Eu sei que havia prometido a Gi que seria feliz, mas as duas semanas de conversas com Victor por telefone e chamadas de vídeo tinham me dado tempo para criar as famosas caraminholas na minha cabeça. Namorar a distância era diferente de tudo que eu já vivera. E, não era só pela distância, que já era difícil de administrar, mas pelas dificuldades de alinharmos nossas agendas.
- Que cara é essa, Bebê? - Ernst chegou à produtora na hora do almoço, depois de uma reunião com possíveis patrocinadores e me encontrou debruçada sobre o laptop. - Bora melhorar essa carinha, tenho boas novidades.
- To cansada só. - Girei na cadeira e sorri. – Conta. Como foi?
Ernst contou os detalhes da reunião com o possível patrocinador. Estávamos em negociação há algum tempo já e, pelo que ele contava, o patrocínio estava quase concretizado, foram pedidas algumas contrapartidas para fechar o contrato.
- Eles farão um evento Corporativo em três semanas. - Ernst falou e eu automaticamente abri a agenda. - Pediram que estivéssemos presentes, trabalhássemos com eles em formato de oficinas musicais e preparássemos um show com os participantes no encerramento, além de uma noite com nosso espetáculo. Tudo que já estamos mais que acostumados. Chupeta no mel pra nós. - Ernst estava radiante.
Enquanto ele falava eu olhava desolada para a agenda, a semana que ele se referia era a seguinte a gravação do DVD do Show - A viola, a composição e a voz - e eu havia combinado com Victor de passarmos aquela semana e o fim de semana seguinte juntos. Victor estaria de folga e, até o momento, eu também.
- E quantos dias de evento? - Eu quis saber, quem sabe não conseguiria conciliar.
- De terça a domingo. Os três primeiros dias num hotel na barra e os outros num Resort. - Ernst já estava focado no laptop, provavelmente já programando nossa participação no evento.
- Eu combinei com o Victor de passar esses dias com ele, incluindo o fim de semana. - Falei de forma tranquila. - Vou enviar agora e-mail para o grupo e ver quem está disponível, assim fica mais fácil programar.
- Alana, nem vem com essa de quem está disponível, é preciso que todos estejam! - A voz de Ernst tinha um tom já conhecido de contrariedade. – E sem você não dá, você tem que estar. Você sabe o quanto é importante esse patrocínio, estamos há dois anos nessa busca, já perdemos outras chances por questões burocráticas ou de agenda, não podemos deixar acontecer novamente.
- Eu sei de tudo isso. E vai ser tudo perfeito como sempre é. A única diferença é que eu não estarei presente. Deixarei tudo organizado, Gustavo ou Gabriel podem atuar como produtores, Gi assume meus solos e Elisa minha oficina. Vai dar tudo certo e vai ser tudo lindo. - Usei o tom mais otimista possível.
- Alana, você não pode estar falando sério! - Ernst sacudia a cabeça, incrédulo.
- Vamos fazer o seguinte, vamos aguardar Pedro e Gi chegarem, daí conversamos os quatro, tá bom? - Ernst assentiu, mesmo estando clara sua contrariedade. - Somos quatro exatamente por isso, para que quando um não pudesse os outros três os cobrissem.
- Mas é diferente quando se trata do nosso grupo! - Ernst argumentou. - É o nosso futuro em jogo.
Eu não respondi. Ele tinha razão, lutamos muito até chegarmos ali. Não foi um caminho fácil. Se eu explicasse pra Victor ele certamente entenderia, ele já passara por aquilo.
- Eu sei, Ernst! Eu sei. Vamos conversar nós quatro. Vamos resolver juntos, como sempre fizemos. - Ernst não disse nada, se virou para a tela do computador e voltou a se concentrar no que fazia.
Na produtora tínhamos responsabilidades iguais, mas em relação ao grupo, era Ernst que dava a palavra final. Mesmo que eu tivesse usado como argumento essa equiparação de responsabilidades, eu sabia que em relação ao grupo era diferente.
Quando Pedro e Gi chegaram, Ernst logo contou as novidades, mas aquele sorriso que ele tinha ao me contar, não estava mais lá.
- Só notícia boa, Ernst! - Gi falou agitada com as novidades. - Porque essa cara de enterro ao contar.
- Pergunta pra sua melhor amiga! - Ernst usou um tom irônico que me incomodou profundamente, aquilo não era necessário.
- A data do evento bate com o período que eu já havia marcado de passar com o Victor. - Falei antes mesmo de GI perguntar.
- Ah! Mas isso não é problema. – Gi declarou e eu sorri aliviada imaginando que ela concordaria comigo. - Ele vai entender, Lan! Tenho certeza! Estamos a muito em busca dessa oportunidade! – Meu sorriso desapareceu assim que Gi completou o pensamento.
Merda, mil vezes merda! Eu realmente esperava que o lado romântico de Gi falasse mais alto e não o da responsabilidade. Eu precisava de alguém me apoiando, olhei pra Pedro, quase desesperada, ele era minha última chance.
- Seis meses de negociação, Alana! - Pedro suspirou quando um sorriso frustrado apareceu no meu rosto. - É importante que estejamos todos!
Eu só assenti, não tinha muito mais o que fazer. A reunião seguiu com Ernst apresentando as possibilidades de programação e ideias para o show final com os funcionários. Pedro e Gi davam palpites, novas ideias, argumentavam a favor ou contra, animados. Claro que eu também participava, mas não tão animada como eles, minha cabeça até poderia estar na reunião, mas meu coração estava longe, numa fazenda no pantanal.
- Lan, me ajuda aqui! - Gi gritou da cozinha cinco minutos depois do fim da reunião.
- Oi. - Falei me apoiando na porta.
- Amiga, sei que vocês estavam programando esse momento, sei que vocês estão desesperados para ficarem um pouco juntos. - Gi falava baixo para que Pedro e Ernst não ouvissem. - Me desculpa se não te apoiei, mas é o nosso sonho e estamos lutando há tanto tempo...
- Eu sei! - Eu sorri amarelo. - Só que eu achei que seria possível acontecer sem a minha presença, bobagem minha, né?
- É possível, claro que é. - Gi disse apaziguadora. - Mas pensa em como você se sentiria depois. E se algo não saísse como acordado?
Eu bufei e Gi parou de falar imediatamente.
- Desculpe! To te pressionando, né? - Gi falou sem graça.
- Um pouquinho. - Respondi desanimada.
- Vai dar tudo certo, tenho certeza! - Gi era altamente positiva.
- Claro que vai. - Confirmei, mesmo não acreditando muito no que dizia.
- E de qualquer forma, vocês passarão o fim de semana do show juntos! - Eu assenti. - Viu. Vai ficar tudo bem.
- Claro, tudo bem. Vai sim. - Respondi e me virei, saindo da cozinha e voltando a minha mesa.
Eu não tinha ideia de como Victor lidaria comaquela informação, mas não demoraria muito pra descobrir já que faltavam dezminutos para ele me ligar, como tinha feito diariamente desde que nosseparamos.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...