- Onde você estava? Eu fiquei preocupado. Você sumiu. – Ernst se aproximou me abraçando.
- Eu fui dar uma volta, encontrei um balanço e fiquei lá, vendo a natureza, sonhando... – Apoiei minha cabeça no ombro de Ernst que apertou o abraço.
- Louquinha! Você podia ter se perdido. – Ernst pegou minha orelha puxando-a com suavidade, brincando e brigando ao mesmo tempo.
- Não fui longe não. – Girei dentro do abraço e apontei para o local onde eu estivera. – Dava pra ver a casa, vocês na margem do rio...
- Humm! – Ernst deu uma risadinha ao resmungar. – Eu já tinha imaginado você sendo devorada por hipopótamos.
Eu virei sorrindo com uma cara de boba.
- Não tem hipopótamos no pantanal, seu louco!
- Tá, não tem, mas tem onça! – Ernst rugiu levantou as mãos imitando um ataque de onça.
Nós caímos na risada juntos e, ainda rindo, Ernst passou a mão pelos meus ombros e começou a caminhar.
Bem, eu preciso falar sobre Ernst para que fique clara a nossa relação. Somos amigos, muito amigos. É certo que em algum momento fomos um cadinho mais que isso e um algum outro, muito menos. Mas agora éramos amigos, nutríamos um carinho fraternal, cuidávamos um do outro, e, o mais importante de tudo é que nos respeitávamos profundamente.
Então era muito comum estarmos abraçados, trocando carinhos, dançando, entregues a presença do outro. Nos amávamos muito, como irmãos, sem laços românticos emocionais, e isso tornava nossa relação natural e sem travas.
Nos aproximamos de Gi e ela sorriu a nos ver. A tensão sexual entre os dois era grade, mas por alguma razão que eu não conseguia compreender, ou eles não conseguiam me explicar, nada acontecia entre eles. Eu já tinha perdido as contas do número de vezes que virei à noite ouvindo um ou outro despejando no copo de cerveja suas lamúrias sobre aquela relação.
- Estava onde, amiga? – Gi quis saber.
- Ela estava tentando virar almoço de onça. – Ernst respondeu no meu lugar.
- E hipopótamos! Não se esqueça dos hipopótamos. – Eu completei.
- Não tem hipopótamos no Pantanal. – Gi falou fazendo uma careta.
Ernst e eu trocamos um olhar cúmplice e caímos na risada novamente.
- Ai! Já vão vocês começar com as piadas internas. – Gi reclamou revirando os olhos.
- Eu não vou começar nada. – Ernst deu um beijo no rosto de Gi e um no topo da minha cabeça. – A sua amiga louquinha vai te explicar. – Apontou pra mim e se afastou ainda rindo.
Gi ficou me olhando esperando a explicação, então eu a puxei para nos afastarmos dos demais e contei o que tinha se passado no balanço, da voz, das emoções vividas, da sensação de estar no lugar certo.
- Como assim você não virou pra ver quem era? – A cara de incrédula dela me fez rir.
- Pois é, não virei, estava tudo tão perfeito que eu fiquei com medo de virar e descobrir que não era real ou que era, não quis quebrar mágica. – Eu encolhi os ombros ao falar, como que me desculpando.
- Lan, você morre de medo dessas coisas... – A expressão incrédula se mantinha no rosto de Gi ao falar.
- Eu sei, mas não tive medo. E provavelmente foi alguém da fazenda que passou, me viu ali e foi gentil. – Essa era uma possibilidade afinal.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...