Capítulo 36

8 2 0
                                    

- Você nem tocou na comida, Lan! - Gi me chamou a atenção.

- Eu não to com muita fome não. - Respondi dando de ombros.

- Ele vai chegar em quatro dias! Quatro dias! - Gi mostrava os dedos formando o número falado. - E você ao invés de se animar tá cada dia mais borocoxô. Não dá pra entender.

- Eu sei. - Eu estava mesmo um pouco desanimada, não pela chegada dele, mas pela consciência de que o tempo que teríamos juntos seria muito escasso.

- Além disso, a Laura está chegando e não vai gostar de ver a mãe dela assim. Você precisa comer, já deve ter emagrecido uns quatro quilos. - Gi sentou do meu lado e, como se lidasse com uma criança, começou a me dar comida.

- Não precisa, Gi, obrigada! - Peguei o garfo da mão dela e me esforcei pra comer um pouco mais.

- Boa garota! - Gi falou sorrindo. – Agora você vai me dizer o que realmente tá te incomodando? Você sempre foi tão faladora e agora tá tão calada.

- Ou eu como ou eu falo. - Respondi enfiando uma garfada de comida na boca.

- Lan, eu sei que você ficou chateada em mudar seus planos... - Gi começou a falar, mas eu a interrompi com um gesto de mão.

- Fiquei sim, Gi. Fiquei chateada sim, mas não só pela mudança de planos. - Gi prestava total atenção em mim. - Eu fiquei chateada por quase abrir mão de algo que estamos batalhando a tempo. Por que pensar em não estar com o grupo para estar com o Victor me mostra o quanto estou envolvida com ele. Eu tava abrindo mão do meu sonho, do nosso sonho, por ele. É por isso que estou chateada.

- Amiga! Você tá apaixonada! É normal pensar essas coisas. - Gi sempre via o melhor lado das coisas. - E você não abriu mão do seu sonho.

- Mas pensei nisso. - Eu respondi desanimada.

- E agora tá achando que a qualquer momento pode largar tudo pra viver esse amor e deixar seus sonhos de lado? - Eu assenti. - Sinceramente Lan, às vezes você tem umas paranoias tão desnecessárias. - Gi estava rindo de mim e eu não estava nada à vontade com aquilo.

- Você tá há uma semana e meia me perturbando sobre esse assunto e aí, quando eu resolvo falar, você ri de mim? - Levantei da mesa, não queria mais falar sobre aquilo.

- Pode ficar aí! - Gi usou aquele tom autoritário que lhe era pouco comum. - Eu to rindo sim, mas dessa sua mania de criar problemas onde não existem. - Gi apontava pra cadeira de onde eu havia levantado. - E pode colocando pra fora tudo que tá guardado aí, porque tem mais, eu tenho certeza que tem mais.

Gi tinha razão, tinha mais sim. Além da questão de eu ter pensando na possibilidade de não estar no evento de contrapartida, da saudade gigante que eu sentia de Victor e do pouco tempo que teríamos pra ficarmos juntos, nossas famílias estariam no show e eu não tinha como correr desse encontro. Isso sem falar no site do Rei das Fofocas que não deixou o assunto - Namorada de Victor Aster - morrer. Ele parecia ter correspondentes em todos os cantos e diariamente postava uma nota sobre Victor.

"Victor Aster gosta de novinhas. Afirma amiga do novo casal."

"Victor Aster é visto sozinho em restaurante, será que o namoro não vingou?"

"Segundo fontes, a namorada de Victor Aster não gosta de acompanhá-lo aos eventos. Cuidado novinha! Tem uma morena louca pra tomar seu lugar!"

"Coincidência? Uma certa morena e sua vovó são vistas saindo do mesmo hotel que Victor Aster em Curitiba."

Eu coloquei tudo pra fora, como Gi pedira, e ela agora me olhava e coçava a cabeça, claramente refletindo sobre o que me falar.

- Novinha! - Gi começou a rir. - Novinha! Isso é um elogio, você deveria ficar feliz com isso!

- Sério, Gi, que você vai focar só no "novinha"! - Eu reclamei virando os olhos.

- Sinceramente, Lan, é a única coisa que dá pra focar. - Gi se levantou e caminhou até onde eu estava, segurou minhas mãos e me levantou. - Amiga, em algum momento as famílias iam se conhecer, então que seja de forma não combinada. Melhor assim do que a tensão de criar um evento pra isso. Vão estar todos felizes, porque vai ser um show lindo, o que reduz e muito as possibilidades de erro.

- Mas é muito cedo! - Eu reclamei.

- Você ia passar uma semana enfurnada na casa dele, por acaso achou que não conheceria a família dele? - Gi perguntou sorrindo.

- Não tinha pensado nisso! - Respondi com uma careta.

- Você é sempre tão sensata, porque não consegue manter a sensatez quando o assunto inclui o Victor? - Obviamente era uma pergunta retórica, mas mesmo assim eu respondi.

- Porque estou completamente apaixonada por ele? Porque nunca me senti assim nos meus trinta e oito anos de existência? Porque quando estou com ele, mesmo que numa chamada de vídeo, tudo que me importa é ele e nada mais? - Eu suspirei e encarei Gi antes de continuar a falar. - Tenho mais uma meia dúzia de respostas se te interessar.

- Não precisa, já entendi! - Gi me abraçou. - É tudo muito novo e você ainda está aprendendo a lidar com esse turbilhão de emoções. A distância, claro, torna esse ajuste mais difícil, mas vocês se amam e vão achar a solução. - Gi abriu um sorriso sapeca e piscou pra mim. - Além disso, graças a Deus, Victor é bem sensato. Então você precisa confiar na sensatez dele, já que a sua está em crise, e na minha, o que não é tão seguro assim.

- Eu quero minha sensatez de volta! - Eu reclamei escondendo o rosto no ombro de Gi.

- Quando você aprender a confiar nos seus sentimentos, ela volta. - A resposta de Gi me pegou de surpresa.

- Eu ainda não confio no que sinto, né? - Ergui a cabeça sorrindo.

- Claramente não! Mas tudo bem! É tudo muito novo pra você, senhora - Sou independente e nada nem ninguém vai mudar isso. - Gi disse rindo.

- Humpft! - Bufei olhando sério pra GI que me sorria agora largamente.

Eu não consegui manter a seriedade e caí nagargalhada. Gi tinha razão, não era fácil lidar com aquela mudança em mim, maseu queria muito aprender. Por mim e por ele.    

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora