Prólogo

42 5 0
                                    


Um sonho de adolescência! Acho que tinha cerca de quinze anos quando o vi pela primeira vez. Não foi ao vivo não, foi pela TV. Nada dessas modernidades em HD, com milhões de pixels, formato de cinema e tão finas que podemos fixar na parede. Era daqueles modelos antigos, de tubo, quadradona, o "controle remoto" era uma madeira que a gente, com preguiça de levantar, cutucava o painel. Canais eram poucos, seis ou sete, mas na maioria das vezes estava sempre no mesmo, era o mais famoso, com os melhores programas e as melhores novelas.

Ele até já tinha aparecido antes, mas não dei muita atenção, achei bonitão, uma voz gostosa, fazia um personagem secundário, mas a estória não atraiu muito a nossa atenção, na verdade não atraiu em nada a atenção da principal noveleira da casa, minha mãe, então pouco vi.

Só que a coisa mudou de figura. Começaria outra estória e ele seria o protagonista, aí não teve jeito, eu perturbei tanto que convenci a maior noveleira da casa a acompanhar e daí em diante não se perdia um capítulo. Quando não estávamos em casa o VHS fazia o serviço. Foi quase um ano dedicado a ele, cada cena, cada momento romântico, cada reviravolta na estória estávamos lá, sedentas. Minha mãe acompanhando a estória e eu, bem eu só queria acompanhar ele mesmo.

Usando termos atuais eu posso dizer que ele foi meu primeiro grande crush. Pensando bem, em termos de alguém inalcançável, ele foi o único. Eu suspirava cada vez que ele aparecia, fosse de que forma fosse, sem blusa, montado seu cavalo, triste, com uma viola, trocando beijos ou desaforos com a protagonista, eu não estava nem aí, só tinha olhos pra ele. Quando a estória acabou e ele sumiu da minha tela, me senti um pouco viúva, abandonada, quase sem rumo.

Provavelmente é difícil para quem não viveu aquela época entender como nos sentíamos desamparadas com o sumiço de nosso crush, de nossos ídolos. Nós não tínhamos canais de vídeos na internet para ver e rever nossas cenas prediletas, e as fitas VHS, de tanto que gravávamos por cima ou de tanto que revíamos, acabavam com uma qualidade horrorosa ou arrebentadas. Isso sem dizer que não cabiam mais de três ou quatro capítulos em cada uma.

Pra não me sentir tão "abandonada" eu me apeguei ao seu maior talento, a música. Passei a adquirir seus LP's e posteriormente CD's e DVD's. Me encantei por esse lado mais do que me encantara pelo lado ator. Não deixei de acha-lo bonitão e não perdi meu crush, só que a música dele me tocava de outra forma, uma forma mais profunda, me trazia uma paz boa ouvi-lo dedilhar a viola e as notas emitidas por sua voz grave, mansa e profunda.

Fui a alguns shows, tive a oportunidade de estar bem perto, até poderia ter me aproximado, pedido um autógrafo, mas nunca fui desse jeito, achava meio invasivo, sei lá, preferia ficar na minha, admirar de longe.

Depois de um tempo eu esqueci a paixonite adolescente, continuava achando ele bonito, mas admirava mesmo o talento e o trabalho como músico. O crush tornara-se algo mais maduro, sem aqueles óculos cor de rosa das aventuras e romances adolescentes criados em minha mente.

Mas porque eu estou contando isso?

Cerca de 23 anos se passaram e, agora com o advento da internet, fui ouvir as suas novas canções e, surpresa, dei de cara com aquela minha novelinha tão querida. E o melhor é que estava completa e em boa qualidade. Não pensei duas vezes, voltei pra frente da tela, que agora é um tablete super moderno, para rever aquela estória que me encantou e me presenteou com meu primeiro crush e, posteriormente, com o um ídolo.

Eu vi e revi, me encantei e me "apaixonei" novamente, mas tudo naquela distância natural, sabem? Aquela que separa a realidade do sonho, que separa nós, pobres mortais, de nossos dos ídolos.

Bem, ao menos era isso o que eu pensava.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora