Capítulo 27

9 2 0
                                    

O telefone do quarto tocava insistentemente forçando meu cérebro a tomar uma atitude. Abri os olhos e procurei pelo aparelho.

- Alô. - Minha voz era uma mistura de rouquidão, sono, impaciência, ressaca e sussurro.

- Afe! Achei que você tinha sumido de novo, já te mandei um milhão de mensagens. - Gi falava agitada do outro lado. Olhei e volta em busca do meu telefone sem conseguir localizá-lo.

- É possível que minha bateria tenha acabado, desculpe. - Respondi baixinho.

- Porque você tá falando desse jeito esquisito, quase não consigo te ouvir. - Gi reclamou.

- Porque eu ainda estou dormindo. - Respondi entre um bocejo e uma espreguiçada.

- Lan? - O tom de Gi continha um quê de estranheza somado agora a um pouquinho de curiosidade.

- Humm... - resmunguei em resposta.

- Você tá sozinha? - A pergunta de Gi me fez perceber que os braços de Victor não estavam mais a minha volta. Movimentei meu corpo procurando o dele, só pra ter certeza que não tinha sonhado.

- Não. - respondi num sorriso ao sentir Victor se movimentar de uma forma extremamente sensual contra mim.

- Ah, tá. Entendi. - Gi não conteve um risinho. – Amiga! Presta atenção. São quase nove horas da manhã, nosso voo sai as duas, então, se você quiser tentar voltar no mesmo voo é melhor começar a se mexer por aí. - Ah sim, certamente eu começaria a me mexer, assim que Gi desligasse o telefone, eu me mexeria bastante, inclusive. - Nós estamos descendo agora pra tomar café, que só pra te informar, se encerra as dez. E o check-out se encerra ao meio dia. - Eu não estava mais prestando atenção no que ela falava, só conseguia focar na barba por fazer de Victor roçando minha nuca e em suas mãos passeando por meu corpo. - Alana! Você tá me ouvindo?

- Hum hum. - Foi tudo que respondi.

- Então o que foi que disse? - Gi insistiu, mas eu não tinha a mínima ideia. - Alana, dá pra parar de fazer o que sei lá que esteja fazendo e prestar atenção em mim?

Eu ri baixinho e segurei as mãos de Victor para que ele parasse com os carinhos, só assim eu poderia tentar focar na fala de GI.

- To prestando. - Respondi com a voz mole, já que não adiantara nada segurar as mãos de Victor, ele agora ele roçava o corpo contra o meu quadril, deixando bem claro o tamanho do seu desejo.

- Então repete, tá? - Eu fiz que sim com um movimento de cabeça. - Alana?

- Sim, sim... – Eu respondi entre suspiros, provavelmente mais em incentivo a Victor do que pra Gi. Respirei fundo pra tentar me concentrar e avisei. - Eu repito. Pode falar.

Gi repetiu sobre o café, o voo, o check-out e me fez repetir cada parte pra ter certeza que eu havia entendido, só então se deu por satisfeita e se despediu, pedindo pra eu não me esquecer de carregar o celular. Virei de frente pra Victor, mas, diferente do que eu esperava, ele não estava com um sorriso no rosto.

- O que foi? - Toquei seu rosto com carinho, tentando desfazer a expressão triste que lhe tomava os olhos.

- Você precisa mesmo ir? - Ele perguntou formando um biquinho nos lábios finos.

- Pra casa? - Victor assentiu em resposta. - Preciso.

- Por quê? - Ele quis saber e eu nem precisei pensar pra responder.

- Porque eu vim pra cá num acesso de loucura, porque eu não trouxe nada além da roupa que estou vestindo, porque larguei a casa de qualquer jeito, porque amanhã é segunda e eu tenho compromissos a cumprir... - A cada nova frase maior o bico de Victor ficava e eu não me aguente e comecei a rir. - Tá parecendo um bebezão mimado.

- Não é possível que eu esteja parecendo um bebezão mimado, já que quem tem o poder de me mimar está indo embora e me deixando abandonado. - O tom de voz desanimado, o olhar triste, o bico, eu estava completamente hipnotizada pela aquela faceta dramática e desconhecida de Victor.

