Amanhecer em Canção

Capítulo 33

- Meu Deus, Alana, quando eu acho que ficou tudo bem vocês arrumam outra encrenca! - Gi revirava os olhos impaciente. - Qual o problema dele te chamar de Xuxu, Marcelo faz isso o tempo todo.

- E eu detesto. - Respondi também revirando os olhos. - Mas não foi o apelido, foi o jeito que ele falou.

- Você não acha que ele falou desse jeito pra te ferir, acha? - Gi suspirou quando eu demorei a responder. - Você acha, né?

- Eu não acho, eu tenho certeza, Gi. - Respondi com um sorriso triste e um tom irônico.

- Mas como você tem certeza, Lan? - Gi perguntou usando o mesmo tom que eu usara e ainda balançou a cabeça de um lado pro outro, enfatizando o tom.

- Eu perguntei pra ele e ele confirmou, só por isso! - Minha resposta certamente não era o que Gi esperava, já que sua boca agora formava um "O". - Pois é, não é um delírio da minha cabeça imaginativa.

- Tá! Pera, me explica essa parte direito. - Gi quis saber quando se recuperou.

- Então, eu estava esperando ele no camarim, eu estava magoada, eu sei que pode parecer uma bobagem, mas eu estava...

"- Desculpe! - Assim que abriu a porta e eu o olhei, Victor falou em tom grave. - Não vai se repetir. Não vou usar mais o X...

Victor parou de falar quando eu ergui a sobrancelha. Eu poderia só ter concordado, mas não consegui, quando dei por mim já estava reclamando.

- Se você tivesse falado de outra forma, mas a impressão que deu é que você queria me ferir usando aquele apelido ridículo. - Eu falei sem me levantar.

- Eu raramente fico bravo. Ainda mais como eu fiquei hoje. - Ele disse fechando os olhos e encostando-se à porta que acabara de fechar. - Você se escondendo por conta de um fofoqueiro e daquelas duas, foi tão ridícula aquela cena, você não é mais criança... - Eu ameacei interrompê-lo já com a certeza que aquela fala me magoaria mais, mas Victor ergueu a mão me pedindo para esperar. - Eu me apaixonei duas vezes na minha vida. Tive várias namoradas? Tive. Mas me apaixonar de verdade, só duas vezes. E eu soube, tanto na primeira vez quanto na segunda, assim que as tive em meus braços, que eu faria de tudo pra fazê-las felizes. - Victor fez uma pausa e seus olhos se apertaram. - A primeira foi minha esposa... - Ele deu de ombros e não completou a frase. Um silêncio quase sepulcral tomou o ambiente.

Ele não precisava falar, eu tinha entendido que era eu a segunda. Eu precisava falar, mas a constatação da fala dele me tirara esse poder. Victor me olhava analisando minha reação, mas, mesmo com a declaração dele, eu ainda estava magoada e com dificuldade de formular um pensamento coerente. Finalmente a voz me veio. Não consegui controlar o tom magoado, mas ao menos conseguira falar.

- E mesmo estando apaixonado, como você acabou de dizer, você fez questão de tentar me ferir deliberadamente? - Falei quase num sussurro.

- Eu tava ferido, me senti ferido, magoado com sua rejeição. - Victor cruzou os braços no peito e caminhou na minha direção. - Não justifica, mas explica.

- Eu não quis te magoar, nem te ferir, nem imaginei que isso pudesse acontecer... - Cheguei pro lado do sofá dando espaço pra ele sentar, mas me mantendo o mais longe possível. - Eu tive um ataque de pânico. Um tanto quanto infantil, concordo. Mas não foi intencional, nem o ataque nem a mágoa que te causei. Mas você...

- Eu fiz de propósito! - A afirmação dele não continha nenhuma emoção, era só a constatação de um fato.

- Pois é. E devo admitir que foi muito bem feito, porque atingiu bem o centro do alvo. - Vitor me olhou e enrugou o queixo comprimindo o lábio inferior com um ar de culpado. - Vai acontecer, sabe, e provavelmente muitas vezes, eu vou acabar te magoando com esse meu jeito independente, ou com a minha insegurança, ou com essa aversão a publicidade, ou com qualquer outra coisa, mas nunca o farei deliberadamente.