Time to care about

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Me levanto na segunda-feira e faço minha higiene matinal rapidamente, descendo para tomar só uma xícara de café e logo corro para ligar para minha mãe.

- Bom dia minha linda – ela diz assim que atende a ligação.

- Bom dia mãe, agora podemos conversar – prendo a respiração, com medo de ouvir o que vinha a seguir.

- Só fica calma ok? Me escuta primeiro – ela solta um suspiro – No sábado à noite, eu estava com sua tia ajudando na loja e nós sofremos um acidente. Um incêndio tomou conta do lugar e destruiu tudo, eu e sua tia fomos levemente atingidas, já estou em casa mas ela segue no hospital sem perigo.

- Mas como mãe? O que causou esse incêndio? – lágrimas ameaçam cair e eu me seguro para não desabar antes de saber de tudo. A loja era da minha vó e minha mãe e tia cuidavam desde que ela havia se aposentado, porém nunca tinha acontecido nada demais e elas tomavam todos os cuidados e faziam todas as reformas necessárias.

- Não sabemos direito querida, a polícia está investigando mas pode ter sido algum conserto mal feito – eu percebo sua voz embargada – Você sabe que aquele eletricista que a gente contratou por um preço absurdo não era tão bom assim, mas não podemos acusar ninguém até o laudo ficar pronto.

- Eu sei mãe, mas isso não pode ficar assim poderia ter acontecido coisa muito pior...e a loja, meu Deus, a vovó vai ficar devastada.

- A gente vai recuperar tudo, tenho fé.

- E você mãe, como você está de verdade? Não me esconde nada.

- Estou bem meu amor, dentro do possível. Sofri algumas queimaduras e inalei muita fumaça, o que me preocupa é que seu pai tem o emprego dele e tudo mais mas ele quer ficar em casa comigo. Não podemos nos dar o luxo agora dele ser demitido e ainda tem sua tia e a loja, é muita coisa de uma vez.

- Eu vou voltar pra casa e te ajudar mãe, não posso deixar vocês dois sozinhos.

- Nada disso, se você voltar agora filha vai te prejudicar na faculdade e é a última coisa que a gente quer agora. Você fica aí, só queria que você soubesse por mim antes de ver na internet.

- Mas mãe...

- Isso não está em discussão Eve, não quero ver você que lutou tanto para estar aí perdendo o ano por minha causa. Você fica na faculdade.

Passo mais alguns minutos com minha mãe no telefone e ela é enfática em dizer para eu não voltar pra casa. Quando desligo, deixo as lágrimas escorrerem e me sinto de mãos atadas por não saber como ajudar.

- Até que enfim te encontrei – Erick diz quando me vê no corredor – Eve, o que aconteceu amor?

Me lanço nos braços dele e me permito chorar por alguns instantes, até que conto o que aconteceu e como eu me sentia com tudo isso, eu precisava fazer alguma coisa, era minha mãe e a loja da nossa família.

- Vamos falar com seu coordenador, ele deve encontrar uma solução para você conseguir passar uns dias em casa – ele me diz.

- Você acha que é possível? – pergunto já com a esperança renovada.

- Com certeza, precisamos saber do abono de faltas e de seus trabalhos e provas, então encontramos um jeito de você fazer tudo e conseguir ir pra casa – ele abre um pequeno sorriso e eu o beijo.

- Você é o melhor namorado do mundo – ele ri e eu o abraço.

- Vamos lá, melhor namorada do mundo – Erick me puxa pelo braço e vamos a sala do coordenador.

O coordenador foi muito compreensivo e tirou todas minhas dúvidas. Disse que eu precisava de um atestado que confirmasse o estado da minha mãe e que eu deveria falar com cada professor sobre os trabalhos e provas. O agradeci e sai com Erick, aliviada que tudo ia dar certo.

Ligo para minha mãe no mesmo dia e explico o que o coordenador propôs, ela diz que consegue o atestado e fica feliz por eu estar voltando.

- Desde que você não seja prejudicada, vai ser ótimo te ter aqui querida, mas faça tudo com calma ok? Eu não vou correr daqui – ela ri e eu me junto a ela me despedindo em seguida.

...

Passo os dias seguintes falando com todos os professores e adiantando os trabalhos. Eu já estava exausta porém na sexta estaria livre para poder ver minha mãe.

Óbvio que nem todos os professores foram tão compreensivos. O babaca do meu professor de história não quis mudar a data e ainda exigiu o trabalho manuscrito para ser entregue na próxima semana, ele não perdia a oportunidade de me ferrar.

Agora eu estava na biblioteca finalizando esse trabalho, xingando ele em pensamento a cada linha que eu escrevia.

- Ainda aqui? – Erick aparece com um copo de suco para mim.

- Obrigada – respondo e tomo um gole – Estou acabando, você entrega pra mim semana que vem?

- Claro baby – ele me olha sério – Tem certeza que não quer que eu te leve em casa? Vai ser melhor do que pegar um ônibus.

- Você já está fazendo muito por mim, não precisa ir até lá – seguro sua mão – Uma carona até a rodoviária já me ajudaria muito.

- Tudo bem – ele beija nossas mãos entrelaçadas – Mas qualquer coisa que você precisar, me avisa e eu vou correndo para lá ok? Não importa o que seja.

- É por isso que eu te amo – dou um beijo nele e continuo a fazer o trabalho.

...

Termino tudo o que posso e na sexta me encaminho até a rodoviária junto a Erick, as meninas se despediram da faculdade também se ofereceram para ir comigo. Mas nesse primeiro momento, eu precisava ficar só com a minha família.

- Eu aviso quando chegar e não esquece que eu amo você – eu me viro para me despedir de Erick.

- Eu te amo, qualquer coisa, qualquer coisa mesmo você pode me ligar – ele me beija e observa minha entrada no ônibus.

Passo o caminho todo tentando relaxar e escuto minha playlist para momentos tensos como esse.

Na rodoviária da minha cidade, encontro meu pai e dou um abraço demorado nele.

- Minha garota – ele me solta para me olhar – Como você está?

- Preocupada – suspiro – Mas estou bem no geral.

Eu caminho com meu pai até o carro e ele leva minha bolsa e me mantem abraçada junto a ele.

- Filha, preciso falar uma coisa – ele me olha antes de dar a partida – Sua mãe está se fazendo de forte para você no telefone, mas ela não está tão bem. A queimadura na perna segue ardendo e ela está com dificuldade para se locomover, sem falar que não come direito desde o acidente.

- Pai, por que ela não me falou nada disso? – eu o olho sem entender.

- Mães – ele sorri fraco – Ela queria te proteger meu amor, mas ela precisa muito de você agora.

Eu assinto impossibilitada de falar no momento. Respiro fundo e observo as ruas tão conhecidas que me levam até em casa.

Quando chegamos lá, deixo minhas coisas no quarto e recebo um olhar temeroso do meu pai antes de abrir a porta e entrar no quarto. Hora de ver minha mãe . 

Opposite StrangersOnde histórias criam vida. Descubra agora