Quando o sorriso dele apareceu na tela do tablete meu coração quase parou de bater. Eu só conseguia pensar em como era bom tê-lo ali comigo e todas as questões que me apertavam o peito se dissiparam ao simples ouvir daquela voz mansa.
- Oi, moça!!!
- Oi, moço!!!
Naquelas duas semanas de conversas telefônicas trocamos histórias de vida, problemas, conversamos sobre presente e futuro, ele se tornara meu confidente e eu dele. Mesmo com o problema das agendas incompatíveis me incomodando, certamente a hora de estarmos juntos era o momento mais aguardado e mais feliz daqueles meus dias.
Conversamos um pouco sobre nosso dia, fizemos declarações de saudade, e, por um momento, eu havia esquecido a necessidade de mudar nossos planos, até Victor falar num tom animado.
- Ah! Essa saudade vai acabar logo! E quando você chegar aqui eu não vou deixar você nem respirar longe de mim ao menos por uns dois dias!
Droga! Vê-lo tão empolgado e saber que nosso encontro não aconteceria, partiu meu coração.
- O que foi? - Eu já tinha aprendido que ele me lia com uma facilidade incrível, nem tentava mais disfarçar. - Porque essa carinha triste?
- Às vezes eu odeio como você consegue me ler. - Eu resmunguei revirando os olhos.
- A culpa não é minha, você é transparente demais. - Ele respondeu sorrindo.
Eu respirei fundo tomando coragem pra explicar que aquela semana que programamos e que estávamos ansiosos para acontecer, não aconteceria.
- Eu não vou poder! - Falei desanimada.
- Não vai poder? - Uma ruga surgiu na testa dele, mas ele continuava sorrindo feliz. - Não vai poder o que, moça? - A fala se mantinha mansa.
- Passar a semana com você. - Eu já estava triste, mas ver o rosto dele se transformar de sorriso para decepção me trouxe lágrimas aos olhos.
- Por quê? - A voz dele foi quase um sussurro.
- Sabe aquele patrocínio que estávamos negociando? - Victor assentiu mudo. - O start é a nossa participação num evento corporativo que vai acontecer exatamente na mesma data. - Victor abriu a boca, mas nenhum som saiu. - Me desculpe. De verdade. Eu até tentei não participar, mas não seria justo com o grupo, a gente tá tentando um patrocínio há tanto tempo.
- Justo. Não seria justo! - Foi tudo que ele falou.
- Não quero que você fique chateado, eu sei que... - parei de falar quando ele baixou a cabeça e passou a mão pelos cabelos respirando fundo. - A gente precisa agarrar essa oportunidade com unhas e dentes, precisamos estar todos lá, como uma força só. - Complementei argumentando mais pra mim do que pra ele.
- Claro! Vocês tem que estar unidos em prol dessa conquista. - Victor levantou a cabeça e sorriu. - Vocês batalharam muito e eu sei o quanto é difícil essa estrada, não dá pra deixar uma chance dessas escapar. - Apesar do sorriso os olhos dele estavam tristes. - Eu não to chateado com você, imagina!
- Tá tudo bem, então? - Eu quis saber, preocupada. - Porque o que você falou não condiz com seu olhar. – Expliquei minha dúvida. Eu já tinha aprendido que com ele as coisas precisavam ser claras e ditas com a boca.
- Eu to decepcionado. - Ele deu de ombros. - Não da pra disfarçar isso. Mas eu realmente entendo.
- Será que você não consegue chegar antes do previsto na semana do show? - Eu perguntei com uma esperança boba. Já tínhamos conversado sobre isso antes e eu sabia exatamente a resposta.
- Eu já estou chegando antes do previsto. - Victor respondeu.
- Eu sei, mas você chega na quinta, quem sabe não consegue vir antes, assim ganharíamos um tempinho juntos e... - Nem completei a frase, pois Victor já balançava a cabeça negativamente.
- Não dá, Alana, eu já te expliquei. - É, ele já tinha me explicado.
- Eu sei. Eu só quis tentar de novo. É que... - Minha voz embargou e eu não consegui completar a frase.
- Eu sei, eu também sinto falta de você pertinho! - O tom doce dele acalmou meu coração um pouquinho.
- Tá tão complicado estarmos juntos! - Victor ergueu a sobrancelha e eu sorri. - É só um desabafo. - Falei deixando claro que não tinha nada além disso. - E vai continuar difícil, provavelmente mais do que já está se o patrocínio sair. Temos tantos planos traçados pra essa oportunidade...
- Eu sei, chamego! E vocês precisam abraçar essa oportunidade!
"Chamego." Ele me chamara assim a primeira vez depois da nossa conversa no camarim dele pós-show e eu o questionara.
- Chamego?
- Chamego sim. - Ele sorria marotamente ao falar. - Você me faz querer seu carinho, seu calor, seu fogo, Você me acende, me queima e me acalma, moça. - "Um beijo selou a fala dele me causando um sorriso de puro êxtase."
- Como é possível você estar lidando melhor que eu com isso? - Fiz um bico ao perguntar e ele sorriu.
- Eu já estive nessa estrada, já precisei abrir mão de muita coisa pra conquistar meu espaço, eu sei o quanto é complicado esse caminho. - Aquele jeito compreensivo, doce e delicado dele, me acalmava ao mesmo tempo em que me enchia de dúvidas. - E pode parar de colocar caraminholas nessa cabecinha criativa. - Eu ri com a fala dele, eu realmente estava fazendo isso. - Eu quero estar com você, quero muito. Mas não seria justo cobrar sua presença e te forçar a fazer uma escolha. - As sobrancelhas dele se ergueram e a boca formou uma linha fina. - Isso só me afastaria de você e me afastar de você não é uma possibilidade. - Victor bufou baixinho. - Eu te quero pra vida!
Passei a mão pelo rosto secando as lágrimas que escaparam dos meus olhos sem permissão. Eu odiava chorar, mas ele sempre me emocionava com seu jeito amoroso e compreensivo e eu não conseguia me conter.
- Para! Não faz assim! - Victor tocou a tela do tablete e eu fechei os olhos imaginando que era meu rosto que ele tocava. - Uma coisa de cada vez, a gente vai se ajeitando.
- Eu te amo! - Me ajeitei na cama, trazendo o tablete junto, imaginando ele ali do meu lado.
- Eu também te amo! - Victor respondeu com um sorriso bobo. - Já vai dormir? - Perguntou implicando.
- Não, to só imaginando você aqui comigo! - Não era pra ter uma conotação sexual, mas quando ele passou a ponta da língua pelos lábios e fechou os olhos, não consegui conter um suspiro de desejo.
Ainda conversamos por um tempo, uma conversa um pouco mais quente do que eu imaginava ter com ele naquele dia. Muito mais quente.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...