XXXVI - Sumidão

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Acordei com meu corpo voando em direção a praça, segundos depois da minha cabeça dar uma de martelo e fingir que o asfalto era um prego. Um pouco antes do meu corpo ser jogado contra o carvalho centenário da praça, eu só tive tempo de falar e pensar uma coisa antes de sentir meu impacto contra a árvore:

— Mas que grande mer...

Então senti o impacto da minha coluna vertebral dando “olá!” para o tronco do enorme carvalho.
Respirei fundo e me coloquei de pé a tempo de ver meu irmão mais velho vindo na minha direção.

— Lucas!

— Satã.

— Vejo que herdou o senso de humor sarcástico de Deus.

— Por que será que todo mundo diz isso?

— Olhe, começamos com o pé esquerdo.

— Você acha?

— Não tenho nada contra você, irmão. Mas você está com duas coisas que pertencem a mim. Me entregue-as e eu deixo você ir. O que acha?

— Duas coisas? – Ergui uma sombrancelha.

— O receptáculo e a maldita Chave de Salomão.

— Ela tem nome. E enquanto vá Chave de Salomão? Não sei nem o que é.

— Você que quis ir pelo caminho mais difícil.

Os olhos de Lúcifer brilharam em vermelho e o vento começou a soprar violentamente. Ele balançou a cabeça negativamente e sorriu para mim.

— Sinto muito por você. Não é nada pessoal, irmão.

Lúcifer levantou a mão direita e estalou os dedos. Virei a cabeça para o lado e fechei os olhos sentindo a morte eminente chegando, mas se passou segundos desde o estalar de dedos e eu continuava inteiro. Abri um dos meus olhos enquanto o outro se mantinha fechado para verificar ao meu redor. Tudo estava do jeito que deveria estar. Lúcifer olhou incrédulo para a própria mão, como se ela não fizesse parte do seu corpo.

— Mas não pode ser. Você só poderia resistir a isso se fosse um...

— Arcanjo? – Sorri.

Olhei para Lúcifer com os olhos brilhando em azul e bati as mãos uma vez na direção dele. Meu irmão voou longe com a rajada de vento que lancei nele. Mas eu sabia que não seria por muito tempo e eu não tinha mais o elemento surpresa. Corri na direção de Diana e Dyllan. Os dois estavam bem. Arranhados mas bem.

— Lucas! – Diana se lançou nos meus braços me dando um abraço apertado.

— Estou bem. E vocês?

— Estamos bem. – Nos separamos do abraço.

— Ótimo, precisamos sair daqui.

— Cara, o que está acontecendo? – Dyllan me lançou um olhar assustado e confuso.

— Te explico depois, Dyllan. Agora precisamos sair daqui.

— Mas como? O carro está um pouco... inacessível no momento.

Olhei por cima do ombro por um segundo. A picape 4x4 tinha batido no carro e o tombado de lado. Mesmo que eu o fizesse ficar sob as quatro rodas novamente, o motor provavelmente já era. Pensei por um momento.

— Isso vai ser desconfortável.

— O que vai ser desconfortável? – Diana me olhou assustada.

Abracei Diana com apenas um dos braços e a mão livre coloquei no ombro de Dyllan. Nunca tinha dado um Salto com humanos, mas esperava que funcionasse do jeito que funcionava com anjos. Desejei estar em casa e quando Lúcifer veio na nossa direção, sumimos deixando apenas um brilho dourado no ar.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora