- Primeiro quero te agradecer! - Falei com um sorriso sem graça e Victor ergueu a sobrancelha interrogativamente. - Por ter cuidado de mim hoje, por ter cuidado de mim ontem e principalmente... - Mudei para uma expressão levada e ele ergueu mais a sobrancelha. - Por ter limpado o rastro de confusão que deixei pela casa.
- Agradecimentos aceitos! - Victor sorriu ao falar. - Mesmo não achando necessário. Eu não agi por gentileza.
- Eu sei! - Me estiquei e lhe beijei os lábios. - Eu sei.
O olhar de Victor, apesar de amoroso, também era preocupado, aquela ruga quase imperceptível estivera lá por toda manhã e agora se tornara mais acentuada.
- Sobre ontem... - Victor começou a falar e eu assenti aguardando ele dar continuidade. - Sobre a conversa com a vovó e a neta...
Eu ameacei interrompê-lo, a atitude dele me deixara com raiva, mas não fora aquilo que realmente me incomodara.
- Eu quero explicar. Eu sei que você está acostumada a ter o controle de tudo e tem se esforçando para relaxar em relação a isso. - Eu o olhei tentando entender seu ponto. - Só que eu também estou acostumado a controlar tudo. - Victor sorriu amarelo. - Sempre fui eu a tomar as decisões, sempre fui eu a resolver as coisas, principalmente em público, e, mais ainda, quando minha carreira estava envolvida. - Eu apenas o olhava, atenta as palavras dele. - Falando assim pode até parecer estranho, eu sei. - Uma respiração profunda e ele continuou a falar. - É claro que Helena participava, opinava e muitas vezes foi a posição dela que prevaleceu, mas essas discussões eram privadas, eu e ela. - Victor apertou o rosto, provavelmente já imaginando o que sua próxima declaração iria causar em mim. - Mas em público, era sempre eu a falar, quer fosse uma entrevista quer fosse uma conversa fãs...
- Victor! - Eu não o deixei terminar, eu já tinha entendido o ponto dele. - Isso é de um machismo absurdo.
Victor sorriu torto e coçou a cabeça sem jeito.
- Eu sei que da essa impressão, mas não é isso. – Ele revirou os olhos e eu não me controlei.
- Como não é isso? – Levei minhas mãos aos quadris, meu corpo sacudia descontrolado. Eu estava muito indignada.
- Você vai me deixar explicar? - Victor perguntou impaciente.
- E desde quando atitudes machistas tem explicação? - Meu rosto estava quente de raiva.
- Você é impossível, chamego! - Um sorrisinho torto surgiu no rosto dele e eu revirei os olhos. – O seu amigo pode mandar uma mensagem daquela e tudo bem, mas eu não posso me explicar? – Revirei os olhos de novo. - Me escuta. - Assenti a contra gosto. - Helena era extremamente tímida e não era uma pessoa pública. - Eu torci o nariz, eu também não era. - E nem esteva a caminho de se tornar. - Victor completou rapidamente. - Nós tínhamos esse acordo. Não foi ideia minha, foi dela. Ela não se sentia à vontade, dizia que não queria parecer boba por não saber o que falar, passou a ser natural eu tomar sempre a frente...
- Isso é horrível, Victor! - Falei ainda indignada.
- Eu sei, mas não havia me tocado disso até ontem. - Ele deu de ombros. - E como eu falei, se tornou natural. Eu me acostumei a ser quem resolvia tudo, quem falava, quem defendia... Então ontem quando você disparou a falar... - Eu me empertiguei já pronta pra reclamar. - Eu estranhei, me senti incomodado, não era minha intenção te ofender ou te rebaixar, eu queria protegê-la, defendê-la...
- Eu não preciso desse tipo de proteção. - Victor fechou os olhos e assentiu. - Eu preciso de apoio, parceria...
- E não foi o que aconteceu. - A afirmação dele foi dolorida.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...