Capítulo 49

11 1 0
                                    

Eu estava esperando há quase meia hora, não tinha certeza de quem viria, mas sabia que alguém viria. Digão tinha me confirmado ainda pela manhã que enviaria alguém para me buscar no aeroporto. O voo tinha sido extremamente cansativo, eu enjoara algumas vezes e não consegui dormir de tanta ansiedade, e eu costumava adormecer nos primeiros segundos de voo, ainda mais grávida. Olhei para o relógio, duas e quinze.

- Alana! - A voz de Digão surgiu atrás de mim me assustando.

Eu virei e me joguei nos braços dele.

- Ei, não esperava que fosse você a me buscar. - Eu sorri lhe dando dois beijinhos.

- Ah, menina, quando a gente quer uma coisa bem feita o melhor é fazer nós mesmos. - Digão me abraçou apertado.

- Victor não sabe de nada? - Perguntei puxando a mala pequena que levara e acompanhando Digão.

- Certamente que não. - Digão respondeu rindo. - Aqueles dois quando começam a compor se esquecem do mundo a sua volta.

- E que desculpa você deu pra sair? - Eu quis saber curiosa.

- Eu sempre tenho algo pra resolver na cidade, então não precisei me esforçar muito. - Digão piscou e eu sorri.

O caminho até a fazenda dele era longa, ao menos duas horas de viagem, o sacolejar do carro na estrada de terra batida estava me enjoando um pouco e eu abri a bolsa e peguei um biscoito de água e sal.

- Tá com fome, menina? - Eu neguei e Digão ergueu a sobrancelha.

- Eu enjoo em carro. - Eu não estava mentindo, era verdade, durante a gravidez eu sempre enjoava em carro, avião ou qualquer meio de transporte.

Digão pareceu satisfeito com a resposta e focou na estrada. Conversávamos sobre o show, sobre as músicas que eles decidiram incluir, sobre cavalos, bois, pantanal, sobre Victor e eu, um pouquinho de cada assunto. Falávamos quase sem parar.

- Para aqui, por favor! - Pedi de repente interrompendo a história que Digão contava sobre uma comitiva que ele participara há alguns anos atrás.

- Eita! Tá tudo bem? - Ele me olhou preocupado e freando o carro.

- Eu só queria olhar esse lugar, só isso! - Falei descendo do carro e subindo na cerca.

- Essa é a divisão da minha fazenda com a do Victor. - Digão falou de dentro do carro.

- Eu sei. - Respondi com um suspiro.

Estar ali era como estar em casa. E era uma sensação engraçada, já que, apesar de amar o campo eu era bastante urbana. Mas aquele cantinho era diferente, aquele era o nosso cantinho. Fechei os olhos e imaginei Victor ali comigo, como naquela primeira noite, o reflexo da lua brilhando longe no rio. Juntei as mãos, fiz uma oração e tomei uma decisão. Era ali que eu contaria para ele da minha gravidez.

- Bora, menina! Para de sonhar. - Digão me chamou.

Eu soprei um beijo para o meu lugar favorito de todo o pantanal e voltei para o carro.

- Vou avisar ao Zé que estamos chegando! - Digão pegou o celular e enviou uma mensagem. - Combinamos que quando estivéssemos perto eu avisaria. Se eles não estiverem no meio de alguma composição, Zé vai sentir uma vontade louca de tocar Rancho fundo.

- Eu não entendi. - Falei sorrindo.

- Você não conhece a letra? - Digão fez uma cara de decepção.

- Claro que conheço. - Falei rindo.

Digão colocou o carro em movimento e explicou a ideia dele e de Zé. Se eles tivessem tocando Rancho fundo, eu chegaria cantando, fazendo uma surpresa pra Victor. Eu topei a ideia, mesmo achando que estar lá já era surpresa o bastante e as razões que me levaram a estar lá uma surpresa maior ainda. Mas, pela forma que Digão falava eles estavam muito empolgados com a ideia e tinham passando a noite toda bolando a minha chegada, então eu não os decepcionaria.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora