- Lan, seus solos foram maravilhoso, mas Círio foi especial, eu quase não consegui fazer a minha parte. Que coisa linda, me emocionei real. – Gi, minha melhor amiga e parceira de grupo me abraçava e eu só conseguia sorrir de felicidade.
Eu tive somente uma semana para me preparar para aquele solo, nosso diretor incluiu de última hora três canções clássicas do cancioneiro sertanejo tradicional em nosso repertório já que participaríamos do Festival de Cultura Regional em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
E não fora uma semana fácil, eu pegara uma infecção estomacal e estava a base de antibióticos fortíssimos, o que me deixara mais ansiosa do que o normal.
- Eu estava tão nervosa, mas tão nervosa, que nem tenho certeza do que cantei. – Falei pra Gi, ainda abraçada a ela. – A sorte é que são músicas que sempre gostei e que ouço desde sempre.
- Você não tem ideia do quanto foi lindo. – Gi pegou minha mão e me arrastou para o camarim.
Não exatamente me arrastou, eu não sou do tipo arrastável, não sou o que se pode chamar de mignon, aliás, muito pelo contrário. Estou acima da média de altura e uma compleição física grande. Mignon seria a última palavra que se encaixaria no meu perfil.
- Alana, mulher, você viu quem estava na plateia? - Pedro, um dos fundadores do grupo se aproximou perguntando e eu movimentei a cabeça negativamente. – Que bom, por que eu acho que você ia morrer se soubesse antes ou mesmo no meio do seu solo maravilhoso.
- Tô com medo agora. – Respondi brincando. – Para de mistério e me diz, quem é que estava na plateia?
- O Zé Otávio. – Pedro me disse com a maior naturalidade.
- Quem é Zé Otávio? – Sabe quando você não junta o nome a pessoa? Pois é, fui eu naquele momento.
- Sua louca... – Gi me deu uma sacudida nos ombros. – Zé Otávio, o autor de Círio, que você acabou de solar.
- Puta que pariu! – Foi tudo que consegui dizer. – Esse Zé Otávio? – Gi e Pedro sacudiam a cabeça afirmativamente e eu só sabia tremer. – Eu... caraca... meu Deus.... Que vergonha!
- Ah, para mulher, ele aplaudiu você de pé. – Pedro ria de mim. – Aliás, você hoje mandou maravilhosamente bem, três solos muito bem executados e na frente dos seus autores.
- Como assim autores? – Ergui a sobrancelha ao perguntar, era uma ação natural pra mim, tal como respirar, minhas sobrancelhas tinham vida própria e marcavam com movimentos diferenciados as minhas expressões.
- Do lado do Zé Otávio estava aquele lindão do Victor Aster. – Eu olhava para o Pedro com a boca em forma de "O", ao mesmo tempo meu coração disparava no peito. – Você tá conseguindo me acompanhar no raciocínio, Alana?
- Aham! – Foi tudo que consegui responder.
- Você cantou para os caras as canções deles, que foda amiga! – Pedro estava rindo, feliz com aquilo tudo. – Você é muito sortuda, muito!
- Tá! – Eu ainda estava em choque com aquela informação.
Eu me mantive ali parada enquanto Pedro se afastava sorrindo. Uma mistura de emoções me tomou o corpo e meus olhos se umedeceram.
- Alana, tá tudo bem? – Gi me perguntou com uma cara de preocupada.
Eu não sabia o que responder. Claro que estava tudo bem, mas ao mesmo tempo não estava. Eu não sabia se agradecia por não saber antes dessa informação, se eu entrava em pânico agora com a informação, eu simplesmente não sabia o que dizer.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...