XXIII - Eu cumpro uma promessa

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Diana me abraçava com força como se isso pudesse me fazer parar de sangrar até a morte.
Abri os olhos, e consegui enxergar Diana pelo que parecia ser a última vez. As lágrimas dela se misturaram com as gotas de chuva presentes em seu rosto.

— Permissão negada, General. Está me ouvindo?! Você não pode ir, por favor... preciso que alguém diga que eu cante mal pela manhã, eu preciso... preciso de você. Lucas não... – ela havia voltado a chorar – não morra agora...

Diana sorriu ao me ver acordado, mas nós dois sabíamos que eu não resistiria.
Ela olhou para cima, para o céu através da chuva procurando um conforto.

— Essa missão foi ideia de vocês. – Gritou. – E agora ele está morrendo porque um de vocês não aguentou receber um não! Façam alguma coisa, vocês não podem deixar ele morrer. Não por isso, vocês não tem esse direito. – Diana abaixou o tom novamente e olhou para mim. – Por favor...

Por um momento só se ouvia o barulho da chuva que começava a diminuir, mas então um trovão mais alto ribumbou perto do parque iluminando tudo a nossa volta e um feixe de luz azul surgiu no céu. Gabriel se materializou em tamanho natural humano com sua armadura de ouro celestial, espada na cintura e um par de asas brancas bem a mostra.
Diana me apertou com força contra ela com medo que alguém mais me ferisse.

— Tenha calma, Diana. Eu vim ajudar. Me chamo Gabriel. – Ele se aproximou e se ajoelhou ao meu lado. – Não tenha medo, não farei mal a ele. Você pediu para que tomássemos providências e é isso que estou fazendo, atendendo seu pedido.

— Não o deixe morrer...

— Lucas não morrerá hoje. Não posso deixar meu irmão caçula morrer.

Gabriel abriu uma das mãos e um frasquinho transparênte com uma espécie de névoa azul brilhante surgiu. Ele abriu o frasco e o despejou na minha boca. Senti meu ferimento na barriga se fechar rapidamente. Meus cortes, contusões, machucados e até meu braço quebrado, serem  curados rapidamente. Meus olhos brilharam em azul e eu finalmente respirei, trazendo o ar que se esvaía a segundos antes, para os meus pulmões.

— Essa é a parte difícil. Ele pode não aguentar.

— Aguentar o que? O que você deu a ele?

— A graça de um Arcanjo. Se ele aguentar, Lucas será o 7° Arcanjo de Deus.

Meus olhos pararam de brilhar e se fecharam. Ninguém respirou ou falou pelo que pareceu uma eternidade.

— Que horas sai o jantar? – Sorri.

— Ai meu Deus, Lucas! – Diana me abraçou com tanta força que achei ela fosse me quebrar.

— Diana...

— Eu nem acredito! Ai meu Deus!

— Diana, está me sufocando...

— Desculpa, desculpa. – Ela me soltou e eu me sentei na grama.

— Gabriel.

— Arcanjo.

— O que vo... espera, Arcanjo?

— Você suportou o poder e fez por merecer. Deus está muito satisfeito com o seu trabalho.

— Espera então...

— Sim. – Gabriel se levantou me estendendo a mão.

— Cacete... – Segurei a mão de meu irmão e me coloquei de pé.

— Não posso ficar, caçula. É bom te ver de pé.

— É bom te ver também, irmão. – Ajudei Diana a levantar do chão. – Obrigado.

— O mérito é seu. Cuide bem dela.

— Faço isso desde que a vi.

— Obrigada Gabriel. – Diana assentiu sorrindo graciosamente.

Gabriel acenou com a cabeça e ergueu a espada para o céu. Um feixe de luz azul apareceu e meu irmão sumiu.

— Termine o que começou, Lucas.

A voz de Gabriel ecoou pela minha cabeça. Ele não precisava falar mais nada, eu havia entendido o que ele queria dizer.
Peguei a lança de Uriel no chão. Diana segurou meu pulso, e nós nos olhamos. Uma discussão silenciosa começou e após alguns segundos ela soltou meu braço.
Andei até Uriel que estava agonizando com Mortalha atravessando seu abdômen.

— Prometi que teria sua cabeça cravada na sua própria lança esta noite. E você sabe como são promessas para mim.

Estendi a mão para Mortalha e ela veio até a minha mim, desprendendo Uriel da terra e arrancando um grito de dor.

— Diana, não olhe! – Gritei com os olhos fixos em Uriel.

Desferi um único golpe com Mortalha separando a cabeça e o corpo de Uriel. Peguei a cabeça do meu irmão pelo cabelo e cravei na lança, prendendo a mesma no chão. Minha promessa estava cumprida.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora