Capítulo Vinte e Seis:

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Westlife: I Lay My Love On You.

***

Finalmente trouxeram Maria Luiza para que Rúbia a amamentasse, ela chorou ao segurar a filha pela primeira vez no colo, a bebê mantinha os olhos abertos, curiosos.
—Oi bebê, você sabe quem eu sou? Eu sou sua mama, estava curiosa para ver o seu rostinho, para te segurar em meus braços e principalmente para alimentá-la.
Ela colocou a filha para mamar, no entanto, estranhou que a pequena ficava sufocada muito fácil, a respiração mais curta, Rúbia teve que tirar a filha do seio várias vezes, com medo de que ela se engasgasse.
—Sam, porque será que ela se cansa rápido mamando? Será que é normal, não me lembro de Alejandro, ou Esmeralda se cansarem assim. — Sam olhou preocupado para a filha, ele sabia o motivo, mas a esposa ainda não, o especialista ainda não havia chegado, eles acharam melhor que ele explicasse a ela sobre a condição da filha.
—Faz poucas horas que ela nasceu, meu amor, deve ser isso. Alejandro e Esmeralda já tinham dias de nascidos quando Jade começou amamenta-los. Mas logo os médicos virão conversar com a gente sobre ela, temos que ter um cuidado mais especial com ela, você sabe disso.
—Tem razão, ela é linda, não é? Nunca imaginei que poderia amar tanto alguém, sinto que poderia dar minha vida por ela.

Sam levantou-se de onde estava sentado e se aproximou da esposa, pensando que de bom grado também daria sua vida pela filha e pela mulher que amava.
—Eu daria minha vida por vocês duas, amo-as mais que tudo, obrigado por me fazer tão feliz. — Ouviram duas batidas na porta e Carmen entrou com mais dois médicos.
—Boa tarde aos papais. — Ela cumprimentou-os. –Vejo que já a está amamentando, Rúbia.
—Sim doutora, mas estranhei que ela se cansa muito fácil, como se ficasse sufocada, entende?
—Sim, eu entendi, Rúbia, esses são os doutores, André, que é o pediatra que assistiu ao parto e atendeu a Maria Luiza, um dos melhores que temos, também o doutor Gustavo que é um cardiologista pediátrico, nós precisamos conversar contigo sobre a Maria Luiza.
—Tem algo errado com ela, doutora?
—Bom Rúbia, eu vou deixar que o doutor André comece a lhe explicar.
—Boa tarde Rúbia, Samuel. Bom, como vocês sabem Maria Luiza nasceu com síndrome de Down. Cerca de metade das crianças nascidas com síndrome de Down apresentam algum defeito no coração ao nascer. Essas más formações estruturais ocorrem nos três primeiros meses de gravidez, e nem sempre são detectados pelo ultrassom. Somente o ecocardiograma fetal bimensional com Doppler acoresor (ECO) pode determinar com mais exatidão a existência de um problema cardíaco, geralmente, apresentam cardiopatias congênitas acianogênicas de hiperfluxo pulmonar. Isso significa que o defeito cardíaco que começou ainda na barriga da mãe não produz cianose central, arroxeamento da pele e promove um aumento de fluxo do sangue para o pulmão, hiperfluxo pulmonar. Os principais exemplos deste tipo de cardiopatia são: comunicação interventricular (CIV), comunicação inter arterial (CIA), defeito do septo atrioventricular (DSAV) ou coxim endocárdico e persistência do canal arterial (PCA).
—O senhor está querendo me dizer que minha filha nasceu com um problema no coração? É isso Sam, nossa filha tem problema no coração?
—Calma, meu anjo, deixa o doutor nos explicar melhor, pode não ser tão grave. — Rúbia sentia seu coração disparado dentro do peito, abraçou a filha como que para protegê-la.
—Olha só Rúbia, Maria Luiza nasceu com Defeito do septo atrioventricular (DSAV). Essa é a cardiopatia mais frequente em pessoas com síndrome de Down. Está dentro do grupo de cardiopatias congênitas acianogênicas de hiperfluxo pulmonar, ou seja, não causa o arroxeamento da pele mas leva a um aumento do fluxo sanguíneo no pulmão. Existem três formas de DSAV: total, intermediário e parcial. Em todas elas há um defeito no coxim endocárdico, que é responsável pela formação das válvulas atrioventriculares (tricúspide e mitral) e fechamento dos septos atrial e ventricular. No DSAV forma total, temos a presença de uma CIA, CIV, e válvula atrioventricular única com ruptura (cleft) da válvula mitral. Essa associação de defeitos faz com que haja um grande volume de sangue indo para o pulmão e consequentemente, provoque cansaço e dificuldade para respirar. Com isso, a criança tem dificuldade para ganhar peso e precisa de uma dieta rica em calorias, balanceada e com pouca ingestão de líquidos. A única forma de corrigir a DSAV é por meio de cirurgia. A operação deve ser realizada, de preferência, entre os 6 e 12 meses de idade, não devendo ser adiada por causa do risco de doença vascular oclusiva pulmonar.
—Cirurgia? Meu bebê vai ter que fazer uma cirurgia? — Ela indagou chorando.
Sam a abraçou com carinho.
—Vamos passar por isso juntos, meu amor, sempre estaremos juntos, também temos nossa família que estará do nosso lado.
—Eu sei Sam, mas ela é tão pequenininha.
—Ela é sim, mas ela é forte, ela vai vencer, vamos acreditar, ela é amada e sabe disso, ela sente o quanto a amamos.
—Rúbia, o fato dela se sentir cansada ao mamar é apenas um dos sintomas do seu problema. O defeito do septo atrioventricular sempre precisa de cirurgia. O ideal é esperar até que a criança tenha entre seis e 12 meses, quando seu peso já está acima de seis quilos e o risco cirúrgico é menor. Mas, nos casos em que é difícil controlar a insuficiência cardíaca, pode ser necessário operar antes disso.
—E quais os cuidados que devemos ter com ela? — Quis saber Sam.
—Tem que ficar atento, sempre, como com qualquer recém-nascido, mas com ela deverá ser maior o cuidado, principalmente nas horas das mamadas e logo depois, cuidar para que ela ganhe peso, fazer um acompanhamento com o especialista, o pediatra, qualquer coisa que vocês percebam que esteja estranha, devem chamar o médico imediatamente.

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