Lia
Quando saí da casa de Greg a primeira coisa que fiz foi ligar para Erin, ela já esperava que eu fosse pedir sua presença comigo, mas não imaginava que a discussão com Gregory tivesse acontecido. Eu fiquei furiosa com ele, muito embora ele esteja certo em quase tudo que disse. Eu disse “quase” tudo.
A parte sobre não exigir que eu fosse como suas submissas regulares aconteceria mais cedo ou mais tarde. Porque eu conheço Greg justamente por ser igualzinho a mim. Nenhum de nós consegue ficar longe da natureza selvagem dos nossos pensamentos. Seria impossível como tentar unir dois polos idênticos de um ímã. Iríamos nos repelir até que a distância não fosse recuperável. E uma vez que isso acontecesse nossa amizade estaria igualmente perdida.
Me lembro da raiva que ele direcionou a mim, e de como a minha cabeça é fodida ao ponto de ter sido o momento da noite em que eu o desejei ainda mais. Em vez de satisfazer isso, joguei um sapato nele. Nada dói mais que a verdade, ainda mais quando ela é exposta de forma crua e sem rodeios. Eu realmente me deixo ser amada por quem é inatingível, exatamente pelos motivos que Greg disse.
Nunca, e um nunca muito certo, meu “cara” vai largar a família e sua vida pra exigir que eu me dobre a um relacionamento convencional. Isso funciona pra mim, sem precisar dar satisfação sobre o que estou fazendo ou com quem.
Só que estes conceitos se misturaram um pouco na minha cabeça quando conheci Tyler. Ele me dá satisfação em cair nas minhas armadilhas, corresponde quando o provoco, me dá prazer e carinho de uma forma que eu nem sabia que sentia falta de ter. E eu queria tê-lo mais perto, não fosse, obviamente, o impedimento de termos um ou dois assassinatos entre nós.
“Escolha Tyler”, Greg disse, como se fosse mais digno. De que exatamente? Meu amor não anda valendo muita coisa.
Erin deita na cama comigo enquanto todas estas reflexões saem da minha boca espontaneamente. Omito a parte das suspeitas de Greg sobre Victor. Acho imprudente falar com ela sobre isso enquanto Tyler está trabalhando suas teorias.
– Gregory logo vai reconsiderar esta briga, meu amor. – Erin vira de bruços e acaricia meu cabelo. Ela parece cansada pelo plantão que fez.
– Quero que ele se foda. – desfaço dos meus próprios sentimentos, porque na verdade tenho vontade de ligar pra ele e desfazer o mal entendido entre nós.
Erin ri e reviro os olhos pra ela.
– Quando você viaja? – pergunto porque Erin sempre vai passar o Natal com sua família e é uma época que a deixa um pouco deprimida.
Erin nunca se deu propriamente bem com a família, apesar da convivência ser pacifica. Ela cresceu numa casa com uma madrasta hostil após a morte da mãe, e um pai ausente. A meia irmã, apenas cinco anos mais nova que ela, é insuportável. É quase uma história de Cinderella, não fosse o pai ainda estar vivo, não existirem fadas madrinhas e o príncipe de Erin ser um pervertido dono de clube de sexo.
No mais, ela é mesmo uma princesa loira e linda, com modos delicados e sorriso cativante.
– Provavelmente sábado pela manhã. Vou passar o mínimo de tempo possível lá. – ela responde enrolando um cacho de cabelo nos dedos. – Volto no domingo.
– Você vai estar de plantão na quarta?
– No último dia que Safeword estará aberta antes do Natal? Nunca!
Me estico na cama e sorrio.
– Pervertida. – me viro para Erin e acaricio seu cabelo. – Eu vou me casar com você, meu amor. Assim garanto que meu coração não será nunca alvo de alguém leviano e menos digno.
– Eu aceito, se estiver me pedindo. – Erin sorri lindamente e me encara por alguns segundos. – Eu nunca vou magoar você.
Meu coração se aperta com as memórias despertas durante a tarde. Não sei como falar com ela sobre tudo que eu deveria. Sinto-me culpada em saber que Mason e Gavin a machucaram, que podem tê-la ferido propositalmente. Me lembro de Safeword, após encontrar Gavin, que Erin surtou ao tentar transar com um homem. Ela está aqui jurando que não vai nunca me magoar, e eu fico pensando o que a magoaria mais, saber das minhas suposições ou não saber.
Resolvo seguir pelo menos um dos conselhos de Greg e mantenho a boca fechada por enquanto, até conseguir um pingo a mais de certeza sobre o que Gavin e Mason fizeram a ela. Na última vez que falamos sobre aquele Halloween ela disse não ter memórias bem definidas. Eu também não tenho, mas estou aprendendo a me conectar com elas.
Até lá, o silêncio é mais valioso.
Erin beija minha testa e me abraça.
– Você vai ser Erin Bianchi ou eu serei Italia Campbell? – rio com ela.
– Depende, vamos escolher a família distante que prefere não ter contato conosco ou a que finge que estamos numa propaganda de seguros de vida e somos perfeitamente felizes.
– Escolha difícil entre indiferença e negação.
– Completamente fodida. Vamos juntas os dois e garantir de vez alguns pecados a mais, Italia Bianchi-Campbell. – ela se acomoda no meu ombro.
– É um acordo Erin Campbell-Bianchi. – fecho os olhos, sentindo um sono descomunal tomar conta de mim como as marcas das cordas, ubíquas em meu corpo.
– Durma bem, Lia. Eu te amo. – Erin se levanta devagar da cama e só resmungo um “eu te amo também”.
Apesar de tudo, consigo trabalhar muito bem na terça, sem pensar demais em qualquer uma das coisas que me afligiram durante o dia anterior. Como de costume, eu volto a ser quem eu preciso ser, e embora tenha demonstrado pouco interesse quando Erin mencionou, ao receber a mensagem de Victor sobre ir a Safeword, algo em mim se acende.
Respondo que estarei lá e ele vibra.
Fazer sexo com Tyler sem os joguinhos habituais, e depois com ele e Erin foi incrível. Mas meu interior pede mais. Algo que não está onde Greg quer que eu chegue, e que Tyler não está mais disposto a me dar. Finalmente respondo as mensagens que Tyler me mandou e ele agradece as notícias. Ele não demora muito para atender quando ligo logo depois do almoço.
– Fiquei preocupado com você depois de ontem.
– Eu supero.
– Com Greg. – ele afirma de um jeito azedo e um eco repete o nome de Greg.
– Está escondido no banheiro pra falar comigo, pirata? – brinco e ele ri do outro lado.
– Fugindo de Rafaella Sanchez e seu faro.
– É inútil, ela é uma cadela de caça eficiente. – brinco e Tyler respira fundo. – Desculpe falar assim da sua garota, Ty.
– Ela não é minha garota. – ele diz baixinho.
– Mas quer ser. Basta você dizer as palavras certas. – sorrio divertidamente deitando no sofá do meu escritório.
– Quais palavras?
– Primeiro “eu quero você”, como eu disse pra você. E depois “eu me demito”.
Ele ri do outro lado.
– E pra ter você? – seu tom é sério.
– É sempre a última vez com você. Já foram várias últimas vezes. – descontraio a conversa séria.
– Eu quero você, Lia.
– E você quer Rafaella, Ty? E Erin?
– Sim. – eu gosto da franqueza. Tyler é um homem sincero e isso sempre me atraiu nele. – Mas é você que me deixa louco.
– Fala dela pra mim. – peço levantando a saia e colocando os dedos por dentro da calcinha. Minha respiração fica ofegante.
– Caralho, Lia. – ouço uma batida, aposto que Tyler socou alguma coisa pra descontar a excitação frustrada pela distância. – O que quer que eu diga?
– Ela já te perguntou sobre mim? – começo movimentos circulares do meu clitóris.
– Algumas vezes. Ela está curiosa sobre o que você faz pra enlouquecer os homens. – Tyler respira fundo.
– Está com o pau duro, pirata? O que você disse a ela?
– Eu não consigo definir qual é a origem do que você causa nas pessoas. Brinquei sobre ela ir a Safeword e ver com os próprios olhos. – ele ofega, eu consigo escutar os barulhos da mão de Tyler acariciando seu pau freneticamente.
– A leve a Safeword e eu mostro pessoalmente o que eu faço. – sorrio enfiando os dedos no meu sexo molhado, contendo um gemido na boca.
– Puta merda, Lia. – Tyler geme.
– Goza pra mim, pirata. – peço e fecho os olhos, arrepiada com a imaginação dele trancado em qualquer lugar simplesmente rendido à vontade de foder comigo, precisando de um alívio para o tesão que há entre nós dois.
Eu o escuto arfar.
– Ela é linda, com olhos castanhos expressivos e uma aparência deslumbrante. – digo me lembrando de Sanchez quando ela se permite despir da aspereza. – Leve-a e eu prometo que vou me comportar. Quero ver sua forma contida num lugar meio animalesco.
– Você é perversa, Lia. – escuto Tyler gozando e sinto falta de seu gosto na minha língua.
– Diga, Ty. Amanhã. – peço manhosamente.
– Vou falar com ela.
– Obrigada, pirata.
Desligo o telefone com mais saudade de Tyler do que o habitual. Sua voz já me deixa mais relaxada e o tom jocoso da conversa é delicioso, muito embora eu ache que ele realmente vai falar com Rafaella para ir a Safeword.
Tyler tem menos noção dos limites do que eu mesma. A última pessoa que eu imagino indo a Safeword em busca de um tipo diferente de prazer é Rafaella Sanchez. Na minha concepção, ela é o tipo de pessoa que acredita que clubes de sexo são lugares de pessoas degeneradas e problemáticas. Não que este último não seja verdade. Mas não há como comparar os frequentadores de Safeword às pessoas completamente imorais. Bem, pelo menos aquelas que não são assassinas não dá mesmo pra comparar.
Meu dia passa mais rápido do que eu precisaria para colocar em ordem as tarefas dos dias que fiquei ausente. Quase quando estou de saída, já num horário avançado da noite, recebo uma mensagem.
> Mason está desaparecido. Tome cuidado.
Meu coração dá uma breve disparada e sinto um tremor. Mason desaparecido significa algo bem ruim. Não que eu esteja muito preocupada com a minha própria segurança, mas se Mason estiver morto, Tyler não conseguirá investigá-lo como autor dos homicídios. Particularmente gosto das teorias que me inocentam, mas elas são escassas.
Agradeço e guardo minhas coisas para ir pra casa.
Meu apartamento parece uma zona de guerra, com tudo espalhado pelo chão, coisas quebradas, e nem a mesa arrumada que Cecilie deixou para o meu jantar foi perdoada. A primeira coisa que me lembro é de quando Tyler entrou na minha casa, furioso com as coisas que eu fazia com ele. Mas desta vez é diferente. Não encontro meu pirata gostoso no sofá, só uma sensação de ter sido invadida, um medo tão profundo que me paralisa assim que vejo minha foto com Erin no chão, rasgada.
Ligo para a polícia e desço até a portaria, pedindo ao porteiro as imagens das câmeras de segurança do lado externo do prédio. Qualquer pessoa que tenha feito isso entrou pela escada de incêndio. Ele me mostra que a câmera foi coberta pela maior parte da noite. Obviamente ele não reparou neste detalhe, já que o monitor das câmeras externas fica na lateral de sua posição.
– Isso é ótimo. – é o que Rafaella diz ironicamente quando constata o mesmo que eu sobre as câmeras.
– A câmera foi coberta por trás, impossível ter uma identificação, e ninguém lá fora viu qualquer coisa. – Tyler diz entrando na portaria.
– Alguma coisa sumiu do apartamento? – Rafaella me pergunta.
– Eu não sei dizer. Não fiquei lá tempo suficiente. – respondo e chamo o elevador para subirmos.
– Recomendo que você durma em outro lugar hoje. – ela fala preocupada quando vê a situação do apartamento.
– Talvez a pessoa tenha vindo atrás de você e ficou brava quando não a encontrou. – Tyler observa.
– Não faz nenhum sentido. Os outros crimes foram premeditados, planejados. Isso é ódio. – Rafaella olha ao redor, constatando obviamente que minhas coisas foram lançadas com velocidade e sem direção. – Olhe as coisas com calma, Srta. Bianchi, e veja se falta algo.
É o que eu faço, mas aparentemente o que não está quebrado, está em seu lugar. Tyler observa a foto rasgada no chão. A parte com meu rosto está amassada. A perícia chega e começa a recolher as digitais do apartamento e vou para a casa de Erin. Ela parece mais assustada do que eu e até durmo bem tranquila ao lado de Erin na cama. Isso tem a ver com o fato da foto dela ter sido preservada, e eu saber que, quem quer que seja que está fazendo isso, não quer o mal dela.
No dia seguinte Tyler me informa que não encontraram nada conclusivo. Eu peço para Cecilie receber os rapazes que vão consertar a janela quebrada que foi arrombada e no final do dia posso voltar para casa e tentar descansar antes de Safeword. Acho exagero que Erin me peça para ficar em casa, embora lamente que ela tenha sido escalada para um plantão na última hora e não possa ir.
– Vou ficar bem, peço para Victor mandar notícias de cada passo meu.
– E imagens, por favor? Preciso de uma distração no hospital. – ela pede e rio.
– Cuide-se, Erin, por favor. – peço e ela fica em silêncio um pouquinho.
– Você também, meu amor.
Hábitos antigos não esvanecem com facilidade, é uma das grandes certezas da vida. Não preciso de muito tempo para me sentir em casa em Safeword, com as luzes piscando e o som altíssimo da música eletrônica embalando uma multidão seminua e desejosa de sexo e bebida. Victor vem pessoalmente trazer meu rum e se senta ao meu lado no camarote.
– Há muitas pessoas novas na casa, parece que sua fama tem aumentado.
– Ou a sua publicidade. – brinco com ele sentindo o familiar gosto de especiarias me dominar a língua. Procuro instintivamente por Tyler na multidão.
– Acredito na primeira possibilidade, depois do que você fez no meio da pista de dança com os dois homens, vejo gente implorando pra ser o castigado da vez. Já agora eles não tiram os olhos de você.
– Erin adoraria isso. – falo nela propositalmente e Victor sorri no mesmo instante.
– Ela ficaria fascinada. – ele repara com carinho.
– O que você não faria nunca por Erin, Victor? – me levanto e paro em seu lado.
Victor franze o cenho a princípio. Então suspira e me dá um pequeno e malicioso sorriso.
– O mesmo que você. – ele fala tão seguro que não ouso perguntar mais nada.
Viro o corpo na direção da pista esticando o couro da coleira entre as minhas mãos. Mesmo com as luzes se alternando entre acesas e apagadas eu enxergo o olhar meio perdido e impressionado de Rafaella Sanchez. Tyler aparece logo atrás dela, com a mão em sua cintura, ajudando-a a encontrar espaço até o bar.
Meus dedos se apertam instintivamente no couro preto.
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Safeword
RomanceQuando o detetive Tyler McKenzie é chamado para investigar um homicídio parecia que nada poderia ficar pior em sua vida. Como ele mesmo vai descobrir, as aparências enganam, e as coisa sempre podem piorar. Ele entra no submundo do sexo em Chicago, a...