Totalmente Nossos

Capítulo Vinte e Nove:

Música: Eric Clapton - Tears In Heaven.

***

O casamento de Yago e Hope, como era da vontade deles, foi bem simples, sem nenhuma pompa, realizado na mansão com a presença do juiz de paz e um sacerdote, somente os familiares mais próximos estavam presentes. Lola e Michael foram escolhidos para padrinhos de Yago, Theo e Jade padrinhos de Hope.

A noiva usou um modelo pérola, curto e mais soltinho na cintura, pois a sua barriga já mostrava a gravidez. Yago estava feliz, não imaginara casando-se aos vinte e um anos, principalmente com uma americana irreverente como sua noiva, no entanto, ela o fazia feliz, esquecera-se completamente de Amanda, Hope era divertida, engraçada, desastrada, mas ao mesmo tempo ela tinha um senso de decência e moral que Amanda nunca demonstrara, fizera a escolha certa afinal, disso tinha certeza absoluta.

A recepção aconteceu no jardim, foram montadas mesas e uma pista de dança em baixo de um toldo onde todos se reuniram para desfrutar da farta mesa de comidas e os mais jovens se esbaldarem na pista de danças. Hope e Yago dançaram apenas as músicas mais lentas, pois ele tinha medo de que ela se esforçasse demais, Hope que compartilhava do mesmo medo do esposo, resolveu se comportar.
—Então, minha loirinha, está feliz? — ele quis saber.
—Como nunca imaginei que poderia estar, a coisa mais acertada que fiz na vida foi vir atrás do meu moreno bonito. — ela respondeu sorrindo. –Nunca pensei que estaria me casando com a minha idade, principalmente casando grávida e de trigêmeos!
—Sim, eu sou um baita sortudo, sem contar a mira certeira. — disse rindo.
—Além de muito modesto, não é mesmo? Você e Theo são iguaizinhos. — Respondeu Lola que ouviu a conversa do irmão mais novo com a esposa.
—Lola, maninha, fazer o que se somos os mais bonitos da família? — argumentou!
—E metidos também, esqueceu dessa qualidade. — comentou Sam, rindo do irmão.

Todos estavam cuidadosos com a gestante, afinal, a fama de desastrada de Hope já era motivo de piada entre a família.

~*~

Rúbia e Sam estavam inseguros, o dia da cirurgia da pequena chegara, os médicos haviam sido unâmines em dizer que ela precisava ser operada o mais rapidamente possível, pois ela já apresentava dificuldade até mesmo para mamar, apresentava sudorese intensa, a frequência cardíaca e respiratória alteradas, foi necessário deixá-la constantemente no oxigênio, desde a internação. Dois dias antes, uma pneumonia se apresentou sendo necessário o início de tratamento com antibióticos.

No dia da cirurgia o médico veio conversar com os pais e os demais familiares que estavam no hospital para dar apoio ao casal.
—Bom, Samuel e Rúbia, eu vou ser sincero com vocês, afinal, não podemos dourar a pílula, a situação da filha de vocês é complicada, ela apresenta a valva esquerda com duplo orifício, obstrução do ventrículo esquerdo, uma pneumonia, os pulmões dela estão bem comprometidos, ela voltará da cirurgia intubada e sedada, será um procedimento de alto risco.
—Ela corre o risco de morrer doutor? É isso que está querendo nos dizer? — quis saber Rúbia apavorada, as lágrimas caindo intensas.
—Olha Rúbia, será arriscado, é o que eu posso dizer a vocês, ela está fraquinha, o peso abaixo do ideal, taquicárdica, taquipneica, iremos dar o melhor de nós, mas não posso garantir que ela aguente a cirurgia, ou que aguente as próximas horas pós-cirurgia. Existem dois tipos de cirurgia nesta ocasião: paliativa ou corretiva, a corretiva para realizarmos este tipo de cirurgia é necessário o auxílio da máquina coração-pulmão ou CEC – Circulação Extra-Corpórea. As comunicações podem ser fechadas ou "tampadas" com pericárdio do próprio paciente tratado quimicamente durante a cirurgia (pericárdio é a camada que envolve o coração/ não há nenhuma repercussão em tirá-lo) ou pericárdio bovino ou equino tratado (derivado de boi ou cavalo, passa por um processo químico que o torna inerte no corpo humano, e é um dos materiais mais utilizados em cirurgia cardiovascular há mais de 40 anos). Fazemos um chamado remendo, manchão ou "patch", que tampa as comunicações através de sutura (costura) feita pelo Cirurgião Cardiovascular. Se as valvas forem bem formadas pode-se preserva-las através de plástica. Se as valvas forem inviáveis pode ser necessária a troca por uma prótese. Outra possibilidade é realizarmos uma cirurgia paliativa. Conforme avaliação das condições da criança (idade e gravidade da doença), a cirurgia de Bandagem Pulmonar pode ser adequada. A Bandagem pulmonar é uma cirurgia paliativa que consiste em "apertar" a artéria pulmonar dificultando a passagem de sangue para os pulmões. Ora, se os pulmões sofriam de aumento de fluxo de sangue (hiperfluxo pulmonar) podemos diminuir este aporte desnecessário e danoso. Entretanto, surge responsivamente uma queda na oxigenação sanguínea. Este equilíbrio é difícil e deve ser achado pelo Cirurgião Cardiovascular durante a cirurgia. Lembrando que após alguns meses a criança irá crescer e solicitar progressivamente mais oxigênio, então chegará a hora de reoperar para retirar a Bandagem Pulmonar e fazer a cirurgia corretiva. Por esse motivo optamos desde já pela cirurgia corretiva, não vemos a necessidade de fazê-la passar duas vezes por um procedimento difícil desses.
—Nós concordamos com tudo doutor, desde que seja o melhor para nossa filha. — respondeu Sam, abraçando a esposa, que chorava copiosamente. Ela irá agora para cirurgia?
—Sim, as enfermeiras irão preparar tudo para encaminhá-la para o centro cirúrgico.
—Obrigado doutor! — Sam agradeceu.
Rúbia se encaminhou até o berço onde a filha estava deitada, ela aparentava uma coloração meio azulada, arroxeada, ela não conseguia precisar, em seu pequeno bracinho um cateter venoso levava o antibiótico diluídos em um soro fisiológico e uma bureta.
—Meu anjinho, você vai fazer essa cirurgia, Deus vai estar contigo, minha filhinha, assim como estarão com os médicos também, você irá ficar bem, irá se curar desse probleminha em seu coraçãozinho, os médicos irão fechar esse buraquinho e você irá ficar bem, a mamãe e o papai estarão aqui te esperando para te dar todo o carinho e amor que você merece. Nós a amamos muito, meu amorzinho.