Totalmente Nossos

Capítulo Vinte:

Música: Paulo Ricardo - Jealous Guy.

***

Logo após o toque da campainha, Natalie foi encaminhada para a sala do júri, era uma sala grande, com uma mesa à frente que mais parecia uma tribuna, de cada lado cadeiras almofadadas, do lado direito de quem entrava na sala uma elevação com doze cadeiras que era onde ficavam os jurados, logo abaixo, de frente para a mesa do juiz, ficavam as mesas onde ficariam os advogados de defesa do lado direito e de acusação do lado esquerdo, foi onde Raul a encaminhou, junto com Juarez, as outras duas moças que Natalie reconheceu, pois elas também haviam trabalhado na mesma empresa e a esposa do senhor Wilson. Atrás de onde eles ficariam, uma cerca separando a "plateia" Murilo e todos da família estavam presentes, apenas Yago não conseguira vir, devido as provas da faculdade, estavam também os familiares das duas moças e os filhos do senhor Wilson.

Natalie olhou para Patrick e estremeceu, ele a olhava com ódio, tinha certeza, havia uma ameaça velada naquele olhar, imediatamente a dor no estômago aumentou, ela engoliu em seco, sentia um medo terrível, sabia do que o antigo patrão era capaz e se por um acaso ele conseguisse se livrar da prisão poderia se vingar dela e de todos que a rodeavam.

Dirigiu seus olhos para o marido e suas forças se renovaram, Murilo a contemplava com amor, era nítido o sentimento exposto nos olhos escuros, o sorriso caloroso do esposo a aqueceu, uma nova força se apoderou dela, uma nova esperança, esperança de que a justiça fosse feita.

Um funcionário adentrou o recinto e bateu no chão com algo como uma bengala, deu três batidas e se fez silêncio.
-Todos em pé, sua Excelência o juiz José Araújo de Andrade. —Apresentou.
Um homem de uns sessenta anos entrou, vestia uma toga preta com bordas douradas, o promotor Augusto Guerreiro o acompanhava. O juiz bateu três vezes com o martelo dando início à sessão. O juiz pediu para que o réu se apresentasse, o que Patrick fez, olhando a tudo com ironia.
O julgamento deu-se continuidade, onde foram lidas as acusações contra o réu pelo promotor.

Natalie foi a primeira a ser chamada para depor. Ela aproximou-se da cadeira ao lado da mesa do juiz, estava trêmula, novamente olhou para o esposo, que lhe sorriu encorajador.
-Erga a mão direita e jure diante de Deus e diante dessa corte, com a mão na Bíblia, dizer a verdade, nada mais que a verdade.
-Sim, eu juro em nome de Deus e diante de todos, dizer a verdade.
-Qual seu nome completo, idade, estado civil e profissão.
-Meu nome é Natalie Stone Vásquez, tenho 22 anos, sou casada com Murilo Escobar Vásquez, sou secretária executiva das empresas EVA.
-Pode sentar-se senhora, está à disposição da promotoria. — O promotor levantou-se e se aproximou dela, Natalie respirou fundo e tentou controlar os tremores de suas mãos.
-Senhora Vásquez, conte-nos como conheceu o réu aqui presente. — Natalie limpou a garganta, engoliu em seco e começou sua narrativa, contou tudo, desde o primeiro dia de serviço, as primeiras cantadas de Patrick, os convites para sair, quando ele lhe contou que estava separado da esposa e de como ela descobriu ser uma mentira, até chegar a terrível noite em que ela precisou ficar até mais tarde e então, tentou violenta-la.

Murilo se remexeu no banco, sempre que ouvia essa história uma raiva sem precedentes o acometia. A vontade de socar o do tal Patrick era latente em seu interior, desejava ardentemente ter essa oportunidade.

Natalie foi dispensada logo após algumas perguntas do promotor, Patrick foi chamado e interrogado.
-Senhor, conhece algumas das jovens aqui presente? — Questionou o promotor.
-Sim, eu conheço, pelo menos três delas intimamente. Elas negam, mas vieram para mim por vontade própria, elas sempre souberam que eu era casado, vestiam-se de maneira sedutora, me provocaram, pediram para que me aproveitasse delas, na noite que Natalie se referiu, ela estava vestida como uma qualquer, a saia curta, blusa decotada, sempre se mostrando e escondendo, quando eu avançava ela dava uma de ofendida, como eu disse, uma qualquer. — Murilo ao ouvir aquilo levantou-se no banco, pronto para xingar o safado, mas seu pai o segurou.
-Ele está mentindo papa! Não posso deixar que ele fale desse jeito da minha esposa. — Reclamou.
-Eu sei meu filho, nós sabemos que ele está mentindo e acredite, o promotor também sabe.
-Senhor, não permitimos que se refira dessa maneira a qualquer uma das jovens. — Repreendeu o juiz.
-Querem a verdade? Pois então, essa é a verdade, eu agarrei sim Natalie Stone, mas ela pediu por isso, ela se insinuava para mim, não só ela, mas as outras duas alí também, sou homem, com sangue quente nas veias, sim, eu agarrei elas e faria isso novamente. — Disse rindo.
-Experimenta encostar na minha esposa seu filho da puta. — Gritou Murilo com raiva.
—Silêncio! Silêncio! Não permitirei que se refira as jovens dessa maneira, tenha mais respeito e apenas responda ao que lhe for questionado. — Interferiu o juiz.
—Murilo, calma mano, ele não irá se aproximar da Natalie, se tiver coragem suficiente para tanto, não sabe o que o espera. — Cochichou Theo no ouvido do irmão.
Natalie estava mal, a dor no estômago estava muito forte, ela não estava aguentando mais, suas mãos já estavam suando frio, olhando para o esposo, pediu com o olhar para que ele se acalmasse. Virando-se, pediu a Raul.
-Tio, estou mal, muito mal, não aguento mais a dor no meu estômago.
-Vou falar com o promotor para que você espere na sala ao lado.
-Não tio, eu realmente não estou suportando, acho que preciso ir para o hospital. — Avaliando-a melhor, Raul pode constatar que a sobrinha estava muito pálida, realmente achava que não seria mais necessária sua presença, ela já falara tudo o que tinha para falar, levantando-se aproximou-se do promotor.
-Senhor, minha sobrinha está passando mal, será que seria possível que ela fosse dispensada? Não pediria isso se não fosse realmente necessário. — Olhando para Natalie, o promotor percebeu que a jovem estava mesmo mal.
-Por mim, tudo bem, vamos falar com o juiz. — Os dois se aproximaram da tribuna do juiz e o promotor solicitou junto à sua Excelência que Natalie fosse dispensada.
-A jovem Natalie Vásquez, está dispensada.
-Obrigado senhor! — Descendo da tribuna, Raul se aproximou da sobrinha oferecendo-lhe a mão, Murilo olhava preocupado, perguntando-se o que estaria acontecendo. Natalie levantou-se e uma vertigem a acometeu fazendo com que ela se segurasse em Raul.
Levantando-se, Murilo correu até a esposa.
-Natalie! Natalie, meu amor! —Erguendo-a nos braços, ele a levou para fora. –Tio, o que aconteceu?
-Ela reclamou de muita dor no estômago Murilo, acho que seria melhor leva-la para o hospital.
-Vou ligar para o Soares mano. —Ofereceu Theo.