Capítulo 47

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- Acorda, mãe. - Laura deitou ao meu lado me abraçando. - O pai fez almoço, você precisa comer.

- Quanto tempo eu dormi? - Perguntei preguiçosa.

- Umas duas horas. - Laura respondeu rindo. - Papai falou que você dormia em qualquer lugar quando estava grávida. Era só se encostar que dormia.

- Era vergonhoso. - Eu respondi rindo. - Uma vez dormi no cinema, tão profundamente, que ronquei. Seu pai me acordou e ainda ganhou uma bronca, eu estava tendo um sonho lindo. – Contei arrancando gargalhadas de Laura.

- Mãe, eu sei que você e o pai se amaram e talz... - Olhei pra minha menina, a dúvida brilhando em seus olhos escuros. - Mas vocês nunca contaram a verdadeira razão da separação de vocês.

- Claro que contamos. – Laura revirou os olhos e eu a puxei para os meus braços. – Tá. Talvez tenhamos omitido algumas partes, mas vocês eram muito novos. - Laura ergueu uma sobrancelha e me vi espelhada em seu rosto. - Ok. Vamos a versão completa. - Eu falei num gemido desistente. - Seu pai e eu sempre fomos muito mais amigos do que namorados ou marido e mulher. Começamos a namorar cedo, descobrimos um no outro uma parceria incrível e uma coisa levou a outra, foi quase como um movimento natural. - Os olhos de Laura estavam fixos em mim. - A gente achava engraçado que nossos amigos sempre brigavam, sempre discutiam e conosco não acontecia. Mas era o nosso jeito. Entre nós foi tudo sempre muito calmo e tranquilo, até fazer amor era assim. - Laura revirou os olhos e eu ri. - Você acha que foi concebida como, menina? Com um pedido as estrelas?

- Não né, mãe! - Laura riu. - Mas esses detalhes eu não sei se quero saber.

- Se você quer entender melhor a nossa separação, eu preciso falar sobre esses detalhes. - A cara de Laura era de quase desistência.

- Tá. Mas não detalha muito não, por favor. - Laura fez uma careta conformada.

- Vou tentar. - Devolvi a careta antes de continuar a contar. - Estar com seu pai, no sentido físico, era bom, claro, mas às vezes parecia que, tanto eu quanto ele, o fazíamos porque era o que um casal faria. A gente não tinha uma necessidade louca desse contato e por consequência não sentíamos falta, você consegue me entender?

- Acho que sim. - Laura estava atenta a minha explicação.

- Com o tempo nossos encontros se tornaram cada vez mais escassos, até chegar ao ponto de passarmos quase um ano sem fazermos amor. - Os olhos de Laura se arregalaram. - Mas não foi uma tragédia, a gente até ria disso, porque de verdade não nos fazia falta.

- Vocês nunca foram de grudinho, né? - Laura refletiu sorrindo.

- Não, não fomos. - Era engraçado refletir sobre isso justo agora, a diferença da forma que me relacionara com Marcelo - uma imensa calmaria e com Victor - uma tempestade constante.

Eu sempre soube que Marcelo estava lá, afinal, ele sempre esteve, desde os meus treze anos. Eu não sentia falta da presença física dele, sentia falta das trocas de ideia, do conforto, da sensatez e da parceria. Já com Victor, bastava ele estar presente que meu corpo exigia um contato, era quase compulsiva a necessidade do contato físico com Victor e quando ele estava longe, meu corpo chegava a doer de necessidade dele.

- Quando vocês decidiram se separar? - Laura quis saber.

- Lembra-se daquela primeira turnê internacional do seu pai? Aquela que ele ficou quase seis meses fora? - Laura deu um pulo e sentou na cama.

- Eu sempre soube que tinha algo com essa turnê, sempre soube. O que aconteceu, mãe? O pai te traiu? Você traiu o pai? - As expressões de Laura mudavam a cada pergunta, da compreensão a raiva, ela deixara cada momento bem claro.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora