Capítulo 50

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- Você para na divisa das fazendas? - Pedi para Victor assim que entramos no carro.

- Claro! - Ele me olhou sorrindo. - Eu parei lá ontem quando vim pra fazenda do Digão, eu achei que ia ter um ataque de tanta saudade que senti de você. - Os olhos dele brilharam úmidos.

- Você só faz o tipo durão, né? - Falei rindo me aconchegando no ombro dele.

- Eu sou durão! - Ele respondeu rindo.

- Durão e mentiroso. - Impliquei.

- Eu não sei chorar. - Victor falou de um jeito doce. - Em casa homem não chorava. Meu pai não permitia, ele era durão. - Victor posou a mão sobre a minha. - Não que eu não o tenha feito, claro que fiz, sozinho muitas vezes, em frente a outras pessoas, raras vezes.

- Não precisa se explicar, eu estava só implicando. - Apertei a mão dele com força.

- Eu sei, mas é que não quero que você entenda errado, que pareça que eu não me emociono. - Victor baixou o tom de voz. - Eu me emociono, eu sinto, só tenho dificuldade de chorar em publico. E quando o fiz...

- Eu não me importo. – Ele não precisava completar, eu tinha entendido. Puxei a mão dele contra o rosto e a enchi de beijinhos. - Eu sei que você sente, que você se emociona, você passa isso na forma de falar, de abraçar, de beijar. - Um sorriso safado surgiu nos lábios dele.

- Na forma de beijar... to gostando disso. - Agora foi a vez de ele puxar minha mão para enchê-la de beijos.

- Tudo em você expressa sentimento, basta prestar um pouquinho de atenção. - Me ajeite no banco para explicar. - Quando você está preocupado surge uma ruga quase imperceptível entre os seus olhos. Quando está muito feliz, mesmo sério, o cantinho da sua boca forma três linhas, só de um lado. Quando está bravo você ergue as duas sobrancelhas, aperta os olhos e a boca faz uma linha fina. - Eu parei de falar e ele me olhou de canto de olho. - Mas a cara que eu mais gosto é quando você está... - Parei pra pensar um termo pra usar e Victor completou meu pensamento.

- Com tesão? - Perguntou rindo.

- É um pouquinho antes disso, é entre o momento sou carinhoso e o estou com tesão. - Eu falei rindo também. - Você morde o lábio e ergue quase milimetricamente a sobrancelha, seus olhos ficam mais escuros e as ruguinhas no canto dos olhos se acentuam. É lindo.

- E que cara que eu estou fazendo agora? - Ele mordeu a língua e sorriu de lado.

- Cara de "Eu sei que ela me ama". - Falei arrancando uma gargalhada dele.

- E sei mesmo. - Ele se encheu todo ao falar.

Victor desacelerou e parou o carro.

- Chegamos! - Ele disse apontando para a divisa das fazendas.

- Vem, vamos descer! - Falei já saltando do carro.

A conversa tinha me distraído a ponto de eu esquecer toda minha ansiedade. Era sempre assim quando eu estava com ele, mesmo nos momentos em que eu perdi um pouco a cabeça, ele me trazia de volta, me colocava no eixo, me fazia me sentir amada e segura. Respirei fundo, meu coração disparado.

Subi na cerca e esperei por ele.

- Tá querendo reviver nossa primeira noite? - Victor perguntou me abraçando pelas costas e comprimindo meu corpo contra a cerca.

- Foi a noite mais perfeita e mais louca a minha vida, eu vou sempre querer revivê-la. - Respondi suspirando.

- Isso quer dizer que nunca mais vamos passar direto por aqui? - A voz dele continha um tom engraçado.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora