- Cadê a minha calça jeans? – Gi me olhava com cara de arteira. – Gi?
- Ah! Eu fui pegar a calça na sua mala, aí dei de cara com esse vestido, ele é tão lindinho! – Gi sorria feliz, que nem criança.
- Eu não acredito, Gi, sinceramente, viu! – Reclamei pegando o vestido e olhando pra ele com cara de desgosto.
- Se você quiser te empresto a minha calça, vou adorar usar seu vestido. – Eu a olhei séria, mas com muita vontade de rir.
Não existia a menor possibilidade de eu usar a calça jeans dela e ela sabia disso. Gi era pequenina, acho que não chegava nem a um metro e sessenta e cinco e era toda magrinha. A calça dela não passaria jamais pelas minhas coxas, se bobear não passaria nem pelas minhas panturrilhas, já que era do modelo skinny.
- Bem, o mal tá feito e você me deixou sem opção. – Resmunguei jogando o vestido em cima da cama do quarto que havia sido separado para nós duas.
- Não reclama. Vai ficar linda. – Ela falou e sumiu pela porta do banheiro.
Meia hora depois estávamos as duas prontas, Gi de calça jeans e blusa, como eu gostaria de estar, e eu de vestido e botinas.
- Viu, eu falei, tá linda. Agora me faz só um favor? – Eu ergui a sobrancelha e olhei torto.
- Você realmente acha que tem crédito pra me pedir alguma coisa? – Respondi rindo.
- Ah! Eu sempre tenho muitos créditos com você, aliás, muitos mesmo, porque foi o Pedro que veio me contar dos acontecimentos enquanto estive fora e não você. – Eu suspirei alto e fiz cara de poucos amigos.
- Eu ia te contar na hora que fossemos dormir. – Argumentei. – Você adora estórias pra dormir.
- É bom que contasse mesmo, mas agora eu já sei de tudo e estou com crédito, então passa esse batom aqui e ficamos zeradas. – Gi me estendeu um batom vermelho carmim.
- Mas não existe a menor possibilidade! – Eu respondi rindo.
- Ah! Existe sim. – Gi abriu o batom e veio andando na minha direção. – Ou passa você ou passo eu em você.
- Não, você vai me borrar toda. – Falei afastando o rosto e pegando o batom da mão dela, me virei para o espelho e passei o batom sem muita vontade. – Pronto. Satisfeita agora?
- Muito mais que satisfeita. – Gi me girou novamente para o espelho. – Você tá linda amiga, linda demais, acho que vai ter violeiro cantando a noite inteira pra você.
Eu olhei meu reflexo sem muita vontade, mas fiquei feliz com o que vi, o vestido de tecido leve era soltinho, florido em tons vermelhos, as mangas deixavam meus ombros expostos e o comprimento cobria minhas coxas até acima dos meus joelhos. De alguma forma milagrosa o estilo combinava perfeitamente com as botinas marrons já gastas de tanto eu usar. Os meus cabelos curtos e muito escuros pareciam ser a moldura perfeita para os lábios vermelhos pelo batom.
- Tem razão, Gi, ficou bom sim. – Eu disse em tom conciliador.
- Eu sempre tenho razão, Lan! Você é que tem a péssima mania de não me escutar. – Gi disse rindo.
A música já tomava todo a área do "Cantinho da Inspiração" quando rompemos a porta da sede. As redes do caramanchão tinham sido retiradas e o local havia se transformado em uma "pista de dança" onde alguns casais já arriscavam uns passos. Várias pequenas lâmpadas coloridas e brancas se espalhavam pela área, iluminando e ao mesmo tempo dando um tom misterioso ao espaço. No Quiosque a fogueira já estava acesa e um quinteto composto de viola de cocho, ganzá, mocho, violino e acordeom tocavam um Rasqueado.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...