e quase entregue a Lúcifer por falha minha! E eu...
— Você o que, meu filho? – Ele sorriu pois já sabia a resposta de sua própria pergunta.
— Você sempre faz isso. – Ri incrédulo. – Porque você fez isso?
— O que eu fiz, Lucas?
— Vou te dar dois nomes, pai. Ezarel e Castiel.
— O que tem meus cupidos?
— O que tem seus cupidos? – Foi tão irônico que me vi obrigado a rir. – O senhor os mandou atirarem em mim, pai!
— Essa também era a sua missão, meu filho. – Sua voz serena tentava me passar a calma, mas eu só fazia me irritar mais.
— E precisava ser assim? O senhor mais do que ninguém sabe o que vai acontecer quando tudo isso acabar.
— Nem mesmo Deus sabe de todas a coisas, criança.
Desisti de tentar argumentar com meu pai. Não chegaríamos a lugar nenhum. Todas as vezes que discutíamos, eu ficava irritado e meu pai fingia que não me entendia e me dava respostas vagas, então simplesmente fiquei quieto.
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Anjo Meu
Fantasy🔹TRILOGIA ANJO MEU - LIVRO I🔹 "[...] ela estava concentradíssima em limpar meu ferimento. Seus olhos castanhos escuros estavam focados e sua expressão mesmo séria, não conseguia esconder a garota alegre e divertida que ela era; seus lábios, os qua...