Capítulo 4

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Chicago, Outubro.

Lia

O taxista se choca pouco com os comentários de Erin sobre minha aventura com Gavin no beco no fundo do bar. Ele olha pelo retrovisor algumas vezes, e em todas meu olhar de volta pra ele grita “cuida da sua vida”. Minha fantasia de noiva cadáver não o assusta nenhum pouco e sua curiosidade continua mantendo seus ouvidos em cada palavra da loira desbocada vestida de vampira devassa.
– Gavin Linden... – ela tem um sorriso congelado do rosto, ainda rindo da minha peripécia. – Ele ficou parado como um espantalho aguardando você.
– Eu sou como um corvo, me afasto de espantalhos. – brinco num sorriso cínico.
– Eu sei, meu amor. – sua voz é mole e vacilante.
Erin já bebeu demais, e a noite ainda está só no começo pra ela. A acomodo no meu braço enquanto o caminho se desenrola a nossa frente para Safeword. Por alguma razão que eu escolho ignorar, Erin tem alguns calafrios. Não sei precisar o motivo, mas meu coração se aperta um pouco. O taxista me olha novamente pelo espelho interno do carro e desvia o olhar.
Safeword parece mais lotada do que o usual. Deve ser porque as pessoas se permitem bizarrices escondidas pela data mais arrepiante do ano. Halloween tem tudo a ver com o que acontece dentro das paredes do clube de sexo mais famoso de Chicago.
O ambiente é escuro e enfumaçado, decorado em veludo, couro e granito. Os corpos quase desnudos em fantasias temáticas se chacoalham ao som de uma frenética música eletrônica, muitos, sem dúvida, estão sob o efeito de drogas sintéticas, se tocando com um misto de desejo e angústia.
Há dois bares, um em cada lado do grande salão. Um dos garçons se desencosta do balcão e me cumprimenta entregando um copo de Aperol Spritz para Erin, que mantém uma mão no meu ombro, e um copo de Kraken com gelo pra mim. É meu rum favorito e quando subo as escadas para o pequeno camarote à beira da pista de dança, sou presenteada com a garrafa e um balde de gelo.
Erin dança girando os cabelos loiros enquanto eu tiro a saia de tule da fantasia, ficando apenas com um corselet rendado branco, cinta liga, meias e botas. Danço um pouco com ela, sob os olhares das pessoas ao nosso redor. No meio da pista, em um dos postes metálicos, um casal se empolga apalpando o corpo um do outro. Seus beijos são quentes, denunciando pedaços das línguas que se encontram em suas bocas.
Preciso de um gole do rum pra amenizar a secura da minha boca com a cena. Erin me abraça pelas costas e aponta um homem na pista. Ele é atraente, loiro, com o cabelo meio comprido e forte. Exatamente o tipo da minha amiga tarada e fantasiado de homem das cavernas, com uma bermuda justa por baixo de uma saia improvisada de um tecido que imita pele animal.
Faço um sinal com a cabeça para o garçom e ele me traz algumas correntes e algemas até o alto da pequena escada do camarote. A música cessa. Completamente. E apesar da quantidade obscena de gente dentro do lugar, ninguém fala uma palavra. Eu não consigo evitar de sorrir. O mundo parece congelado ao nosso redor enquanto eu e Erin nos movemos pela pista, entre o que parece um museu de cera dos horrores com tantas fantasias de Halloween.
O loiro das cavernas é realmente bonito de perto, e seus olhos estão fixos em mim, e depois em Erin. Levanto a algema até a altura de seus olhos e ele levanta o braço. Coloco a algema nele e enrosco a corrente em seu pescoço. Ele respira fundo em excitação e um nervoso iminente. Eu conheço cada reação possível a ser algemado e acorrentado. A cabeça dele deve estar antecipando o que virá a seguir.
Ele anda comigo e Erin até o casal que avistei há alguns minutos. Eles não devem ter mais que vinte e cinco anos cada. Ela é uma garota assustada e arregala os olhos pra mim como se estivesse vendo um fantasma. Ele me observa com curiosidade. Levanto a algema e ele vacila, olhando para a garota.
– Não, Stuart. – ela sussurra como se implorasse pra ele raciocinar.
Erin dá uma gargalhada atrás de mim.
– Ela não vai mata-lo realmente. – Erin debocha. – Viúva Negra é só um apelido.
– Merda. – Stuart parece tentar decidir entre seu relacionamento ou uma noite insana. – Merda.. Merda...
Não consigo ter pena de Stuart. Quem vai a um clube de sexo e espera que seu relacionamento monogâmico seja preservado deveria não ir a um clube de sexo. Ponto final. Eu penso em alguns ditados que eu e Erin sempre usamos, como “Só se vive uma vez.”, “Prefiro me arrepender das coisas que eu fiz.”, “A vida é muito curta para tantos ‘nãos’.”. Mas nenhum deles vai servir para amenizar a consciência de Stuart.
Alguns homens ao redor começam a chamar por mim. “Me escolha”, eles pedem querendo passar Stuart para trás. Em face à movimentação de concorrentes, Stuart levanta o braço e se prende sozinho na algema, me deixando enrolar seu pescoço enquanto a namorada solta sua mão com raiva.
Quero que ela se foda. Dou um sorriso satisfeito e ando com meus 3 súditos para fora da pista. Enquanto andamos no meio das pessoas alguns homens me tocam como se eu fosse um ser divino, passam a mão em meu corpo e alguns se ajoelham no meu caminho. Não olho pra eles. Minha escolha para a noite já está feita e os guio entre os corredores da parte mais privativa do clube.
A iluminação diminui, a música é abafada e mais baixa e podem-se ouvir gemidos incontidos por toda a parte, de prazer e de dor. Há um grande corredor onde se vê algumas portas de ambientes privativos. Quase todas as portas são de vidro, ou grades como numa prisão, permitindo que as pessoas de fora vejam o que se passa dentro das salas. O cheiro de couro e sexo é carregado no ar.
Erin se adianta à minha frente e entra na sala ao final do corredor. É um quarto inteiro envidraçado, espelhado de forma que, uma vez dentro é impossível ver quem está lá fora. Obviamente quem está de fora consegue assistir pelos vidros. Uma vez que entro puxando os rapazes para dentro pelas correntes, ela fecha a porta, com um ferrolho grande de metal.
– Tirem as roupas. – solto as correntes no chão.
Erin se acomoda num setté suntuoso no canto do quarto, sentada sobre as panturrilhas com um sorriso amplo e divertido enquanto eu escolho um açoite em couro cru em meio ao arsenal de acessórios sádicos perdurados na parede. Quando me viro os dois homens estão nus, parados lado a lado. O namorado esconde os genitais como se estivesse com vergonha, enquanto o homem das cavernas exibicionista flexiona os músculos.
Me aproximo do tímido com os olhos nos dele, pensando se a adrenalina ainda permite que ele pense na namorada que ficou lá fora.
– Qual é a palavra de segurança, namorado? – pergunto a seriamente.
– Eu não sei.
– Escolha uma.
– Vermelho. – ele diz assertivo e eu rio. É a palavra preferida de quem leu 50 tons de cinza.
– Se você gritar vermelho, eu paro. – prometo e ele assente com a cabeça. – Você também, Neandertal.
Os dois concordam e a música aumenta no ambiente.
Pego dois grampos metálicos na parede e volto pra eles, consigo farejar a adrenalina e meu coração dispara vertiginosamente. Me ajoelho em frente ao moreno primeiro e prendo seu saco em um dos grampos, então repito com o loiro. No momento que encosto nele sua ereção se apresenta e ele tenta me tocar. Aperto o grampo com força e ele curva o corpo, lacrimejando.
– Não seja um mau garoto. – digo me levantando. Erin aplaude e se estica no pequeno sofá.
Ato a corrente em seu pescoço e a arrumo como se fosse uma gravata, então abaixo e a prendo no grampo, em seguida algemo suas mãos para trás. Faço o mesmo com o moreno e ordeno que eles se ajoelhem.
– A questão é que eu não gosto de ser desobedecida, garotos. – dou a volta por trás deles. – A ordem é: não se movam. Quanto mais vocês se mexerem, mais vai puxar e mais vai doer.
Olho para Erin e ela já está com o vestido levantado até a barriga e os dedos enterrados dentro de seu corpo. Levanto a mão que segura o açoite e passo a outra por toda a extensão do couro até segurar as tiras das pontas juntas. O relaxamento do meu corpo é instantâneo com este alongamento forçado. Solto as pontas e desço o braço rápido de forma que o couro estala nas costas do loiro.
Ele grita e arqueia o corpo, então grita mais ainda com o puxão em seu saco.
– Merda. – o moreno hiperventila, lutando para puxar o ar com nervosismo.
– Também não gosto que vocês falem. – digo acertando-o com o açoite bem no meio das costas.
Ele se contorce e endireita o corpo para trás, gemendo de dor. Nenhum dos dois usa a palavra de segurança, então eu continuo, alternando entre eles até que eles estejam acostumados com o controle necessário para evitar os puxões em seus genitais, com a dor repetitiva, e com meus golpes. Eu estou suada e extremamente excitada quando os dois aguentam o couro em suas peles sem mover um centímetro do corpo, embora as faces denotem a dor.
Os dois tem vergões altos na pele, mas continuam ajoelhados. Vou até a frente deles e largo o açoite no chão, então começo a me despir até ficar somente com as meias e as botas.
– Levante. – ordeno ao namorado.
Ele obedece com receio, mas sua excitação é evidente. Me aproximo do loiro e coloco uma coxa em seu ombro, enfiando seu rosto na minha púbis, sentindo sua língua brigar com a minha própria umidade. Ele me lambe com tanta vontade que suga meu clitóris e morde meus grandes lábios de uma forma que me faz gemer alto. Coloco os braços ao redor do namorado e o beijo na boca, percorrendo a extensão de seu pau com a minha mão.
– Sua namorada deixa você comer ela por trás? – pergunto num sussurro enquanto minha mão o livra do grampo.
Ele faz um não com a cabeça, estou quase gozando na boca do loiro afobado. Seguro os cabelos dele e enfio seu rosto ainda mais em mim enquanto guio a boca do moreno para os meus seios. Erin geme alto, gozando sozinha. Olho para o espelho, divertida com a imagem dos dois me beijando gulosamente.
Coloco as mãos em suas cabeças e me afasto bruscamente. Livro o loiro do grampo assim que ele levanta, mas mantenho as correntes nos dois. Erin se levanta ainda arfante e enfia os dedos na boca do loiro. Ele suga sua mão freneticamente, então ela coloca uma camisinha cuidadosamente nele e solta suas algemas enquanto eu faço o mesmo com o moreno.
– Sente-se, namorado. – aponto o divã no meio do ambiente.
Ele me obedece e sento em seu colo de costas. Desço devagar sentindo seu pau se enterrando em mim por trás. A dor é delirante. Aperto todos meus músculos sentindo a forma aguda com que meu corpo reage a Stuart. Sim, eu lembro seu nome, mas eu nunca uso nomes, nem o meu.
Ele coloca as mãos nos meus seios e morde minha nuca.
– Você é tão gostosa. – sua voz fala no meu ouvido.
– Cala a boca. – começo a me mover, apertando-o quase até que ele saia de mim e voltando para ele até que minha bunda encontre seus pelos.
Ele pragueja qualquer coisa que me faz ter certeza que não está arrependido de ter escolhido entrar comigo na zona BDSM do clube.
A dor não é pra qualquer um, mas quando se aprende a senti-la intensamente, o prazer é ainda mais enlouquecedor.
Vejo que o loiro preferiu se divertir com Erin e fecho os olhos puxando as correntes do pescoço do namorado pelo meu ombro e sobre minha barriga. Ele as puxa com a mão debaixo da minha coxa até que o metal gelado entre em contato com meu clitóris. Meu gemido é rouco e intenso.
Meus movimentos e a fricção do meu corpo nos elos de aço me fazem arrepiar e as ondas do meu tronco ficam mais intensas, até que ele esteja inteiro dentro de mim, duro e quente. Stuart está maravilhado, gemendo descompassadamente, num prazer que ele não imaginou sentir. É uma descarga emocional poderosa, chegar ao limiar de dor do seu corpo e dominá-lo para que vire uma sensação prazerosa.
Me contraio violentamente num orgasmo profundo. Eu não paro de me mover, alucinada por mais. Mais dor, mais prazer, mais dele, até que ele goza como eu, pulsando dentro de me mim e perdendo o fôlego até tossir. Ele fica relaxado, entorpecido. Nada comparado a uma transa sem sal e normal num beco qualquer.
Aposto que a namorada está acompanhando tudo do vidro ao lado de fora. Quem sabe ela aprendeu algo novo hoje, nem que seja nunca mais pisar em Safeword.
Meu tronco está para frente e minhas mãos agarradas em meus tornozelos, com o cabelo numa onda castanha emaranhada arrastando no chão, enquanto me recupero. É quase um transe, e conforme volto, escuto Erin gritar.
– Sai de cima de mim. – ela parece desesperada.
Minha consciência retorna alerta e me levanto do colo do moreno num salto, sem tempo de sentir meu corpo reclamar os espasmos musculares após o êxtase. Erin tem uma expressão desesperada, em pânico e lágrimas. O loiro parece não entender nada, perdido e confuso com o exagero na reação de Erin. Ela continua chorando e gritando desesperadamente quando puxo seu corpo deitado pra cima e a abraço.
Ela repete “não, não, não...” aterrorizada e a aperto em mim.
– Calma. – peço acariciando seu cabelo. – Saiam daqui. – grito pros dois, que nos olham atônitos.
Um dos seguranças da casa abre uma porta secundária e os dois homens se apressam em se arrumar o melhor que podem antes de deixar o local.
Erin está descontrolada, muito bêbada e fora de si. Eu a acalmo e a deito no sofá, arrumando sua roupa e me vestindo enquanto ela parece mais sossegada.
– Que diabos aconteceu, Erin?
– Eu não sei. – ela fala entre soluços.
– Você quase me matou de susto.
– É Halloween, Italia. É a data certa pra sustos e fantasmas. – ela diz magoada, tampando os olhos com as mãos.
Meu corpo inteiro reage à frase dela. Não pelo que ela disse, mas pelo que ela não disse. As entrelinhas da mente de Erin. Eu saio do quarto sentindo uma fúria crescer dentro de mim.
– Vamos embora. – vejo que ela sai do quarto quando chego ao final do corredor.
Minha cabeça nunca aguentou ver Erin vulnerável, e eu sempre me senti responsável por ela. Eu sei que seu ataque teve a ver com Gavin, com termos reencontrado um fantasma do passado.
– Italia. – Victor, o dono do clube me encontra assim que saio na pista de dança novamente. Ele segura meu braço. – Erin está bem? Alguém a machucou?
– Talvez sim, Victor. Mas não foi hoje. – digo sabendo soar confusa.
– Ela está saindo?
– Sim, vamos embora.
– O homem do ano! – Erin se enrosca no pescoço de Victor e dá um beijo em sua bochecha.
– Eu levo Erin mais tarde, Italia. – Victor segura a bunda de Erin e ela sorri.
Eu olho para minha amiga buscando que ela decida o que quer fazer. Ela não parece bem para passar a noite com Victor, embora ele queira Erin sempre que a vê, independente de seu estado.
– Hoje vou embora com Lia, Vic. – ela decide e agarra minha mão.
Nos despedimos de Victor e agradeço mais uma noite.
– A casa é sua, Italia. Sem você eu não lotaria a casa tanto assim. – Victor pisca pra mim e levanta o copo de Buchanan’s 18 anos como num brinde.
Sorrio e abraço Erin para sair de Safeword. É Halloween, então não tenho problemas em entrar num táxi só de lingerie, já que minha fantasia ficou perdida em algum lugar do clube. Erin deita no meu colo e acaricio seu cabelo.
– Noite louca? – o taxista pergunta simpaticamente.
– O senhor nem imagina. – respondo e olho para Erin enquanto ela fecha os olhos.

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