- Dramático! - impliquei rindo.

- Malvada! - Ele respondeu no mesmo tom e eu explodi em risadas.

- É sério! - Falei mesmo que meu riso desse a entender o contrário. - Eu ficaria se pudesse.

- Ou se quisesse! - Na mesma hora que ele respondeu minha risada estancou.

Respirei fundo controlando o meu ímpeto de reclamar da resposta dele, já não teríamos muito tempo e ainda estávamos perdendo o pouco que tínhamos naquele impasse bobo.

- Eu sei que você não acredita no que falou. - Falei grudando meu corpo ao dele. - E já que estamos acordados e temos pouco tempo, porque não fazemos algo mais... - Eu fiz uma cara sem-vergonha tentando aliviar o clima. - Hummm... produtivo?

- Você poderia ir amanhã de manhã! - Victor insistiu na questão e eu dei de ombros abrindo desistência. Me afastei dele e sentei na cama de costas, sem disposição pra discutir, mas ele continuou. - Se você fosse amanhã de manhã, você não perderia seus compromissos e nós teríamos mais tempo juntos pra fazer... hummm... algo mais produtivo. Não gosto que me apressem em assuntos tão importantes.

Mesmo ele tendo usado o mesmo tom que eu na hora de me imitar, sua voz continha certa decepção.

Me virei pra olha-lo e esse foi o meu grande erro. Se eu tivesse levantado sem dar bola ao que ele falava, certamente manteria minha decisão de voltar pra casa com Gi, Pedro e Ernst. Mas eu o olhei e ele tinha um olhar tão tristonho e ao mesmo tempo tão carente, que não resisti.

- E se eu for amanhã, como faço com minhas roupas? Ou melhor, com a falta delas? - Perguntei fazendo uma careta ao me olhar.

Um sorriso gigante surgiu no rosto dele, se alguém o visse agora jamais imaginaria que menos de três segundos atrás estava bicudo e dramático.

- Não sei se você já ouviu falar, mas tem uns locais por aqui, são áreas enormes sabe, tem um monte de lojas neles, de todos os tipos e gostos, o povo costuma chamar de shopping... - Eu me joguei em cima dele calando-o sua boca com minhas mãos.

- Idiota! - Respondi rindo.

- Mas é sério! Existe mesmo! - Ele continuava implicando.

- ¿Por qué no te callas? - Victor deu uma gargalhada, girou comigo nos braços e encaixou as pernas na lateral do meu corpo, sentando sobre meu quadril.

- Seu pedido é uma ordem! - Aproximou o rosto do meu, mas antes que ele me beijasse, eu virei o rosto.

- Ah! Quer que eu fique quieto, mas aí quando eu vou acatar seu pedido, me negas. - Na impossibilidade de beijar minha boca, Victor começou a beijar meu pescoço e meu colo, roçando a barba por fazer na minha pele e me arrancando suspiros de prazer.

- Eu bebi um pouquinho demais ontem... - falei quase num sussurro.

Victor me olhou confuso em princípio, mas logo mudou a expressão pra um sorriso azedo, saiu de cima de mim e se levantou me levando junto com ele.

- Bora! Pro banheiro, mocinha! - Me envolveu em seus braços e foi caminhando comigo até chegarmos a pia. - Escovar os dentinhos, depois tomar um bainho, aí vou pedir nosso café e depois o velhinho aqui vai cuidar dos demais detalhes.

Eu o olhei sorrindo, ele tinha um jeito leve, mesmo no modo dramático, que me fazia flutuar de felicidade.

- Eu achei que eu iria mimá-lo. - Falei sorrindo pra ele pelo reflexo do espelho.

- Mas vai! Assim que o momento cuidados pessoais e comida passar eu vou ser mimado, muito mimado! - O sorriso safado no rosto dele e a pressão do desejo contra o meu corpo não deixavam dúvidas ao que ele se referia.

E eu não tinha dúvidas que o mimaria, tanto quanto seria mimada. 

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora