Capítulo 42

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O caminho pra casa foi feito em total silêncio, Victor dirigia, apesar de ser o meu carro. Eu estava tão brava que achei melhor lhe entregar as chaves do que cometer uma barbeiragem pelo caminho.

Assim que chegamos, abri a porta, tirei a chave da fechadura, entreguei na mão dele para que ele a trancasse e declarei:

- Vou tomar banho!

Não dei tempo para que ele falasse, segui pelo corredor a passos firmes e subi os degraus correndo. Entrei no quarto já tirando a roupa e deixando-a espelhada pelo caminho. Liguei o chuveiro e nem me importei que a água ainda estivesse fria, me joguei de baixo, quem sabe o choque da água fria contra o meu corpo quente de raiva me acalmasse um pouco.

Aos poucos a água foi esquentando e, ao invés de me relaxar, lágrimas de raiva começaram a correr pelo meu rosto, eu andava tão chorona que estranhava a mim mesma. Decidi me entregar na esperança que o choro me aliviasse a tensão daquela noite.

O problema era que quanto mais eu chorava mais era a minha vontade de chorar e, ao invés de me aliviar, eu estava ficando com mais raiva e mais tensa. Raiva por me deixar ficar naquele estado, tensão por não conseguir entender aquela avalanche de sentimentos que me dominavam violentamente, e mágoa, sim, eu estava magoada e tinha muito dificuldade de lidar com esse sentimento. Sentei no chão e abracei minhas pernas, deixando a água bater na minha nuca e costas, numa inútil tentativa de alívio. O resto do controle que eu ainda mantinha foi embora no momento em que Victor bateu na porta do banheiro.

- Alana! Abre, por favor! - A voz de Victor trazia uma preocupação e uma angustia que me tocaram profundamente. - Por favor! - Ele insistiu quando eu não respondi.

- Me deixa sozinha! - Falei entre soluços.

Eu não sei o que eu esperava dele naquele momento, mas o silêncio certamente não estava entre as minhas opções. Meu coração se apertou mais diante daquela situação. Raiva, desapontamento, tristeza, mágoa, eu era um combo de emoções confusas, queria gritar tudo que me tomava, queria brigar com ele, brigar comigo, mas não tinha forças.

Um som estranho veio da porta e eu me encolhi aguardando a voz de Victor tomar o espaço. Um, dois, três segundos de angustia, mas a voz dele não se fez presente.
Apertei minhas pernas com força contra meu corpo contraído, eu havia dito que queria ficar sozinha e ele estava apenas respeitando meu desejo.

Um tremor tomou meu corpo quando duas mãos me seguraram pela cintura e me puxaram de encontro ao corpo.

- Me deixa sozinha! – Repeti minha fala.

- Nunca! - A voz de Victor era baixa e dolorida.

Por mais que eu tivesse reclamado, no momento em que ele me envolveu nos braços meu corpo relaxou e o choro começou a diminuir. Suas pernas longas abraçavam as minhas, seus braços me seguravam com firmeza pela cintura, seu peito estava completamente colado as minhas costas e ele apoiara a cabeça em meu ombro. Ele murmurava alguma canção que eu não conseguia definir qual era ao mesmo tempo em que embalava meu corpo no mesmo ritmo.

Quanto mais eu relaxava, menos eu chorava. Apoiei meu rosto no dele e ele parou de cantarolar.

- Não para! - Reclamei num fio de voz.

Victor voltou a murmurar a canção, que agora eu conseguia reconhecer, e eu passei a acompanha-lo com murmúrios.

Abri os olhos lentamente e um sorriso fraco me tomou os lábios quando notei que ele ainda estava vestido.

- Você vai ficar doente com essa roupa molhada no corpo. - Resmunguei baixinho.

- Se preocupa em ficar bem! - A voz dele ainda continha preocupação. – Eu me viro depois.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora