Safeword

Capítulo 36

Lia

Meu advogado decidiu pedir uma audiência preliminar para explicar pontos conflituosos que podem levar a anulação das acusações contra mim. Segundo ele as provas que me ligam às mortes são circunstanciais, ligadas ao que aconteceu com Erin como motivo, porém nada concreto mostra que estive no apartamento de Gavin ou na casa de Clark.

Eu sou uma mulher que não teria força para vestir Gavin Linden ou colocá-lo na cama na posição que ele foi encontrado. Aí estaria outra inconsistência do caso que Sanchez e McKenzie montaram contra mim. Embora no relatório da promotoria está escrito que eu tenho "práticas pessoais correspondentes à forma que os corpos foram imobilizados segundo as marcas de amarras encontradas", o Dr. Allen parece convencido que é fácil de provar que eu não sou a única pessoa do mundo que gosta de amarrar e torturar pessoas.

– Sem contar os dois detetives. – ele diz com um sorriso malicioso na boca.

– O que têm eles? – levanto as sobrancelhas.

– Conseguiram encaminhar as investigações em informações que você deu fora de depoimento ou entrevista formal, Italia. É a palavra deles contra a sua. Se você negar que se lembre de Erin ter sido estuprada pelos três amigos de faculdade vai parecer uma história fabricada pelos detetives pra legitimar uma causa provável pros assassinatos.

Eu suspiro desanimada e esfrego o rosto nas mãos.

– Isso não é ruim? Mentir sobre algo que eu realmente falei, Bob? – preciso esticar o corpo na cadeira.

– Diga apenas que não se lembra de ter contado isso, e que suas memórias daquela noite são pouco confiáveis. – ele orienta e sacudo a cabeça em concordância. – Amanhã é sexta-feira e antevéspera de ano novo. A juíza Berkley vai estar de bom humor, o que é ótimo pra nós. Anime-se, Italia, estou confiante que todas as acusações serão retiradas. Eu vou manter a história do filho de Mason oculta, como me pediu. Só falaremos nisso se Alex Grandville apontar o caso.

– Ok. Obrigada, Bob.

Eu honestamente espero que ele esteja certo, e forço um sorriso. Giro o celular sobre a mesa quando ele acende com a chegada de uma mensagem de Victor.

> A polícia acabou de sair da minha casa.

>> Por quê?

> Erin. Acho que perceberam que o caso contra você é fraco e mudaram o foco.

Caralho.

Levanto os olhos para Robert Allen e ele não esconde a preocupação com a minha expressão.

– É bom que você concorde com meu plano B, Bob. As coisas acabaram de mudar. – digo sentindo uma onda de adrenalina me percorrer. É como saltar de paraquedas sem a certeza que ele vai abrir.

Bob parece puto que eu tenha dito isso. Que advogado não ficaria, certo? Uma estratégia perfeitamente amarrada em argumentos sólidos e seu cliente quer fazer as coisas de um jeito diferente.

A audiência é uma exceção bem calculada, porque geralmente só o promotor consegue tão rapidamente uma. Mas Robert Allen apelou para a urgência em resolver as pendências antes do réveillon, e no dia 30 de dezembro entro com ele na sala de corte.

Tyler e Rafaella estão sentados lado a lado no último banco e se viram para me observar. Embora eu tente não olhar pros dois, encontro o rosto de Tyler e baixo a cabeça. Não é só meu orgulho ferido que me faz desviar, é a inferioridade da minha posição como acusada de crimes terríveis e todas as coisas que me fazem sentir menos do que ele. É achar que eu não tenho direito de sentir por ele nem metade do que eu sinto, por ele ser tão mais digno do que eu.