LXV - Anjo Meu

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—  Pai?

Bati nas imensas portas de carvalho. Elas se abriram e mostraram meu pai sentando na sua cadeira de couro.

— Estava esperando você, entre.

— Pai, olha eu...

— Você sabia que antes de você nascer existiu uma anjo capaz de prever o futuro? Lauriel era seu nome. Ela era General da Guarda Celeste, e assim como você ela a comandava com maestria. Em uma certa batalha, ela desertou. Aconteceu uma emboscada que matou a Guarda Celeste toda, mas antes de morrer, Lauriel abriu um portal e voltou para para cá, para o Céu. Ela apareceu bem no meio do meu jardim. Eu corri até ela e a segurei em meus braços, mas antes que eu pudesse perguntar o que aconteceu, ela me olhou nos olhos e disse:
"Pai, um Arcanjo caído e uma Baalihan, irão se apaixonar. Dessa união, um menino, um Nefilim, irá surgir e por suas mãos o inferno irá se erguer ou se destruir."

Meu pai fez uma pausa como se estivesse tentando se desprender daquela lembrança dolorosa.

— E foi assim que Lauriel morreu nos meus braços. A princípio achei que fosse Lúcifer, mas quando mandei os Cupidos atirarem em você percebi que estava selando o meu destino. Percebi que o Arcanjo caído de qual Lauriel mencionou a muito tempo atrás, era você.

Meus pensamentos viraram uma bola de confusão. Gabriel já havia mencionado Lauriel antes, mas ouvir essas palavras da boca de meu pai como um soco na boca do estômago. Meu futuro filho, em um piscar de olhos poderia liberar tudo o que eu lutei a minha vida toda para conter.

— É por isso que o senhor não quer que eu volte na Terra. Pai, o senhor não quer que ela gere uma criança.

— Não é apenas uma criança, Lucas. É o Nefilim mais poderoso que já existiu. Ele terá três sangues correndo em suas veias: humano, demoníaco e angelical. Lucas, ele poderá ser mais poderoso do que eu.

— Pai, o senhor está se esquecendo que Lauriel falou que ele poderia destruir o Inferno.

— Não temos como saber de que lado ele vai estar. Por isso tento evitar seu nascimento.

— O senhor sabe que se isso for verdade, nem mesmo Deus pode impedir que o futuro se cumpra. Pai, por favor seja racional.

— Estou sendo racional, meu filho. Por isso não quero que você volte a vê-la.

— Pai, eu não posso fazer a sua vontade. Não essa.

— Lucas, o seu filho...

— Que nem existe! Deus, o senhor está com medo de um bebê?

— Não estou com medo de um bebê, não seja tolo, Lucas! Mas temo pelo o que ele pode se tornar quando atingir a idade adulta ou até mesmo a adolescência.

— Se isso for verdade, não acredito que ele possa se tornar o monstro que você tanto teme. Pai, ele seria meu filho. Acha que deixaria meu filho se torna um monstro? Pense nisso. –Andei até as portas e elas se abriram.

— Onde você vai?

— Onde o senhor acha?

— Lucas, volte aqui! Eu te proíbo de...

— O senhor sempre me proíbe, pai. E nunca adianta. – Sorri.

— Lucas!

Deixei meu pai gritando na Salinha da Tortura enquanto as portas de carvalho se fecharam atrás de mim, deixando a voz de meu pai cada vez mais longe enquanto eu me afastava.

***

A fachada da floricultura estava exatamente do jeito que eu lembrava exceto pela placa que carregava o nome da floricultura. Antes, a placa carregava o nome de Toque de Flor, agora tinha um nome diferente que eu particularmente gostei mais: Anjo Meu. Tinha o contorno de um anjo ajoelhado em preto e branco segurando uma flor colorida nas mãos, uma rosa vermelha.
Parei e sorri olhando para a placa com o nome da floricultura. Diana era inacreditável.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora