Capítulo 46

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O resultado do teste de farmácia caiu da minha mão no momento em que a palavra Grávida apareceu no visor. Certamente todas as minhas crises existências parariam naquele momento, mas esse era o menor dos meus problemas agora.

- Mãe, você vai sair desse banheiro em algum momento? - Lucas perguntou ansioso.

- Vou, filho! - Eu peguei o teste e o coloquei sobre a pia e logo depois abri a porta.

- E aí? - Laura perguntou também ansiosa.

Eu olhei para todos ali, eram minha família, as pessoas que eu mais confiava, mas mesmo assim me sentia insegura.

- Parece que vocês vão ter um irmão. - Falei em tom neutro.

- Aha! Eu tinha certeza. - Marcelo abraçou os filhos. - Não é uma notícia maravilhosa, crianças?

- Ainda não sei, pai. - Lucas falou sincero. - Pela cara da mãe não é tão maravilhosa assim.

- Claro que é, Lucas! - Eu estava completamente anestesiada. - Eu só tenho que entender tudo isso.

- Não é melhor você fazer um exame de sangue, mãe? - Laura perguntou tão em choque quanto eu. - Existe uma porcentagem de possibilidade de erros nesses exames e...

- Só por desencargo, né? - Marcelo falou rindo. - Porque eu não tenho dúvida alguma.

- Nem eu. - Concordei num suspiro. - Mas você tem razão, filha, eu vou tentar marcar uma hora amanhã mesmo com a Dra. Clara.

- Pode deixar, Lan, vou ver isso agora pra você. - Gi falou se aproximando e me abraçando. - Parabéns, amiga!

- Obrigada! - Abracei Gi apertado e logo todos nós estávamos abraçados, num grande momento de amor familiar.

- Eu tenho umas coisas pra resolver, já volto. - Ernst falou logo depois de me parabenizar e me beijar. - Você me acompanha, Pedro.

- Claro. - Pedro também me beijou e seguiu Ernst.

- Eu acho que preciso sentar. - Declarei sentindo as forças me faltarem.

- Mãe, você acha que vai ficar tudo bem com Victor? Acha que ele vai levar de boa? - Lucas me empurrou para o sofá e se sentou ao meu lado.

- Não tenho ideia, filho, só vou saber quando contar. - Respondi sincera.

- Você acha que está de quanto tempo? - Laura se sentou também e me abraçou.

- Um mês e meio! - Respondi depois de um cálculo rápido.

- O que você prefere? Menino ou menina? - Lucas olhava pra minha barriga como se pudesse enxergar através dela. - Eu apostaria num menino. - Declarou sorrindo.

- Por quê? - Laura quis saber.

- Porque Victor só tem filho homem! - Lucas respondeu.

Os dois começaram uma discussão sobre genética e possibilidades, mas eu não conseguia prestar atenção, meu foco estava todo na minha barriga ainda lisa, no filho de Victor que se formava ali e em como eu contaria pra ele, ou pior, como esconderia dele a informação.

- Marcelo... - Procurei meu ex-marido com o olhar interrompendo a discussão que meus filhos ainda mantinham.

- Oi, Xuxu! - Marcelo se aproximou e sentou entre Lucas e eu.

- Como eu vou explicar pro Victor? Como eu vou esconder dele essa gravidez? Como eu vou contar pra ele? - Eu precisava de um norte e Marcelo sempre fora extremamente sensato.

- Primeiro a gente vai confirmar essa gravidez, mesmo que não tenhamos dúvidas. - Marcelo me abraçou carinhoso. - Esconder vai ser complicado, até porque você sempre foi péssima em mentir e esconder qualquer coisa, você é extremamente transparente. - Eu apoiei a cabeça no ombro de Marcelo conformada. - Quanto a contar, vamos pensar em uma forma, mas o importante é que estaremos do seu lado, com Victor ou sem Victor.

- Obrigada! - Agradeci com um suspiro. A frase final de Marcelo martelando em minha cabeça "com Victor ou sem Victor." e o ar me faltou. - Eu sei que vocês estão preocupados e tudo isso, mas acho que preciso ficar um pouco sozinha, vocês se importam? - Perguntei olhando para meus filhos e logo depois para Marcelo.

- Só se você prometer que vai ficar bem. - Laura falou me abraçando.

- E que vai nos chamar se sentir qualquer coisa. - Lucas completou.

- Sua mãe vai ficar bem. - Marcelo falou levantando e me puxando com ele. - Vai descansar um pouco, nos estaremos por perto se você precisar. - Eu agradeci com um aceno de cabeça.

Me arrastei até meu quarto, fechei a porta atrás de mim e me joguei na cama perfeitamente arrumada.

- Victor! - Suspirei ao me lembrar dele arrumando a cama ao acordarmos.

"- Não precisa eu arrumo depois. não quero perder nenhum segundo do dia de hoje. - reclamei o abraçando pela cintura quando Victor começou a organizar a cama.

- Precisa sim. - Ele respondeu sorrindo. - Porque mais tarde, quando você voltar pro quarto e encontra-la arrumadinha, vai se lembrar de mim.

- Eu vou me lembrar de você o tempo todo, seu bobo. - Eu continuava agarrada a ele.

- Ai da senhora se não o fizer. – Victor falou rindo. Mas aqui as lembranças serão outras, mais quentes. - Victor usou um tom sedutor ao falar, me arrancando risos.

- Nesse caso... - Soltei o abraço e fui ajudá-lo."

Agora mais do que nunca eu tinha certeza que me lembraria dele o tempo todo. Puxei o travesseiro que ele usara e respirei fundo para sentir seu cheiro nele.

- Será que você vai ter o mesmo cheirinho que o seu pai? - Perguntei para minha barriga.

Grávida. O teste de sangue só serviria como confirmação ao que eu já tinha certeza. Grávida de Victor Aster. Grávida do Violeiro Galã. Grávida de uma celebridade. Eu não estava conseguindo lidar bem com uma nota abusada num site de notícias fofocas, imagina quando descobrissem minha gravidez. Travei meus pensamentos, eu não tinha porque pirar com aquilo, Victor criara os filhos afastados do "glamour" do estrelato, não seria diferente agora.

Levei às mãos a barriga.

- É bom que você já saiba que seu pai é um violeiro famoso, que vive viajando pelo país, então provavelmente ele vai perder alguns momentos importantes do seu crescimento. Mas ele vai amá-lo muito, assim como eu já o amo. - Lágrimas corriam dos meus olhos. - Sabe neném, eu não imaginava me apaixonar como me apaixonei pelo seu pai, muito menos de forma tão rápida e tão intensa. - Eu sorri ao imaginar Victor com nosso neném no colo e uma felicidade inesperada tomou meu corpo. - Tá, eu sei que a gente não planejou a sua chegada, mas pelo visto as coisas entre seu pai e eu tem um tempo diferente. É sempre corrido, como se estivéssemos com pressa, como se quiséssemos recuperar um tempo que nem sabíamos ter perdido. - Meus olhos pesaram e eu bocejei rindo. - Você tá fazendo seu trabalho direitinho, né? Primeiro me transforma numa louca chorona e agora vai me fazer dormir em qualquer lugar. - Me ajeitei na cama abraçada ao travesseiro com o cheiro de Victor. - Eu prometi ao seu pai não enlouquecer e não vou. E agora eu prometo a você que vamos ser muito felizes. - Meus olhos estavam quase fechando, mas eu ainda consegui dizer antes de adormecer. - Eu te amo, neném... Eu te amo, Victor.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora