Capítulo 8

15 3 1
                                    

Eu contei pra ele sobre a "adolescente fã apaixonada" que suspirava a cada aparição dele na tela, sobre a transformação em fã do artista e sobre minha coleção de LP's, CD's e DVD's. Contei sobre ter ido a alguns shows e de ter estado bem perto, mas de não ter me aproximado por normalmente não me sentir confortável nesse tipo de situação. Contei sobre o último mês quando revi a novela e fui novamente arrebatada por aquele sentimento juvenil. Falei sobre o que eu estava sentindo naquele momento e minha preocupação em não saber definir se era a adolescente ou a adulta sentindo aquilo. Falei sobre o meu sonho de conhecer o Pantanal, de viver uma roda de viola e de como era louco que de repente isso acontecesse, ainda mais com três dos meus ídolos, e de como aquilo tornava tudo mais nebuloso na minha cabeça. E, finalmente, disse o quanto eu achava tudo aquilo que eu tinha dito uma insanidade, uma vez que, mesmo que eu conhecesse o artista quase a vida inteira, a pessoa eu conhecia a menos de vinte e quatro horas. Então, naquele momento, eu estava com muita dificuldade de separar a realidade do sonho, que isso me deixava um tanto insegura e era um sentimento estranho pra mim, já que normalmente eu era segura até demais em pensamentos, ações e sentimentos.

Ele foi todo atenção ao me ouvir, me fez perguntas, riu do meu jeito de contar, revirou os olhos quando eu me colocava como fã, mas o fazia de forma divertida, e quando eu respirava fundo para adquirir coragem pra falar alguma parte mais excêntrica, como o ranço que eu tinha da personagem que era par dele na TV, ele apertava minhas mãos nas dele e brincava com meus dedos de forma gentil e carinhosa.

Eu precisava colocar tudo pra fora, então falei o que eu achava que ele estava achando, ou quase isso.

- Você deve estar super acostumado a lidar com fãs loucas correndo atrás de você, querendo um cadinho de atenção ou quem sabe um pouco mais? – Eu falei rindo, pra tornar mais leve a minha fala e não parecer uma acusação. – Você está sendo super fofo e educado comigo, me ouvido falar como uma doidivanas... – Meu sorriso se tornou amarelo quando ele levantou a sobrancelha. – Deve estar louco pra correr daqui, né? – Eu completei rindo.

- Você é uma fã correndo atrás de mim e querendo um cadinho de atenção? – Ele faz uma pausa proposital e sua expressão se modificou de curiosa para intrigada. – Ou quem sabe um pouquinho mais?

- Não! – Eu respondi num tom confuso, achando que tinha deixado claro que quando falei das fãs não estava falando de mim.

- Não é uma fã querendo atenção ou não quer um pouquinho mais? – Ele insistiu e uma expressão matreira surgiu no rosto dele me fazendo sorrir.

- Você tá implicando comigo, né? – Perguntei quase que retoricamente, já que a cara que ele fazia não me deixava dúvidas sobre essa questão.

- Um pouquinho. – Ele respondeu sorrindo. – É que é muito interessante observar as suas mudanças de expressão, suas sobrancelhas sobem e descem e às vezes se espremem transformando seus olhos em uma linha fina. Sua boca também se transforma, se você tá em dúvida do que falar faz um biquinho enrugando o queixo, quando fala algo que acha bobo você joga a língua pro canto da boca e a morde dando um ar arteiro ao seu rosto, quando você fica séria você enruga o cantinho dos lábios e faz um biquinho, mas a que eu mais gosto é quando você sorri sem jeito, é um sorriso que te toma todo o rosto, cada pedacinho dele se move devagar, quase em câmera lenta, você pisca, seu olhar baixa, sua língua corre pelos seus lábios e finalmente você suspira voltando ao normal como se aquele momento nunca tivesse existido.

Eu o olhava atônita com a descrição dele. Como era possível alguém me ler com tanta facilidade e tão rápido?

- Agora, por exemplo, suas sobrancelhas se ergueram juntas arregalando um pouquinho seus olhos e sua boca está entreaberta em formato de "O". – Ele apertou minhas mãos entre as dele e esperou que minha expressão voltasse ao normal. – Não se preocupe. – Disse num sussurro rouco que me arrepiou inteira. – Eu sei que você não é uma fã doidivanas, também sei que não é o pouquinho mais que você quer, mesmo que talvez não me incomodasse que fosse... – Victor mais uma vez fez aquele movimento de cabeça que eu já aprendera a reconhecer como uma confirmação de que ele realmente pensava aquilo. – Eu adorei ouvir você, você tem uma forma delicada e divertida de contar sobre si. Mesmo quando se sente constrangida ao falar. – Ele levou minhas mãos até a boca e virando-as beijou com carinho minhas palmas, arrancando mais um arrepio do meu corpo. – Eu não acho que você esteja sofrendo uma recaída de uma paixonite adolescente...

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora