Capítulo 37

6 2 0
                                    

- Como assim você não vai chegar na quinta? – Falei brava, sem conseguir disfarçar minha decepção.

Victor me ligara mais cedo naquela segunda e jogara a notícia no meu colo como uma bomba. Eu estava tão decepcionada que não o deixava completar nenhuma frase.

- Não vai dar, eu precisei mudar meus planos, os meninos vieram aqui conversar comigo e... - Ele começara a explicar e eu o interrompi novamente.

- Desculpe! Deixei minha ansiedade falar por mim! - Mesmo decepcionada não tinha como culpa-lo.

Claro que os filhos eram prioridade e essa era a razão dele não ter vindo mais cedo. Vinicius, o mais novo de Victor, com quinze anos, estava cursando o penúltimo ano do ensino médio e estava em semana de provas. Em uma de nossas conversas, naquele mês, Victor contara que após a passagem da esposa mudara sua rotina radicalmente, principalmente por conta de Vinicius. Vinicius era o temporão dos três meninos, crescera acostumado com as viagens do pai e suas faltas em alguns momentos importantes, mas agora, sem a presença da mãe, Victor tentava compensar ficando o maior tempo possível em casa e organizando sua agenda de shows para que nunca batessem com os eventos mais importantes de Vinicius.

- Se você me deixar explicar... - Victor falou impaciente.

A campainha da produtora tocou e Gi deu um pulo da mesa e correu pra porta.

- Você não precisa se explicar, se os meninos precisam da sua presença o certo é você ficar. - Eu o interrompi mais uma vez.

- Você é impossível! - Ele resmungou do outro lado. - Eu preciso desligar, nos falamos em alguns segundos! - Victor desligou a ligação sem me dar tempo de me despedir.

- Lannn! - Gi grito da porta. - É uma encomenda pra você!

- Recebe pra mim! - Respondi ainda olhando para o telefone, chocada com a forma que ele desligara.

- Acho que você não vai gostar se eu receber por você essa entrega! - Gi respondeu entre risos.

Me levantei desanimada, Ernst e Pedro haviam virado suas cadeiras e me olhavam de maneira esquisita.

- O que foi? - Eu quis saber antes de ir ao encontro de Gi na porta.

- Vai pegar sua encomenda logo, estamos curiosos! - Pedro disse sorrindo.

Enfiei o telefone no bolso, caso Victor ligasse realmente em alguns segundos, e me dirigi à porta. Gi estava encostada no hall, um sorriso travesso no rosto.

- Não podia nem abrir a porta? - Reclamei segurando a maçaneta e puxando a porta de má vontade.

- Se você tivesse me deixado explicar... - Victor começou a falar e parou quando eu não reagi à presença dele ali.

Eu tentei articular algumas palavras, mas não conseguia. Meu olhar alternava entre Victor e Gi, ambos tinham um sorriso cúmplice no rosto. Minha boca formava um "O" de tão chocada que eu estava.

- Ele é real, Lan! - Gi falou rindo.

Victor se aproximou, me tomou nos braços, me beijou intensamente, separou o beijo, voltou para onde estava e tocou a aba do chapéu ao mesmo tempo que sorria.

- Eu sou real! - Disse daquela forma mansa.

- Ai meu Deus! - Quando minha ficha caiu que ele realmente estava ali, me joguei contra ele, enchendo seu rosto de beijos e o abraçando com força.

- Ufa! - Victor me segurava em seus braços rindo. - Por um momento achei que você não tinha gostado da surpresa.

- Eu gostei! Claro que eu gostei! - Eu o apertava mais e mais. - É que eu não esperava! Eu já estava me conformando em te ter por menos tempo e você aparece assim. - Segurei seu rosto entre as minhas mãos o beijando. - Mas e os meninos, você disse que eles foram conversar com você... - Victor só sorria. - Eu achei que... - Victor ergueu as sobrancelhas e sacudiu a cabeça rindo. - Eu não deixei você explicar, né? - Ele assentiu me abraçando. - E é claro que eu criei um cenário todo negativo na minha cabecinha criativa... - Mais uma vez ele assentiu. - Eu preciso controlar isso.

- Não sei! - Victor falou entre risos. - Essa sua cabecinha criativa e essa sua ansiedade, apesar de na maioria das vezes criarem o caos, criam também a possibilidade de momentos maravilhosos como esse!

Eu me joguei de novo em seus braços e ele me girou com ele.

- Eu tava com saudade! - Ele disse baixinho no meu ouvido.

- Eu também! - Eu respondi feliz.

Victor me colocou no chão, suas mãos agora seguravam meu rosto.

- Não vai me convidar pra entrar, moça? - Eu assenti, mas não me movi. - Alana? - Ele me chamou apontando para a porta.

- Eu tenho medo de entrar e você sumir! - Respondi rindo. - Preciso ter certeza que não é um sonho.

Victor envolveu minha cintura, me tirou do chão e caminhou pra dentro comigo pendurada nele.

- Pronto. Já estamos dentro e eu ainda estou aqui! - Victor me colocou no chão e me beijou. - Não vou sumir.

Eu assenti e o peguei pela mão, seguindo pelo corredor em direção ao salão da produtora. Quando entramos no salão Ernst, Pedro e Gi se aproximaram cumprimentando efusivamente Victor.

- Eu achei que Alana ia ter um troço quando você ligou! - Pedro falou rindo.

- Você precisava ver a cara dela, eu precisei me controlar pra não contar. - Gi abraçava Victor com carinho.

- Foi complicado guardar esse segredo! - Agora era Ernst que falava. - Mas valeu a pena. A felicidade estampada em vocês é linda de ver.

- Quer dizer que vocês estavam todos mancomunados com esse plano? - Eu cruzei os braços no peito fingindo indignação.

Os quatro assentiram e caíram na gargalhada.

- Eu os perdoo. - Falei acompanhando as risadas deles e abraçando novamente Victor. - Mas só porque eu to muito feliz. - Completei.

- Tira o resto do dia de folga, Lan! A gente dá conta aqui. Vai aproveitar seu namorado! - Pedro falou sorrindo e Ernst e Gi concordaram imediatamente.

- Eu vou! Claro que vou! - Dei um beijo em cada um em agradecimento e me aproximei da minha mesa. - Mas antes vou fechar a planilha de eventos da ...

Eu não consegui completar a frase já que Gi me empurrava pra longe da cadeira.

- Eu acabo aqui pra você, vai aproveitar seu namorado e matar a gente de inveja. - Gi disse sentando-se no meu lugar.

- Obrigada! - Segurei a mão de Victor e o puxei para fora do salão. - Eu amo vocês. - Gritei antes de sumir com ele escada acima.

- E a mim? - Victor perguntou me abraçando contra a parede.

- Hummm... - Trouxe minha mão ao queixo, como quem está pensando numa resposta. - Eu amo só um pouquinho! - Falei rindo, meu corpo já assanhado pelo contato com o dele.

- Então precisamos resolver isso urgentemente! - As mãos deles corriam pelo meu corpo, traçando um caminho de fogo.

- Eu ia te mostrar a casa toda, mas acho que pode ficar pra mais tarde! - Escapei dos braços dele, segurando sua mão e o puxando escada acima. - Por agora só um cômodo tá bom.

- Só um cômodo? - Ele implicou apertando minha mão. - Espero que seja a cozinha, to morto de fome.

Eu parei e o olhei decepcionada.

- Pode ser que tenha outra fome que eu queira matar primeiro. - Meu sorriso voltou a aparecer e ele sacudiu a cabeça revirando os olhos. - Tão previsível. - Eu emburrei e ele riu. - Me mostra logo esse cômodo, chamego! Escadas e cozinhas não estão nos meus planos agora.

Eu bufei rindo. Ele era implicante de uma forma tão doce que eu, surpreendentemente, gostava daquilo.

Amanhecer em CançãoOnde histórias criam vida. Descubra agora