- Como assim você não vai chegar na quinta? – Falei brava, sem conseguir disfarçar minha decepção.
Victor me ligara mais cedo naquela segunda e jogara a notícia no meu colo como uma bomba. Eu estava tão decepcionada que não o deixava completar nenhuma frase.
- Não vai dar, eu precisei mudar meus planos, os meninos vieram aqui conversar comigo e... - Ele começara a explicar e eu o interrompi novamente.
- Desculpe! Deixei minha ansiedade falar por mim! - Mesmo decepcionada não tinha como culpa-lo.
Claro que os filhos eram prioridade e essa era a razão dele não ter vindo mais cedo. Vinicius, o mais novo de Victor, com quinze anos, estava cursando o penúltimo ano do ensino médio e estava em semana de provas. Em uma de nossas conversas, naquele mês, Victor contara que após a passagem da esposa mudara sua rotina radicalmente, principalmente por conta de Vinicius. Vinicius era o temporão dos três meninos, crescera acostumado com as viagens do pai e suas faltas em alguns momentos importantes, mas agora, sem a presença da mãe, Victor tentava compensar ficando o maior tempo possível em casa e organizando sua agenda de shows para que nunca batessem com os eventos mais importantes de Vinicius.
- Se você me deixar explicar... - Victor falou impaciente.
A campainha da produtora tocou e Gi deu um pulo da mesa e correu pra porta.
- Você não precisa se explicar, se os meninos precisam da sua presença o certo é você ficar. - Eu o interrompi mais uma vez.
- Você é impossível! - Ele resmungou do outro lado. - Eu preciso desligar, nos falamos em alguns segundos! - Victor desligou a ligação sem me dar tempo de me despedir.
- Lannn! - Gi grito da porta. - É uma encomenda pra você!
- Recebe pra mim! - Respondi ainda olhando para o telefone, chocada com a forma que ele desligara.
- Acho que você não vai gostar se eu receber por você essa entrega! - Gi respondeu entre risos.
Me levantei desanimada, Ernst e Pedro haviam virado suas cadeiras e me olhavam de maneira esquisita.
- O que foi? - Eu quis saber antes de ir ao encontro de Gi na porta.
- Vai pegar sua encomenda logo, estamos curiosos! - Pedro disse sorrindo.
Enfiei o telefone no bolso, caso Victor ligasse realmente em alguns segundos, e me dirigi à porta. Gi estava encostada no hall, um sorriso travesso no rosto.
- Não podia nem abrir a porta? - Reclamei segurando a maçaneta e puxando a porta de má vontade.
- Se você tivesse me deixado explicar... - Victor começou a falar e parou quando eu não reagi à presença dele ali.
Eu tentei articular algumas palavras, mas não conseguia. Meu olhar alternava entre Victor e Gi, ambos tinham um sorriso cúmplice no rosto. Minha boca formava um "O" de tão chocada que eu estava.
- Ele é real, Lan! - Gi falou rindo.
Victor se aproximou, me tomou nos braços, me beijou intensamente, separou o beijo, voltou para onde estava e tocou a aba do chapéu ao mesmo tempo que sorria.
- Eu sou real! - Disse daquela forma mansa.
- Ai meu Deus! - Quando minha ficha caiu que ele realmente estava ali, me joguei contra ele, enchendo seu rosto de beijos e o abraçando com força.
- Ufa! - Victor me segurava em seus braços rindo. - Por um momento achei que você não tinha gostado da surpresa.
- Eu gostei! Claro que eu gostei! - Eu o apertava mais e mais. - É que eu não esperava! Eu já estava me conformando em te ter por menos tempo e você aparece assim. - Segurei seu rosto entre as minhas mãos o beijando. - Mas e os meninos, você disse que eles foram conversar com você... - Victor só sorria. - Eu achei que... - Victor ergueu as sobrancelhas e sacudiu a cabeça rindo. - Eu não deixei você explicar, né? - Ele assentiu me abraçando. - E é claro que eu criei um cenário todo negativo na minha cabecinha criativa... - Mais uma vez ele assentiu. - Eu preciso controlar isso.
- Não sei! - Victor falou entre risos. - Essa sua cabecinha criativa e essa sua ansiedade, apesar de na maioria das vezes criarem o caos, criam também a possibilidade de momentos maravilhosos como esse!
Eu me joguei de novo em seus braços e ele me girou com ele.
- Eu tava com saudade! - Ele disse baixinho no meu ouvido.
- Eu também! - Eu respondi feliz.
Victor me colocou no chão, suas mãos agora seguravam meu rosto.
- Não vai me convidar pra entrar, moça? - Eu assenti, mas não me movi. - Alana? - Ele me chamou apontando para a porta.
- Eu tenho medo de entrar e você sumir! - Respondi rindo. - Preciso ter certeza que não é um sonho.
Victor envolveu minha cintura, me tirou do chão e caminhou pra dentro comigo pendurada nele.
- Pronto. Já estamos dentro e eu ainda estou aqui! - Victor me colocou no chão e me beijou. - Não vou sumir.
Eu assenti e o peguei pela mão, seguindo pelo corredor em direção ao salão da produtora. Quando entramos no salão Ernst, Pedro e Gi se aproximaram cumprimentando efusivamente Victor.
- Eu achei que Alana ia ter um troço quando você ligou! - Pedro falou rindo.
- Você precisava ver a cara dela, eu precisei me controlar pra não contar. - Gi abraçava Victor com carinho.
- Foi complicado guardar esse segredo! - Agora era Ernst que falava. - Mas valeu a pena. A felicidade estampada em vocês é linda de ver.
- Quer dizer que vocês estavam todos mancomunados com esse plano? - Eu cruzei os braços no peito fingindo indignação.
Os quatro assentiram e caíram na gargalhada.
- Eu os perdoo. - Falei acompanhando as risadas deles e abraçando novamente Victor. - Mas só porque eu to muito feliz. - Completei.
- Tira o resto do dia de folga, Lan! A gente dá conta aqui. Vai aproveitar seu namorado! - Pedro falou sorrindo e Ernst e Gi concordaram imediatamente.
- Eu vou! Claro que vou! - Dei um beijo em cada um em agradecimento e me aproximei da minha mesa. - Mas antes vou fechar a planilha de eventos da ...
Eu não consegui completar a frase já que Gi me empurrava pra longe da cadeira.
- Eu acabo aqui pra você, vai aproveitar seu namorado e matar a gente de inveja. - Gi disse sentando-se no meu lugar.
- Obrigada! - Segurei a mão de Victor e o puxei para fora do salão. - Eu amo vocês. - Gritei antes de sumir com ele escada acima.
- E a mim? - Victor perguntou me abraçando contra a parede.
- Hummm... - Trouxe minha mão ao queixo, como quem está pensando numa resposta. - Eu amo só um pouquinho! - Falei rindo, meu corpo já assanhado pelo contato com o dele.
- Então precisamos resolver isso urgentemente! - As mãos deles corriam pelo meu corpo, traçando um caminho de fogo.
- Eu ia te mostrar a casa toda, mas acho que pode ficar pra mais tarde! - Escapei dos braços dele, segurando sua mão e o puxando escada acima. - Por agora só um cômodo tá bom.
- Só um cômodo? - Ele implicou apertando minha mão. - Espero que seja a cozinha, to morto de fome.
Eu parei e o olhei decepcionada.
- Pode ser que tenha outra fome que eu queira matar primeiro. - Meu sorriso voltou a aparecer e ele sacudiu a cabeça revirando os olhos. - Tão previsível. - Eu emburrei e ele riu. - Me mostra logo esse cômodo, chamego! Escadas e cozinhas não estão nos meus planos agora.
Eu bufei rindo. Ele era implicante de uma forma tão doce que eu, surpreendentemente, gostava daquilo.
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Amanhecer em Canção
RomanceAlana é uma mulher independente e completamente dona do próprio nariz. Aos 38 anos, separada e com dois filhos já encaminhados, nada lhe escapa ao controle. Mantém sua vida sob total vigilância para que nada aconteça de forma diferente do que ela pl...